MARCELO JUCÁ
colaboração para a Livraria da Folha
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Anne Herbauts trabalha com abstratos para tocar o mundo real |
O tempo é um dos principais personagens nas histórias da escritora e ilustradora Anne Herbauts. Em seus livros, ele não tem uma cara, uma voz ou um tamanho específico. O tempo está em tudo, no pedacinho do céu, na construção de uma casa, no florescer de uma árvore. E por trabalhar constantemente com o tema, a autora acredita que suas obras consigam dialogar com temas universais.
Anne Herbauts ainda não é muito popular no Brasil, mas seu trabalho merece atenção. Aplaudida na Europa -- prova deste reconhecimento consta nas duas menções honrosas na Feira do Livro de Bolonha --, e com apenas 34 anos, a autora belga possui apenas um livro publicado por aqui, "A Casa Azul" (Cosac Naify), no entanto, já conta com mais de 20 obras traduzidas para diversos idiomas. Ou seja, é uma questão de tempo para que suas outras histórias cheguem às livrarias nacionais.
Anne tem arrancado elogios da crítica e público pela singular beleza de seus livros, que unem palavras e ilustrações de uma forma pura e tocante. Texto e imagem não se complementam, parece ser algo mais, no sentido mais próprio de fusão mesmo. Como delicadas aquarelas, as cores surgem e puxam palavras que dançam em versos, em vírgulas e sentimentos.
A autora, na verdade, começou seu trabalho como ilustradora, tendo sida até convidada para ilustrar uma versão recente de "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carrol. Contudo, a facilidade com o tema a inspirou a escrever ela mesma alguns versinhos.
Em entrevista à Livraria da Folha, a Anne comenta sobre o seu processo de criação e quais os sentimentos que lhe tomam quando começa a escrever e ilustrar uma obra.
Leia a íntegra da entrevista.
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Livraria da Folha: Anne, quando começou a escrever e ilustrar livros para o público infantil?
Anne Herbauts: Meu amor pelos livros começou no berço, eu acho. Mas eu realmente comecei a escrever e ilustrar álbuns durante a minha pós-graduação em Bruxelas, na Bélgica. Como comecei a publicar muito cedo, o livro foi totalmente instalado em minha vida a partir dos 21 anos.
Livraria da Folha: E você gosta de conversar com as crianças? As conversas inspiram alguns de seus textos?
Anne: Eu amo a imaginação das crianças, sua liberdade de criação e os olhos atentos quando elas fazem alguma pergunta ou algum questionamento. No entanto, eu trabalho sozinha, quero dizer, no momento de criação eu vejo pelos meus olhos e uso da minha imaginação. Eu brinco, construo e interrogo as imagens, e as palavras se movem sozinhas na construção do texto.
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Livraria da Folha: Quais livros infantis lhe encantaram durante a infância?
Anne: Os contos que me fizeram viajar com tanta emoção pelo tempo e o espaço.
Livraria da Folha: Suas ilustrações são muito interessantes, porque elas não são somente para crianças. Elas são uma forma de arte. As crianças reconhecem e falam com você sobre elas?
Anne: De fato, eu me endereço a todos e a tudo. Não faço restrições com os meus livros. Eu escrevo e ilustro como se fosse uma coisa só, e entrego aos leitores. E a criança, ao pegar o livro, faz daquilo o seu próprio universo. Algumas têm mais facilidade do que outras, mas eu jamais obrigo o leitor a seguir um determinado caminho na história dos meus livros.
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Livraria da Folha: Como escolhe o assunto de um livro? Você gosta de tratar de assuntos cotidianos, coisas boas e ruins da vida e dos sentimentos das pessoas?
Anne: Quando eu começo um livro, não me preocupo apenas com o desenrolar da história, mas também o desenrolar de um pensamento mais profundo. Eu tento escrever "no" livro e não uma história que vai ser colocada ali. Tento dizer coisas difíceis de serem expressas. Entre as palavras, está a imagem.
Meu tema preferido é o tempo, e ele aparece de diferentes formas nas minhas obras. E isso facilita que eu entre em contato com temas universais, os sentimentos humanos, a alma de um homem perante o mundo, o espaço, as forças da natureza, o silêncio e os contrastes. O minúsculo e o gigante.
Livraria da Folha: Você se lembra da sua infância? Lia muito, pintava muito? Como era?
Anne: Eu sempre desenhei muito desde criança (e meus familiares confirmam isso!), e os meus pais colocaram livros na minha mão muito cedo também.
Livraria da Folha: Você já leu algum livro infantil brasileiro?
Anne: Eu me recordo de ter visto as imagens ou a tradução de algum livro brasileiro, só que de memória não consigo me lembrar qual era. Mas acho que a literatura infantil é como uma bela árvore florescendo, e é adorável vê-la crescendo, cantando e voando.
Livraria da Folha: Tem alguma coisa - uma cor, uma palavra, um sentimento - que você sempre quer colocar no seu texto?
Anne: Muitas vezes um pássaro, uma cadeira, a árvore. Às vezes, o mar. O vento. Palavras ou imagens. Isto depende. E isto não depende muito de mim, pois elas vêm por si mesmo.
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