Diego
Medina
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Talvez o colunista aumente agora a injustificada fama de implicar
com Gustavo Kuerten.
Após a convincente vitória de ontem diante de
Jerome Golmard, seria fácil elogiar o brasileiro, mas,
continuando a análise mais profunda da carreira do
astro, a reflexão obrigatória é outra.
Há três semanas, quando esta coluna passou a
ter uma versão ampliada na Internet, numa iniciativa
da Folha Online que agrega todos os colegas deste espaço,
foi lançada uma pergunta aos internautas: Você
acha que Gustavo Kuerten precisa de acompanhamento de um psicólogo
ou Larri Passos pode cumprir essa função?.
A questão foi levantada pelos (já antigos) altos
e baixos de Kuerten durante as partidas e pelas (recentes)
explosões de fúria destruidora contra a raquete
nos fracassos.
A surpresa veio com duas constatações: a boa
participação dos leitores (107 e-mails recebidos,
alguns bem extensos) e uma opção quase total
pela adoção de um profissional para trabalhar
o lado psicológico do tenista.
Dos 107 leitores, 105 acharam que Kuerten precisa de pelo
menos mais uma pessoa junto a ele. A unanimidade escapou por
pouco. E a grande maioria critica a instabilidade crônica
do tenista na quadra.
É interessante que os dois defensores das qualidades
de Passos lembraram, com toda a razão, do ótimo
trabalho do treinador em 1997, quando Kuerten, ainda bem mais
moleque, pareceu crescer psicologicamente a cada partida rumo
ao título, sem ligar para a qualidade ou a experiência
de quem estava do outro lado da rede.
Não resta a menor dúvida. Kuerten e seu treinador
têm laços de amizade muito fortes, é evidente
o sentimento quase paternal, e essa força foi e é
fundamental para o desempenho do atleta.
Agora, como qualquer pessoa que já fez psicanálise
pode confirmar, existem determinados momentos no processo
que a relação de confiança e de apoio
pára de render como antes.
É um tanto arriscado tecer teorias psicológicas
sem estar perto das pessoas envolvidas, mas uma coisa fica
evidente até pela TV. Em vários jogos disputados
nesta temporada, Passos deu a impressão de não
ter seu pupilo nas mãos, como era visível em
outras fases da carreira do atleta.
Continuo
achando que o ambiente da Davis, com aquela comemoração
exagerada de cada game, como um gol no futebol, prejudica
o estado emocional dos atletas. Não ali, na Davis,
quando a adrenalina está a milhão.
Mas depois, nos jogos solitários, com a torcida local
bem comportada. É fácil para o atleta cair numa
sensação de desamparo, sem todo aquele apoio
caloroso. Esta discussão não acabou. Vamos acompanhar
Kuerten nos próximos torneios.
NOTAS
Na
boa
Gustavo Kuerten sacou uma barbaridade contra Jerome Golmard.
Não foi aquele canhão demolidor, mas uma arma
com muitas variações, permitindo o ataque constante
em cima do rival. E ver o brasileiro sacar bem é um
sinal muito animador, já que contusão nas costas,
como a que ele sentiu há algumas semanas, prejudica
o atleta principalmente na hora de sacar. Se depender da amostra
de ontem, o brasileiro pode seguir firme.
Sem
gás
E saque foi o que faltou a Fernando Meligeni diante do argentino
Gaston Gaudio. Apesar de ter um desempenho muito distante
dos canhões do circuito, Meligeni depende muito de
um bom saque para deslocar o adversário e meter as
bolas nos ângulos difíceis que consegue executar.
Sem a força do saque, fica difícil manter um
volume de jogo. Falta gás.
E-mail:
thalesmenezes@uol.com.br
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mais:
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era
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de pressão
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