Pensata

Kennedy Alencar

30/09/2005

PT e PSDB deveriam se acertar um dia

Leitores enviaram mensagens dizendo que a Pensata da semana passada, cujo título era "Lula caminha para derrota", foi um equívoco. Basicamente, uns disseram que foi um erro avaliar que Aldo Rebelo (PC do B-SP) provavelmente não seria eleito presidente da Câmara. Outros julgaram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deveria mesmo se entender com o PMDB. Alguns acharam catastrofista o título.

Ora, "caminhar para derrota" não significa ser derrotado. Foi uma análise que levou em conta erros políticos cometidos em série por Lula e o PT, além da forma inábil como o governo administra a crise. Nesse contexto, ainda é válido dizer que Lula e o PT "preferem trilhar o caminho da derrota" a evitá-lo. Já deram prova disso em muitos em episódios. Terão de fazer bem mais do que eleger Aldo para superar a crise.

A vitória apertada na Câmara deu a dimensão do tamanho do risco que Lula correu. O presidente quase perdeu a Casa para a oposição. No dia seguinte, fracassou a primeira reunião de Aldo com os líderes partidários, dada a divisão ao meio da Câmara, ainda rescaldo do forte clima de disputa.

Analista político tem a obrigação de descer do muro. Quando tudo pode, fica fácil e chato. E é sempre bom receber e-mails com críticas duras --ajuda a melhorar o trabalho.

Apesar de o presidente não suportar mais o PMDB, fica mantida a avaliação de que, no quadro atual e não no cenário ideal, teria sido melhor tentar um entendimento com Michel Temer e seu complicado partido. Para sair do isolamento político, Lula precisa agregar forças, como parte da ala oposicionista do PMDB, que contava com a simpatia do tucano Aécio Neves, governador de Minas, para tentar eleger Temer presidente da Câmara.

Se Lula tivesse dado ouvidos a Luiz Gushiken e não José Dirceu quando estava no auge do poder, teria tentado algum acordo ainda no governo para fazer uma aliança com o PSDB. A sede de poder do PT nas eleições de 2004 minou essa chance. A crise do mensalão a matou.

Este jornalista mantém a já conhecida avaliação de que acredita que os melhores quadros do país estão no PT e no PSDB, apesar de toda a crise atual e de todas acusações que os tucanos sofreram em oito anos de governo.

Se Lula se reeleger ou se um tucano como José Serra chegar à Presidência em 2006, o Brasil ganhará se tentarem algum tipo de acordo para formar o novo governo.

Se em 2007 houver continuidade do clima de Fla-Flu entre esses dois partidos, quem perderá será o Brasil. E eles terão de negociar muito com o PMDB e o PFL, siglas que têm grande parcela de responsabilidade por nosso atraso.




Lula não aguenta mais o PMDB

O resultado da eleição de Aldo para presidir a Câmara azedou de vez a relação de Lula com o PMDB, inclusive com a ala governista do partido. O presidente acha que paga caro, três ministérios e cargos em estatais, por muito pouco.

Na eleição da Câmara, Aldo derrotou José Thomaz Nonô (PFL-AL) no segundo turno por apenas 15 votos --placar de 258 a 243. Lula esperava vencer com folga de 50. Passou o maior sufoco, como confessou em jantar na quarta-feira à noite (28/09) com ministros e deputados petistas na Granja do Torto. Mas venceu, o que foi bom imaginado o desastre que seria dar a presidência da Câmara ao PFL.

Mas venceu, crê o presidente, porque o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) operou o "rolo compressor" para valer, contando com apoio de outros ministros, como Walfrido Mares Guia (Turismo) e Hélio Costa (Comunicações). A vitória, na avaliação do Palácio do Planalto, veio de um entendimento com o PDT e parcelas do PTB e PP. Se tivesse acreditado na promessa de 60 votos dos atuais 89 deputados federais do PMDB, feita pelo presidente do Senado, o peemedebista Renan Calheiros (AL), Lula não veria Aldo suceder Severino Cavalcanti (PP-PE).

Tem sobrado insatisfação presidencial até em relação ao ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP). Lula avalia que Sarney não trabalha a favor do governo. O ex-presidente rebate nos bastidores, lembrando que sua filha, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), foi convidada para ser articuladora política em março e desconvidada no dia seguinte. Ele faz o que pode e o que considera que o governo mereça.

Em relação à ala oposicionista, Lula diz que simplesmente não consegue confiar nela. Acha que está fechada com o PSDB. Chegou a tentar um entendimento com a candidatura do presidente do partido, Michel Temer (SP), ao comando da Câmara. Mas Renan jogou contra. Como não confiava em Temer, Lula achou melhor correr o risco de tentar eleger Aldo. Acabou dando certo, mas quase não deu.

Lula está no mato sem cachorro. Acredita recuperará cacife para se reeleger. Mas governará com quais forças? Ambígua confederação de caciques regionais, o PMDB é uma legenda sempre disposta a compor com o governo de plantão, trocando cargos pela forte presença congressual. Lula, portanto, precisará dessa sigla para, se obtiver um segundo mandato, formar aliança de governo com os aliados tradicionais do PT, PSB e PC do B. Situação complicada.

A não ser que tente um lance ousado, como reabrir canais com o PSDB após uma campanha eleitoral que promete servir de palco a uma briga dos infernos entre petistas e tucanos.




Aos leitores

Agradeço as mensagens enviadas, sejam críticas, sejam elogiosas. Peço desculpa aos que não recebem respostas. Nem sempre dá para responder a todos. A rotina desta crise tem sido de matar. As mensagens, porém, são guardadas até serem lidas. Algumas são arquivadas. Todas elas ajudam a errar menos.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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