Livraria da Folha

 
22/01/2010 - 07h24

Ícone do design diz ter orgulho de apenas duas ou três de suas peças; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Veja entrevistas e ilustrações dos grandes nomes do design
Veja entrevistas e ilustrações dos grandes nomes do design

O design gráfico está em todo lugar, e o trabalho dos profissionais da área dá sentido ao que vemos, ouvimos, tocamos e compramos. A qualidade encontrada nas ilustrações e na arte digital chegou a um grau de excelência extremo, não só por conta das inovações tecnológicas relacionadas ao meio, mas, principalmente, em decorrência das mentes criativas dos grandes talentos.

"O Grande Livro da Inspiração" é uma compilação de artigos sobre o assunto, alguns inéditos e outros publicados na revista "Computer Arts Brasil".

As 192 páginas do livro, divididas em cinco capítulos, reúnem mais de 150 imagens de designers e artistas, entrevistas, perfis, projetos inspiradores e portfólio de profissionais renomados.

O capítulo Ícones do Design, por exemplo, traz entrevista com quem, de uma forma ou de outra, revolucionou a linguagem gráfica e materializou a arte digital. Trevor Jackson é um deles. Em seu portfólio ele carrega projetos reconhecidos e admirados no mundo inteiro, que se tornaram referência para quem trabalha no meio.

Leia a entrevista do profissional concedida ao jornalista Garrick Webster reproduzida no livro.

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TREVOR JACKSON

Seu estilo funcional e ao mesmo tempo emocional inspirou uma geração inteira de designer. Descubra por que a paixão de Trevor Jackson por criatividade não se desgasta e está mais forte do que nunca.

Trevor Jackson trabalha há 12 anos em um estúdio na região leste de Londres, na Inglaterra. Foi no mesmo cenário que deu o pontapé inicial em sua carreira e criou os projetos que lhe deram prestígio global. Na entrevista concedida a Garrick Webster, Trevor fala de sua paixão por design, música, arte e cinema.

Reprodução
Trevor Jackson, um dos profissionais que viraram referência para designers do mundo inteiro, trabalhando em seu estúdio em Londres
Trevor Jackson, um dos profissionais que viraram referência para designers do mundo inteiro, trabalhando em seu estúdio em Londres

CA: Como você consegue equilibrar seus trabalhos de design, música e motion?
TJ: A minha empresa é formada apenas por mim. Às vezes chamo algumas pessoas para me ajudar, mas faço a maioria das coisas sozinho, já que não procuro aceitar muitos trabalhos ao mesmo tempo. Decidi há um tempo que prefiro fazer três ou quatro grandes projetos do que 20 pequenos trabalhos que não irão me satisfazer. Nos últimos anos, tenho me dividido entre trabalhos de música e design.

CA: Como os trabalhos de música influenciam os de design e vice-versa?
TJ: Minha vida sempre foi regada a música e arte visual, então os dois elementos sempre coexistiram. Se estou trabalhando em uma capa de um álbum, preciso ouvir as músicas dele - é estranho; sei que isso não acontece com todo mundo, mas sempre me inspiro em música para criar. Só que isso é mais complexo do que parece, porque, quando se é músico, o jeito que você escuta música é diferente; você fica analisando a harmonia, melodia, essas coisas.

CA: E é difícil deixar de fazer isso?
TJ: Nunca tentei deixar de fazer isso. O meu trabalho é a minha vida, 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Tenho certeza de que é a mesma coisa para designers que são apaixonados pelo seu trabalho. Não tenho duas vidas - minha vida é o meu trabalho.

CA: Como você faz para lidar quando não consegue ter ideias para um projeto?
TJ: Isso acontece comigo o tempo todo. Para me livrar disso, costumo viajar no primeiro feriado que aparecer. Descobri que a melhor coisa a se fazer é fugir de tudo. Afinal, eu sou designer há quase 25 anos. No Réveillon de 2008 para 2009 fui para Cuba, lugar que sempre quis conhecer. Por ser músico, normalmente a maioria de minhas viagens envolve meu trabalho nessa área. Mas essa viagem foi a primeira que fiz em que não tinha nada para fazer. Incrível! Limpei a minha mente.

