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Quarta-feira, 10 de maio de 2000

A voz do povo

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Talvez o colunista aumente agora a injustificada fama de implicar com Gustavo Kuerten.

Após a convincente vitória de ontem diante de Jerome Golmard, seria fácil elogiar o brasileiro, mas, continuando a análise mais profunda da carreira do astro, a reflexão obrigatória é outra.

Há três semanas, quando esta coluna passou a ter uma versão ampliada na Internet, numa iniciativa da Folha Online que agrega todos os colegas deste espaço, foi lançada uma pergunta aos internautas: “Você acha que Gustavo Kuerten precisa de acompanhamento de um psicólogo ou Larri Passos pode cumprir essa função?”.

A questão foi levantada pelos (já antigos) altos e baixos de Kuerten durante as partidas e pelas (recentes) explosões de fúria destruidora contra a raquete nos fracassos.

A surpresa veio com duas constatações: a boa participação dos leitores (107 e-mails recebidos, alguns bem extensos) e uma opção quase total pela adoção de um profissional para trabalhar o lado psicológico do tenista.

Dos 107 leitores, 105 acharam que Kuerten precisa de pelo menos mais uma pessoa junto a ele. A unanimidade escapou por pouco. E a grande maioria critica a instabilidade crônica do tenista na quadra.

É interessante que os dois defensores das qualidades de Passos lembraram, com toda a razão, do ótimo trabalho do treinador em 1997, quando Kuerten, ainda bem mais moleque, pareceu crescer psicologicamente a cada partida rumo ao título, sem ligar para a qualidade ou a experiência de quem estava do outro lado da rede.

Não resta a menor dúvida. Kuerten e seu treinador têm laços de amizade muito fortes, é evidente o sentimento quase paternal, e essa força foi e é fundamental para o desempenho do atleta.

Agora, como qualquer pessoa que já fez psicanálise pode confirmar, existem determinados momentos no processo que a relação de confiança e de apoio pára de render como antes.

É um tanto arriscado tecer teorias psicológicas sem estar perto das pessoas envolvidas, mas uma coisa fica evidente até pela TV. Em vários jogos disputados nesta temporada, Passos deu a impressão de não ter seu pupilo nas mãos, como era visível em outras fases da carreira do atleta.

Continuo achando que o ambiente da Davis, com aquela comemoração exagerada de cada game, como um gol no futebol, prejudica o estado emocional dos atletas. Não ali, na Davis, quando a adrenalina está a milhão.

Mas depois, nos jogos solitários, com a torcida local bem comportada. É fácil para o atleta cair numa sensação de desamparo, sem todo aquele apoio caloroso. Esta discussão não acabou. Vamos acompanhar Kuerten nos próximos torneios.



NOTAS

Na boa
Gustavo Kuerten sacou uma barbaridade contra Jerome Golmard. Não foi aquele canhão demolidor, mas uma arma com muitas variações, permitindo o ataque constante em cima do rival. E ver o brasileiro sacar bem é um sinal muito animador, já que contusão nas costas, como a que ele sentiu há algumas semanas, prejudica o atleta principalmente na hora de sacar. Se depender da amostra de ontem, o brasileiro pode seguir firme.


Sem gás
E saque foi o que faltou a Fernando Meligeni diante do argentino Gaston Gaudio. Apesar de ter um desempenho muito distante dos canhões do circuito, Meligeni depende muito de um bom saque para deslocar o adversário e meter as bolas nos ângulos difíceis que consegue executar. Sem a força do saque, fica difícil manter um volume de jogo. Falta gás.



E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



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