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Domingo, 25 de junho de 2000
Desunião européia

Rodrigo Bueno
     
Diego Medina


A Uefa, a ‘‘união européia de futebol’’, entidade que rege o futebol no Velho Continente, luta e lutará sempre para justificar seu nome. Conseguirá ela um dia?
Mercado Comum Europeu, euro, Eurotúnel, Eurocopa. Tentativas para congregar os diversos países europeus, em todos os aspectos, são muitas. Mas as diferenças históricas entre as seculares nações do continente persistem e parecem não ter fim.
Desde o início da Euro-2000, a grande preocupação era a violência dos hooligans. Assim já foi na Eurocopa passada. Assim será na próxima e na próxima e na outra.
Alguns não entendem como o chamado Primeiro Mundo pode sofrer com torcedores vândalos, com a barbárie e coisas do tipo. Parecem esquecer que as Guerras Mundiais e a maioria das guerras são obras do Primeiro Mundo.
Ingleses, franceses, alemães, espanhóis, iugoslavos, eslovenos, turcos, suecos etc. Todos estão tão perto e tão distantes ao mesmo tempo. Conflitos, rancores, frustrações e preconceitos acompanham as várias nacionalidades européias ao longo dos tempos.
O resultado de tudo isso é notadamente refletido dentro e fora de campo. O mediador Joseph Blatter, suíço que ocupa a presidência da Fifa, sabia como todo mundo que ingleses e alemães entrariam em choque quando suas seleções se enfrentassem na pequena cidade de Charleroi, na Bélgica.
Foram tomadas dezenas de medidas de segurança para a competição. Milhares de policiais nos jogos, ‘‘Robocops’’ nas ruas, fronteiras sob vigilância, cooperação internacional, venda de ingressos superplanejada, proibição de telões em locais públicos, imprensa advertida pelo sensacionalismo. Tanta coisa. Nada adiantou.
Foram dezenas de torcedores presos, deportados e feridos.
Dentro de campo, outros reflexos claros da desunião européia.
A Eslovênia joga como nunca contra a Iugoslávia, da qual fazia parte _a Croácia, outra dissolução iugoslava, já havia mostrado ao mundo, com seu terceiro lugar na Copa-98, do que um sentimento nacionalista é capaz. As seleções dos países que conseguiram há pouco a independência atuam com uma motivação redobrada.
Já a Espanha, ‘‘integrada’’ por catalãos, bascos, galegos, sofre historicamente para conseguir sucesso. Por mais poderosa que seja a seleção espanhola, lhe falta união. Guardiola, por exemplo, atuou mais pela seleção da Catalunha do que pela Espanha nos últimos tempos _vitórias heróicas, como o 4 a 3 sobre a Iugoslávia, de virada, nos acréscimos, só dão uma suavizada no problema.
A Holanda, anfitriã do torneio de futebol mais importante do esperado ano 2000, explicita mais uma vez a questão do racismo. Cruyff, o maior jogador da história do país, astro de uma equipe holandesa que só tinha brancos, critica veementemente a conduta de Davids, o mais efetivo e admirado jogador da atual geração holandesa, repleta de negros.
Por mais que Frank Rijkaard, técnico do time que possui origem surinamesa e que está no cargo exatamente para evitar as diferenças entre seus jogadores, tente amainar a situação, o clima é de desunião de novo na Holanda.
Vencer a Eurocopa é um sonho, assim como é a união européia.


NOTAS

Autoconfiança

As declarações sobre preferências de adversário nas quartas-de-final da Eurocopa-2000 mostram bem a segurança dos times nesta competição. Os espanhóis disseram que seria melhor enfrentar a França do que a Holanda. Os holandeses afirmaram que seria melhor pegar a Iugoslávia do que a Espanha. Os iugoslavos declararam que seria melhor jogar com a França do que com a Holanda. E os franceses, atuais campeões do mundo, falaram que todos os adversários são iguais.

Modéstia

Os turcos, os ‘‘azarões’’ da Euro-2000, disseram antes do jogo de ontem com os portugueses que Portugal tem o melhor time do torneio. Medo Os romenos só falavam de uma coisa antes do jogo de ontem com a Itália: o juiz.


E-mail: rbueno@folhasp.com.br



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