Reprodução
Capa para o projeto musical "Number One": um dos trabalhos executados do designer Trevor Jackson
Capa para o projeto musical "Number One": um dos trabalhos executados do designer Trevor Jackson

CA: De que forma essa viagem inspirou você?
TJ: A única coisa que me frustrou foi que eu deveria estar dizendo mais coisas com o meu trabalho. Os pôsteres políticos de Cuba são um dos maiores e mais importantes exemplos de uso poderoso do design gráfico. Para mim, com a situação terrível do mundo hoje, o fato de poucas pessoas usarem o design para passar uma mensagem efetiva é um crime. Eu adoraria e gostaria de começar a fazer isso.

CA: O que você pensa sobre o status quo do design atual?
TJ: Não dou a mínima para o que acontece no design gráfico. Acho isso entediante, muito entediante. Se você me perguntasse o que me inspira, eu não sairia nomeando designers por aí. Sempre há pessoas, poucas pessoas, que realmente fazem a diferença - normalmente as pessoas querem ser ovelhas e, quando há um movimento diferente, todas essas ovelhas querem ir atrás. É a mesma coisa com softwares e computadores: é muito fácil fazer algo que pareça bom, mas não estou interessado em coisas que apenas pareçam ser boas. É preciso ir mais fundo do que isso, ter um propósito, seja ele intelectual ou emocional.

CA: Em seus trabalhos você tem um objetivo emocional ou intelectual com o observador?
TJ: Minha abordagem é, de longe, mais emocional. Não tento intelectualizar as coisas porque gosto de criações um tanto quanto ingênuas e puras. Se você tentar analisar demais as coisas, a mágica será destruída.

CA: Essa sempre foi a sua abordagem?
TJ: Meus primeiros trabalhos costumavam ser mais divertidos. Em um certo ponto de minha carreira, tomei a decisão de ser mais sofisticado. É algo que acalma a minha cabeça. Tenho mais de 20 mil álbuns no meu estúdio e milhares de livros, mas às vezes tudo isso enche o saco. Para pensar nas coisas de modo simples preciso meditar sobre elas. Isso me acalma e me faz sentir melhor. Hoje há muito ruído visual nos trabalhos - não estou interessado em pessoas que enfiam tudo o que podem em seus trabalhos.

CA: Então o que é o design para você hoje?
TJ: As coisas mais importantes para mim são: a) resolver o briefing, b) me satisfazer e c) experimentar e inovar ao máximo. Não tenho ego de designer. Para mim, não quero enfiar a minha identidade visual em tudo. Sempre tive birra de designers que têm estilo próprio porque acho isso ofensivo para o cliente. Olho para cada um de modo diferente e não acho que eu tenha um estilo próprio.

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Arte do livro para o "Type Directors Club - TDC" publicada na compilação da "Computer Arts"
Arte do livro para o "Type Directors Club - TDC" publicada na compilação da "Computer Arts"

CA: O que será da indústria com o fim do estúdio The Designers Republic?
TJ: Minha carreira começou junto com a deles... Acho isso triste. Não em relação ao Designers Republic, mas boa parte das coisas ruins são baseadas em pessoas que têm muita inveja ou pressa. Tenho certeza de que passarei por muitos altos e baixos ainda, mas lembro que passei pela recessão da década de 1980 e isso foi bom para mim. Normalmente, quando há uma recessão, ela cria um movimento e, se tivermos um novo movimento cultural ou jovem, será incrível.

CA: Com o disco de vinil se tornando objeto de colecionador e o CD vendendo cada vez menos, quais oportunidades há para designers do mercado fonográfico?
TJ: É óbvio que houve uma frustração na mudança de discos de vinil para CDs. Mas, naquela época, como designer, se alguém me pedisse para criar um adesivo de MP3, eu adoraria. Encontraria uma solução para o problema e criaria a melhor arte possível. As bandas continuarão precisando de elementos visuais para se promover. Acho que há muitas terras a explorar.

CA: Como é ser um ícone do design?
TJ: Para ser honesto, eu não mereço esse título. Tenho orgulho de apenas duas ou três peças...
www.trevor-jackson.com

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"O Grande Livro da Inspiração"
Autor: Mário Fittipaldi
Editora: Europa
Páginas: 196
Quanto: R$ 54,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

 
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