Graças a uma nota da semana passada, a coluna foi tomada
por alguns leitores como exemplo de antinacionalismo e pessimismo
contraproducente que nada acrescenta à pátria de 500 anos.
A tal nota comentava que Barrichello, até então, não havia
conseguido superar seus três reais adversários deste ano em
treinos.
A resposta de Barrichello surgiu no mesmo dia, com a pole
em Silverstone, suficiente para que iradas mensagens chegassem
ao colunista cobrando uma retratação.
Seria fácil afirmar que Barrichello terminou a classificação
em primeiro, e o conturbado fim-de-semana de Silverstone apenas
em quarto no campeonato.
Seria fácil também admitir que o jornal de sábado já estava
embrulhando peixe no domingo, talvez a mais conveniente prerrogativa
do jornalismo diário.
Nada disso, porém, interessa a esses leitores, que transformaram
a pole do piloto brasileiro em uma espécie de prova do orgulho
nacional em dia de efeméride.
Algo até coerente diante do fiasco em que se transformou a
festa, organizada por um sujeito que estava com a cabeça a
prêmio e que culminou com o vexame da nau indo a pique junto
com os tantos milhões que consumiu.
Guardadas as devidas proporções, seria possível recordar até
de 1986, quando Senna mostrou a bandeira brasileira na vitória
em Detroit um dia depois da mortal cobrança de pênaltis contra
a França, na Copa do México.
Mas mais do que guardar proporções, correto seria admitir
a falta de proporcionalidade entre esses dois fins-de-semana.
Pelos personagens, pelas circunstâncias.
Também no domingo, a Folha publicou pesquisa Datafolha com
o título "O país do futuro imediato", uma radiografia da auto-estima
nacional. Senna superou Getúlio, Pelé e Tiradentes como o
maior herói brasileiro de todos os tempos.
Barrichello foi lembrado entre os que melhor representariam
a cara do futuro do país (liderados por um sintomático "ninguém"),
com citação mínima, ao lado de figuras como Sasha.
Finalmente, o esporte é e será, disparado, a maior contribuição
do país para o mundo, à frente da música, da TV, da agricultura
etc.
Nesse universo, Barrichello é uma esperança de termos um herói.
E essa esperança varia entre a euforia de vermos um davi superando
golias germânicos no sábado e o desespero/desilusão/desprezo
de constatar conspiração/azar/incompetência no domingo.
Mas Barrichello é apenas o que temos de imediato. E no lugar
de entender essa limitação, vamos, público e mídia, tentar
usurpar esse potencial heroísmo do piloto até as últimas consequências.
A coluna, desde o anúncio da contratação de Barrichello, busca
evitar esse erro, tentando demonstrar e analisar sua real
situação na Ferrari e na própria F-1, que não é tão boa como
apregoam alguns, mas também não é tão ruim como defendem outros.
Barrichello é o quarto e precisa melhorar.
Admitir isso é o primeiro passo.
NOTAS
Domínio
Os resultados dos testes de Barcelona
foram acachapantes. Em todos os dias, sem exceção, a Ferrari
dominou a McLaren, fazendo com que Schumacher até sonhasse
publicamente com a primeira pole do ano. A de Barrichello,
em Silverstone, foi creditada corretamente pela equipe como
fruto de seu esforço pessoal em uma situação adversa _suas
três poles foram obtidas assim.
Diversidade
O que mais impressiona na Indy,
neste ano, é como os resultados, tanto em classificação como
em corrida, estão dispersos até aqui. A razão para isso deve
estar nas diversas alterações de motores e chassis promovidas
pelas equipes para esta temporada. O Rio recebe a prova pela
quinta vez, neste fim-de-semana, mas ainda não conseguiu emplacar
o evento de verdade. E o problema passa, claro, pela quase
ausência da TV na promoção da prova.
E-mail: mariante@uol.com.br
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