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Diego Medina
São estatísticos,
f ísicos,
psicólogos, cientistas. Pessoas atormentadas, indóceis, em busca de
respostas, à procura de perguntas.
No final das contas, têm mais espírito jornalístico do que muito repórter.
Nos últimos anos, esta coluna apresentou alguns desses diletantes
obcecados pelo basquete, como Dean Oliver e Harvey Pollock.
Hoje é a vez do psicólogo e polemista Tom Gilovich, professor em Stanford
(Califórnia).
Em 1985, ele decidiu, do nada, estudar uma das máximas da bola-ao-cesto:
a de que muitas vezes o jogador entra em um tipo de transe e, superconfiante,
passa a acertar todos os arremessos.
Gilovich pediu ajuda a dois matemáticos de Cornell, outra renomada
universidade norte-americana, e apontou para a NBA.
Primeiro, os três se debruçaram sobre os números do Boston, analisando
os lances livres que o time registrou em duas temporadas.
Pela teoria das "mãos quentes", imaginavam, os atletas, quando acertassem
o primeiro arremesso de bonificação, teriam mais facilidade para converter
o seguinte. Feitas as contas, porém, descobriram que o aproveitamento
era igual ao de quando tinham falhado na primeira tentativa: 75%.
Depois, resolveram estender a pesquisa. Entraram em contato com o
Philadelphia, clube da NBA que possui o mais completo centro de coleta
e estudos estatísticos do basquete. Selecionaram e cruzaram os dados
de dois campeonatos completos da equipe.
Os números foram implacáveis. O time chutou com mais eficiência depois
de ter perdido (54%) do que depois de ter acertado um arremesso (51%).
O mesmo aconteceu quando errou os dois (53%, contra 50%) ou os três
tiros anteriores (56%, contra 46%).
Essa relação se repetiu também na avaliação das performances individuais.
Nenhum dos 13 jogadores mostrou de fato "mãos quentes" naqueles torneios.
Gilovich então sentenciou: "A performance de um jogador em um arremesso
independe de seu sucesso no lance anterior".
Os atletas podem até ter a impressão de que estejam embalados, "em
fogo", reconheceu o psicólogo. Ou que se sintam "gelados", predispostos
ao erro. Mas, segundo Gilovich, trata-se apenas de uma questão de
percepção, alimentada pelo entusiasmo dos colegas, da torcida e da
mídia.
É como se o cidadão fosse jogar um "cara ou coroa". Há, sim, uma chance
de ele tirar cinco "coroas" seguidas. Mas, em cem tentativas, é certo
que o número de "coroas" se aproximará ao de "caras" _no caso do basquete,
o que fica é a pontaria média do atleta.
O efeito das cinco "coroas" é conhecido na matemática como ilusão
de "clusters". São aberrações, que, vistas de uma ótica distanciada,
oferecem pouco emoção.
A pesquisa de Stanford e Cornell é inédita e pouco difundida (soube
pelo "Basketball Digest"). Suas conclusões prestam, de certa forma,
uma bela homenagem ao esporte, ao provar que cada arremesso tem uma
vida própria.
NOTAS
Mercúrio 1
Um grupo de estatísticos tentou derrubar as conclusões de Gilovich,
ressalvando que ele tinha analisado equipes (Boston/80 e 81 e Philadelphia/81)
sem cestinhas natos. Refez, então, as contas com um grupo de gênios
do arremesso, Michael Jordan e Larry Bird entre eles. Mas, de 18 escolhidos,
só um passou no teste de "temperatura": Vinnie Johnson, bicampeão
pelo Detroit (89 e 90), apelidado de "Microondas" exatamente pela
facilidade que tinha em "esquentar" seu time.
Mercúrio 2
Quem quiser garimpar a Internet, o estudo de Gilovich foi publicado
sob dois títulos: "The Hot Hand in Basketball: On the Misperception
of Random Sequences" e "How We Know What Isn’t So".
Mercúrio 3
Ah, quanto eu não daria para ter os números de Oscar e Hortência e
traçar o paralelo...
E-mail:
melk@uol.com.br
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18/04/2000
- Joalheria
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