Livraria da Folha

 
30/03/2010 - 13h06

Intelectuais debatem tópicos polêmicos sobre o cristianismo; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Intelectais debatem tópicos polêmicos a respeito da religião
Teólogo e analista político discutem principais temas sobre a religião

"Como cristão consagrado que é, Douglas Wilson acredita que o cristianismo é bom e verdadeiro. Como ateu não menos consagrado, Christopher Hitchens acredita que o cristianismo é uma grande mentira e, no fim das contas, algo perverso". As primeiras linhas do prefácio de "O Cristianismo é Bom para o Mundo?" resumem o conteúdo e o espírito do livro, embate acalorado entre dois importantes intelectuais da atualidade.

Em defesa dos valores cristãos, Douglas Wilson, teólogo, pastor de uma igreja cristã e mestre em filosofia. O jornalista britânico e analista político Christopher Hitchens, como autêntico representante do movimento "neoateísta", posiciona-se contrário à ideia de um Deus absoluto.

As principais polêmicas --existência de Deus, explicação para o "mal no mundo", a importância da fé-- figuram como tópicos do livro-debate, lançado pela Garimpo Editorial com um projeto gráfico bem cuidado:

Abaixo, leia um trecho do "Primeiro Round" do livro:

*

De Hitchens para Wilson:

Ao olhar para a questão que se me apresenta (pela qual devo agradecer-lhe sua generosidade e hospitalidade ao solicitar minha resposta), tenho plena certeza de que posso responder na negativa. As razões são estas: 1. Embora o cristianismo seja visto como a fonte (ou se veja como a fonte) de onde se disseminam preceitos morais como "Ama o teu próximo", eu não conheço nenhuma prova de que esses preceitos sejam derivados do cristianismo. Citando um exemplo de cada Testamento, não acredito que os seguidores de
Moisés não se importaram com homicídio, roubo e falso testemunho enquanto não chegaram ao Sinai, e observo que a parábola do bom samaritano revela alguém que, por definição, não podia ser cristão.

Acrescento a esses pontos óbvios que a Regra Áurea é bem
mais antiga que qualquer sistema monoteísta, e nenhuma sociedade humana seria viável ou mesmo concebível sem uma base de solidariedade (o que também abre espaço para o Interesse próprio) entre seus membros. Mesmo que isso não seja de grande relevância para a dimensão ética, eu acrescentaria que nem a fábula de Moisés nem os relatos que os evangelhos fazem de Jesus de Nazaré, com todas as suas enormes discrepâncias, podem afirmar a virtude da veracidade histórica. Tenho consciência de que muitos cristãos também têm dúvidas sobre a veracidade literal desses contos, mas isso é muito mais problema deles do que dificuldade minha. Ainda que eu acreditasse que Jesus nasceu de uma virgem, não consigo pensar como isso constituiria uma prova da divindade de seu pai ou da veracidade de seus ensinamentos. Nem mesmo se eu aceitasse que ele ressuscitou. No Novo Testamento há tantas ressurreições que é difícil depositar minha confiança em alguma delas, e muito menos empregá-las como base para algo tão integral para mim quanto minha moralidade.

2. Muitos dos ensinamentos do cristianismo são imorais, além de inacreditáveis e míticos. Cito principalmente o conceito da redenção vicária, pelo qual a responsabilidade pessoal pode ser transferida a um bode expiatório, sendo, dessa maneira, eliminada. Em meu livro, argumento que posso pagar sua dívida ou até mesmo ir para a prisão em seu lugar, mas não posso absolvê-lo do que você fez. Infelizmente, essa fantasia exorbitante chamada "perdão" anda de mãos dadas com uma advertência igualmente extrema - a saber, a rejeição de uma oferta tão sublime é passível de ser punida com condenação eterna. Nem o Antigo Testamento, que não se intimida em recomendar genocídios, escravidão, mutilações de órgãos genitais e outros horrores, inclina-se a mencionar a tortura dos mortos. Os que contam essas histórias tão horríveis para criancinhas não são condenados por mim, mas pela História e por aqueles que abominam a crueldade cometida contra crianças (fundamento moral presente em todas as culturas).

C.S. Lewis ajuda-me a tornar clara essa ideia, enfatizando que os ensinamentos de Jesus fazem sentido somente se o emissor da mensagem for arauto de um reino dos céus iminente. Se não fosse assim, não seria moralmente arriscado denunciar o uso econômico
do dinheiro, a família e a preocupação com "o dia de amanhã"? Alguns de seus leitores poderão acreditar que esse ensinamento é verdadeiro - no sentido de uma redenção iminente - ou moral. Penso que, para eles, seria difícil acreditar nas duas coisas ao mesmo tempo; e observo também que seus esforços seriam infrutíferos e excessivamente hercúleos (às vezes chamados "fanáticos" em relação ao modo como as duas coisas tracionam em sentidos opostos). Outra maneira de dizer a mesma coisa seria afirmar que, se o cristianismo pretendia nos salvar com seus ensinamentos, ele deveria ter se saído melhor até agora.
E assim passo para meu próximo ponto.

*

" O Cristianismo é Bom para o Mundo "
Autores: Douglas Wilson e Christopher Hitchens
Editora: Garimpo Editorial
Páginas: 80
Quanto: R$ 21,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
Voltar ao topo da página