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04/01/2010 - 13h27

Livro infantil reúne histórias divertidas sobre as férias; leia trecho

da Folha Online

Divulgação
Marcelo Coelho conta neste livro várias aventuras fantásticas de férias
Marcelo Coelho conta neste livro várias aventuras fantásticas

Quando criança, o jornalista Marcelo Coelho sempre quis que suas férias fossem repletas de aventuras. Claro que ele nunca encontrou um tesouro perdido ou foi parar num universo mágico. Mas no livro "Minhas Férias", da Companhia das Letras, ele narra divertidas histórias que ele viveu durante suas férias no Guarujá.

Leia abaixo o primeiro capítulo do livro.

*

Roupa Azul

Isto aconteceu quando eu tinha uns onze anos. Meus pais já tinham comprado o apartamento no Guarujá. As férias pareciam sem fim. A gente chegava em dezembro. E até finais de fevereiro era a mesma coisa: a praia de manhã, e de tarde...De tarde, o que fazer?A gente ia até o centrinho. Centrinho era onde ficava a sorveteria, o cinema, um parque de diversões. E a gente...a gente quem? Bom, sempre tinha uns amigos no Guarujá.

Não é que eram bem amigos. Na maior parte das vezes, não eram aqueles amigos que eu queria que estivessem lá. Em geral, o que acontecia é que meus pais tinham amigos que passavam as férias no Guarujá. E esses amigos dos meus pais tinham filhos. Da mesma idade que eu.

Daí que aparece aquela situação ridícula:

-- Nossa, o seu filho tem a mesma idade que o meu.

-- Ah, é? Que bom! Traz ele aqui para brincar com o Marcelo.
Marcelo era eu.

E a amiga da minha mãe, que se chamava Helena, não teve dúvidas:

--Marcelo, este aqui é o Sílvio.

Sílvio era o filho dela. Mais ou menos da mesma idade que eu. Bom, a gente tinha de se entender. Tínhamos de virar amigos. Viramos. O Sílvio até que era legal.

E não tinha nada o que fazer. De tarde, era sempre a mesma coisa. Eu e o Sílvio tomávamos sorvete no centrinho.

Foi quando apareceu a grande novidade. Carrinhos.

Você entrava dentro e dirigia. Aquilo tinha um motor. A gente corria numa pista de verdade, cheia de pneus em volta. Era um pé no acelerador e outro no breque. Um carrinho. Mas era de verdade.

Naquele dia, estava acertado que eu e o Sílvio íamos andar de carrinho. Ele ia aparecer no meu apartamento. E de lá a gente iria até a pista dos carrinhos. Tocou a campainha. Era ele.

Eu nunca tinha ficado tão ansioso esperando o Sílvio aparecer. Abri a porta. O Sílvio estava ali. Só que teve uma coisa.

Ele estava inteiro de azul. Uma roupa gozada.

Calça curta azul, e camisa azul do mesmo tom por cima. Meio ridículo. O chamado conjuntinho. Uma daquelas coisas que as mães no meu tempo achavam uma gracinha. E que a gente detestava. Roupa de criança que fica uma gracinha para quem não é criança.

Eu olhei para o Sílvio. O elástico da calça curta parecia espremer a barriga dele.

Parecia que ele estava achando ridículo também.
O Sílvio me olhou de uma forma diferente. Parecia o olhar de um cachorrinho. Meio assustado, meio dependente.

Foi quando eu tive uma certeza. Percebi uma coisa de repente. No olhar dele.

"Ele está com cara de quem quer fazer cocô."

Não sei dizer por que eu achei isso. Mas ele tinha essa cara. A roupa tão arranjadinha. A vergonha dele. Eu tinha certeza.

Mas eu não disse nada. Afinal, era o grande dia. O dia em que a gente ia estrear os carrinhos. Descemos o elevador. E fomos andando até o centrinho. Entramos na fila para dirigir os carros.

Mas aí o Sílvio fez uma cara de vítima. Não era mais cara de cachorro. Era de vítima mesmo.

E ele disse o que eu sabia que ele ia dizer.

-- Preciso ir no banheiro.

É claro. Aquela roupa já explicava tudo. O elástico na cintura. O azul do conjuntinho.

O azul do conjuntinho parecia a voz da mãe dele dizendo: "Como meu filho fica uma gracinha usando esse conjuntinho".

E era como se alguma coisa dentro do Sílvio dissesse: "Não, eu não fico tão gracinha assim. Só de vestir essa roupa azul me dá vontade de fazer cocô".

Saímos da fila. E onde é que a gente ia arranjar banheiro lá no centrinho de Guarujá?

Ele teve coragem. Entrou numa sorveteria e perguntou onde era o banheiro. Sem nem saber se ia ter papel higiênico ali. Depois, ele saiu do banheiro. A cara de cachorro continuava grudada na cara dele.

Não deve ter sido fácil.

Não andamos de carrinho aquele dia.

Dei graças a Deus de não ser ele.

Se sua mãe inventar de comprar um conjuntinho azul, tome cuidado. Não é roupa de quem vai andar de carrinho. Sua mãe está achando que você ainda está na idade de usar fralda. Mas ela sabe que você não usa mais fralda.

Só que, de repente, a necessidade de usar fralda aparece.

"Minhas Férias"
Autor: Marcelo Coelho
Editora: Publifolha
Páginas: 72
Quanto: R$ 30,00
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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