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Natação
Nadador comove Sydney com estilo 'cachorrinho' nos 100 m livre
20/09/2000 - 03h05
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO enviado especial a Sydney
A mais moderna piscina do mundo, transmissão de TV para 200 países, a desclassificação de dois competidores e a obrigação de cumprir a distância de 100 metros.
O estudante Eric Moussambani, 22, da Guiné Equatorial, aprendeu a nadar em janeiro, em uma piscina de 20 metros.
Seu país ganhara um convite do Comitê Olímpico Internacional para participar do torneio olímpico de natação, e Eric, entusiasmado, resolveu fundar com amigos uma federação local para atender aos protocolos e aproveitar a oportunidade.
Oito meses depois, Eric chegou à Austrália. Foi sua primeira viagem internacional. Desembarcou com mais uma missão: carregar a bandeira do país na cerimónia de abertura, à frente de outros oito membros da delegação, cinco deles árbitros.
Eric mergulhou sozinho, já que os dois rivais de bateria queimaram a largada. Após completar sofrivelmente uma piscina, sentiu-se exaurido e tentado a parar _afinal, jamais havia nadado 100 metros sem intervalo.
As testemunhas, 17 mil torcedores que lotavam o Parque Aquático de Sydney, diante do mais insólito espetáculo desta Olimpíada, ficaram sem opção. Com gritos e aplausos, empurraram o desconhecido pelos 50 metros restantes.
Nem a adoção do estilo "cachorrinho", no final, demoveu o público. E, ao bater a mão na borda da piscina, Eric entrou para os anais da Olimpíada por ter sido o homem que nadou os 100 m livre, a segunda prova mais rápida da natação, com o incrível tempo de 1min52s72 _30 segundos mais lento do que o vencedor dos primeiros Jogos, em 1896, que caiu em águas abertas em uma baía de Atenas.
"Às vezes, ficar em último é melhor do que terminar em quarto lugar", disse Eric à Folha. "Tinha pensado em competir nos 50 m, mas o convite era para os 100 m. Quase não deu. Mas os primeiros 50 metros eu fiz bem. E os outros dois, que nem a hora do mergulho acertaram?"
Talvez não seja o caso de comparar a marca de Eric com a do holandês Pieter van den Hoogenband, obtida horas depois, espetaculares 47s84, o novo recorde mundial.
Mas talvez seja o caso de comparar Eric e Pieter, que ontem, em Sydney, de maneiras diferentes, fizeram história. Ah, e Eric avisou ontem que quer repetir a dose em 2004.
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