Publifolha
10/09/2008 - 19h56

Buracos negros criados pelo homem podem ser vantajosos; leia Marcelo Gleiser

da Folha Online

Com o início do funcionamento do LHC (Grande Colisor de Hádrons), a supermáquina de colisão de partículas do Cern (Organização Européia de Pesquisa Nuclear), na Suíça, aumenta a expectativa sobre a possibilidade de criação de "miniburacos negros" pelo homem (assim como o temor de que eles possam engolir a Terra).

O físico e colunista da Folha Marcelo Gleiser discute a possibilidade no texto "Buracos negros em miniatura", do livro "Micro Macro 2". (disponível no site da Publifolha). Para Gleiser, a eventual criação de buracos negros pelo homem será positiva. "Isso teria uma série de vantagens, já que poderíamos estudar suas misteriosas propriedades sem ter de recorrer ao auxílio de telescópios ou a viagens espaciais", afirma o cientista.

A Publifolha oferece abaixo a íntegra de "Buracos negros em miniatura", de "Micro Macro 2". Leia e saiba mais sobre esse tema atual da ciência.

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Buracos negros em miniatura

Nenhum objeto na natureza, ao menos no mundo abiótico, é tão misterioso quanto um buraco negro. (Faço a distinção porque, sem dúvida, entre os seres vivos existem várias coisas um tanto estranhas.) Buracos negros são objetos cuja atração gravitacional é tão violenta que nada, nem a luz, pode escapar deles. Daí o nome.

Divulgação
Marcelo Gleiser fala temas que estimulam a inteligência e a fantasia
Marcelo Gleiser fala de temas que estimulam a inteligência e a fantasia

A nossa galáxia, a Via Láctea, tem um em seu centro com massa comparável a 300 milhões de sóis. Mas nem todo buraco negro tem de ser gigante. Eles podem aparecer também em miniatura, menores do que átomos.

Alguns físicos acreditam que eles possam até ser criados no laboratório, em colisões envolvendo partículas subatômicas viajando a velocidades próximas da da luz. Isso teria uma série de vantagens, já que poderíamos estudar suas misteriosas propriedades sem ter de recorrer ao auxílio de telescópios ou a viagens espaciais.

Todo objeto com massa exerce uma atração gravitacional sobre outro. A intensidade dessa atração é proporcional à massa do objeto: mais massa, mais atração. Mas ela também é inversamente proporcional ao quadrado do raio do objeto. Imagine, portanto, uma bola de aço com um metro de raio.

Se encolhermos a bola mantendo sua massa constante (como quando amassamos uma bola de papel) de forma que seu raio chegue a um centímetro, a sua atração gravitacional aumentará 10 mil vezes. Se o raio continuar encolhendo até atingir o chamado raio de Schwarzschild (em homenagem ao físico Karl Schwarzschild, um dos primeiros a trabalhar com a teoria da relatividade enquanto servia na 1ª Guerra), a bola de aço se tornará um buraco negro. Esse raio, para uma massa de uma tonelada, terá um bilionésimo do raio de um núcleo atômico! Você também, leitor, pode ser encolhido até se tornar um buraco negro de dimensões subatômicas.

O problema com o processo acima é que a compressão de objetos macroscópicos a dimensões subnucleares utiliza quantidades absurdas de energia. Portanto, caso queiramos estudar buracos negros em miniatura, teremos de criar novas possibilidades.

Recentemente, físicos de partículas propuseram uma idéia audaciosa, que poderá abrir as portas para a criação de mini-buracos negros. Pouco sabemos sobre a força da gravidade em dimensões subatômicas. Medidas de sua intensidade são limitadas pela sua fraqueza: quanto menor a massa do objeto, mais fraca a força. Atualmente, podemos afirmar apenas que a força obedece à fórmula normal até distâncias que atingem a ordem de um centésimo de milímetro.

O que foi proposto é que vivemos em um espaço com mais de três dimensões, muito pequenas para serem vistas a olho nu. Elas modificam a força da gravidade. Uma das conseqüências é que, dependendo da extensão dessas dimensões, mini-buracos negros podem ser produzidos durante colisões entre partículas subatômicas. Isso porque as dimensões extra não só diminuem a massa do buraco negro como aumentam o seu raio.

Portanto, se duas ou mais partículas tiverem energia suficiente e colidirem em uma região menor do que o raio de Schwarzschild, um mini-buraco negro poderá ser produzido. Não só se criará um objeto que testa os limites da força gravitacional mas também ganhar-se-á informação sobre a existência (ou não) de dimensões extra. Especulação? Pode ser. Mas sem ela a criatividade não vai avante.

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Micro Macro 2
Autor: Marcelo Gleiser
Editora: Publifolha
Páginas: 240
Quanto: R$ 34,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha