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Diego
Medina
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A
Fifa, que faz as vezes da ONU (Organização das Nações Unidas) no
futebol mundial, tem atuado de maneiras diferentes nos problemas
de suas federa ções. O que não dá para explicar bem são os seus
critérios.
Em alguns casos, rigor é o que não falta à Fifa. O poder
que a máxima entidade do futebol mostra para federações modestas
ou de pouca expressão é extremo. É uma intervenção total.
Exemplos não faltam na África. A Tanzânia, o alvo mais recente
da Fifa, está com o futebol comprometido agora. Tudo porque o governo
do país decidiu colocar ordem em sua federação de futebol, que estava
sendo dominada pela corrupção.
A Tanzânia está suspensa por tempo indeterminado. Sua seleção
teve suas atividades abortadas prontamente (em meio à disputa de
um quadrangular com outras seleções africanas).
No Brasil, pipocam escândalos, denúncias e provas. Quando
a Fifa não finge que está se preocupando com o problema, como nos
casos comprovados de ‘‘gatos’’ em competições internacionais oficiais,
solta ameaças como a que fez na última semana.
Tirar o Brasil da Copa porque o governo pode intervir no
futebol do país? A ameaça deveria ser exatamente inversa.
Não bastasse os problemas internos do futebol brasileiro,
como a destruição de seu principal campeonato, a incompetência e
a calhordice de algumas pessoas ligadas à área têm levado caos para
o esporte em outros países.
A Europa está em pânico agora com jogadores brasileiros.
O zagueiro Júlio César, por exemplo, acaba de chegar a Milão, mas
a imprensa já comenta mais sua ficha que suas qualidades o Milan,
que ainda busca solução para o caso Dida, já vê seu novo zagueiro
como ‘‘gato’’.
A polícia de Portugal está muito mais avançada no caso dos
passaportes falsos de jogadores brasileiros do que as nossas duas
CPIs em Brasília juntas. Inglaterra e Itália também já dominam melhor
o problema que o Brasil, especialmente pela vontade política de
seus governantes.
Os políticos europeus estão atentos às irregularidades no
futebol e suas ações não receberam até agora nenhuma restrição da
Fifa. Por que o movimento dos políticos no Brasil em torno do esporte
estaria sendo contido ainda no início das apurações?
O futebol é uma das atividades que mais dinheiro movimentaram
nas últimas décadas, e a Fifa é a indústria do setor que mais lucrou,
notadamente na gestão de mais de 20 anos do brasileiro João Havelange.
As contas e os contratos da Fifa deveriam ser os primeiros
a serem investigados. Mas não há claramente um país sendo lesado
por esses contratos (apenas alguns dos responsáveis por eles é que
estariam lucrando).
Mais que presidente da CBF, Ricardo Teixeira ocupa posto importante
na Fifa na condição de membro do Comitê Executivo da entidade. Alguns
de seus amigos fora do país e na Fifa, como o argentino Julio Grondona,
adotam práticas parecidas com as que costuma ter no Brasil (especialmente
a perpetuação no poder a qualquer custo).
Não chega a ser surpreendente a posição da Fifa diante da
‘‘caça às bruxas’’ no futebol brasileiro, mas essa posição é mais
do que questionável.
O
mundo do futebol, que mal entendeu os diversos escândalos na época
de Wanderley Luxemburgo, torce pelas nossas CPIs.
NOTAS
Pelé em Wembley
Mais de 600 mil pessoas acompanharam a missa-show em Interlagos
na última semana, que teve transmissão e superexposição pela Globo.
Só 2.000 pessoas acompanharam um lance histórico para o futebol
mundial, a cobrança de pênalti de Pelé, aos 60, em Banks, no apagar
das luzes de Wembley. Isso, acreditem, é explicado pela era da Internet
e da televisão paga.
Eriksson
na Inglaterra
A contratação do técnico sueco Sven Goran Eriksson para dirigir
a seleção inglesa é um marco no futebol mundial, e não só no futebol
britânico. Um trabalho vitorioso dele vai quebrar um dos maiores
tabus da modalidade e poderá criar um efeito dominó, com influência
até no Brasil.
Ouvidos em Brasília
Sem corporativismo, o time de jornalistas que estará indo
depor na CPI deve apresentar bem mais que o grupo de jogadores convocados
(Edmundo é a esperança entre os boleiros).
e-mail:
rbueno@folhasp.com.br
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Superseleção ou supertécnicos?
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