Livraria da Folha

 
29/09/2010 - 15h20

"A Fazenda 3" exibe duelo entre "Mofolândia" e "O Império do Grotesco"

SÉRGIO RIPARDO
da Livraria da Folha

Divulgação
Almanaque cita Sérgio Mallandro e Monique Evans
Almanaque cita figuras como Sérgio Mallandro e Monique Evans
Reprodução
"O Império do Grotesco" teoriza sobre fascínio pelo trash na mídia
"O Império do Grotesco" teoriza sobre fascínio pelo trash na mídia

De um lado, veteranos da antiga TV, antes da internet, como Sérgio Mallandro e Monique Evans, citados no almanaque "Mofolândia". Do outro, figuras novatas como Geisy Arruda e Andressa Soares (Mulher Melancia), que ganharam fama graças ao poder da web de difundir conteúdo trash, frutos do chamado "O Império do Grotesco".

Esse duelo entre webcelebridades da era YouTube e nomes do passado deve marcar o começo da atração da Rede Record no último trimestre publicitário do ano. Os velhos testam se suas fórmulas de sempre (bordões, caras e bocas, atitudes infantilóides) ainda seduzem o público consumidor de nostalgias, como os fãs dos anos 80, enquanto os mais jovens se aproveitam dos truques que já funcionaram em arenas virtuais.

Refresque sua memória. "Sérgio Mallandro - Espalhafatoso, subia na bancada de jurados do Show de Calouros para fazer graça com a plateia antes de dar nota: Vai ganhar 50 cru...cru..cruzeiros", lembra o "Mofolândia".

"Você sabia que Monique Evans era a segunda opção da equipe de produção para apresentar o Clube da Criança caso Xuxa recusasse o trabalho?", registra o almanaque de Antonio Carlos Cabrera, o mais atualizado nas livrarias sobre ícones da cultura dos anos 40 aos 90.

Na estreia do programa da Record, a cena de um pavão sendo enxotado de perto da casa por um dos integrantes foi a tradução perfeita do que deverá ser o programa: uma disputa desesperada para ser o protagonista do "reality show" (termo cada vez mais impreciso para algo em que reinam a edição e a roteirização das situações). Ali todos são prisioneiros de suas imagens mais batidas.

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Geisy, por exemplo, sabe que o vitimismo é seu principal trunfo para amolecer corações. Ela saiu do anonimato em vídeos de sucesso no YouTube, em cenas de bullying por causa de um vestido curto numa universidade, figurino que obviamente adotou no primeiro dia do programa. Logo, fez beicinho porque descobriu que não tinha uma cama só para ela. "Isso só acontece comigo", choramingou, até conseguir atenção dos outros integrantes. Sabe "causar", expressão que define sua geração.

Mulher Melancia, que ganhou fama com reportagens sobre funk em vídeos em portais da Globo, também não perdeu tempo, monopolizando o foco com sua peculiar sacudida de ancas. Ela sabe que esse é seu único talento e até faz questão que toquem em suas nádegas, como fez Sérgio Mallandro. O que se esperava dela? Que recitasse poesia ou comentasse o momento eleitoral?

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Livro reúne as cenas mais estranhas da televisão mundial
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Diante de tamanha concorrência, fica difícil para a "titia" Monique Evans, que tem de sempre lembrar os motivos de seu sucesso (vedete do teatro carnavalesco, seminua à frente da bateria de escolas de samba no Rio, apresentadora de atrações eróticas e mais recentemente "repórter de micos" para o "TV Fama"). Sem a juventude de Geisy nem de Andressa, resta a ex-modelo repetir ad infinitum seus tiques e barracos, na obrigação opressora de ser engraçada e soltar abobrinhas.

Pior para Sérgio Mallandro, com 49 anos. Ele não fecha a matraca, numa hiperatividade que deixa o telespectador confuso se isso é um talento ou uma neurose. As brincadeiras e chavões podem até, no primeiro momento, despertar um saudosismo. O dono do bordão glu glu não consegue se libertar de um figurino de infância, de uma alegria artificial de moleque. Dá até para temer quanto à sua sanidade caso se frustre sua derradeira tentativa de voltar a ocupar um espaço profissional na TV de grande alcance.

Os veteranos do trash têm fôlego para manter suas máscaras desgastadas pelo tempo por tantas semanas de programa? Os novatos dessa engrenagem sádica do entretenimento conseguem adicionar alguma novidade ao frágil perfil de suas personas recém-forjadas? São perguntas que importam só por alguns segundos, afinal, o telespectador médio tenta esquecer de sua realidade condenada ao tédio das rotinas. Com um bombardeio de estímulos, como canhões de labaredas, animais exóticos, músicas e situações ridículas, dignas de vergonha alheia, o programa consegue segurar a nossa atenção, na sua guerra santa contra a ex-imperiosa Globo.

 
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