SÉRGIO RIPARDO
colaboração para a Livraria da Folha
"Ronaldo e os Três Travestis" virou best-seller na literatura de cordel em 2009. O folheto do poeta popular João Peron atingiu a marca de 8.000 cópias. Uma tiragem inicial de cordel costuma ser de 1.000 exemplares.
A obra narra, com humor e ficção, o episódio envolvendo o jogador Ronaldo, em abril de 2008, quando o craque foi parar na delegacia após um bate-boca com três travestis em um motel no Rio. Os versos chegam a usar palavras de baixo calão, nada que assuste Saramago, Nobel de Literatura em 1998, que chamou Deus de "filho da puta" em sua última obra ("Caim").
Leia o cordel "Ronaldo e os Três Travestis"
De lá para cá, o atacante se submeteu a um processo de reconstrução de sua imagem na mídia, culminando com sua ida para o Corinthians, a reconquista de contratos publicitários e a superação do caso. Em julho deste ano, morreu de Aids a travesti Andréia Albertini.
Mas a literatura de cordel não esqueceu a história. Em feiras e mercados do Nordeste, o cordel "Ronaldo e os Três Travestis" ainda bomba. No Mercado São José, no Recife, é possível encontrar lojas de artesanato sertanejo que comercializam as folhinhas.
"Neste ano, foi o meu cordel de maior sucesso", diz João Peron à Livraria da Folha.
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Ele é apontado como um promissor cordelista da nova geração. Tem só 25 anos. Nasceu no Recife, mas mora em Santana do Cariri (sul do Ceará) e admite ser bastante influenciado por Patativa do Assaré (1909-2002), símbolo da cultura popular por representar, em seus versos, o lirismo e a perspicácia do homem do sertão.
"O cordel mudou muito. Hoje o público quer dar risada com os temas do cotidiano", afirma Peron, que conheceu Patativa em 2001, em Assaré, cidade também situada na região do Cariri, assim como Santana.
Com a literatura de cordel, Peron consegue sustentar a família de cinco irmãs. Ele já trabalhou como vendedor de cocada e doce de leite. Agora só se dedica às conversas com amigos e às ideias de versos. O poeta popular já lançou 32 títulos e escreve cordel desde os 15 anos.
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Ele se prepara para a forte demanda por cordel em ano de eleição. Em 2010, a crítica política será um dos motes de seu trabalho. A denúncia da corrupção e da impunidade, as perseguições partidárias, o descumprimento de promessas de campanha e a compra de votos vão ser abordados no próximo cordel a ser lançado por Peron no final do ano.
O cordel de Peron é distribuído em 450 pontos pelo Nordeste. Ele imprime a obra em uma gráfica em Juazeiro do Norte, principal cidade do Cariri. O custo é de R$ 1 por folheto, que chega a valer R$ 2 nas feiras.
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