Reuters
11/10/2002 - 20h07

Carter quer usar o prêmio Nobel para avançar na luta pela paz

da Reuters, em Atlanta (EUA)

O ex-presidente Jimmy Carter, que ganhou hoje o Nobel da Paz, disse que o prêmio vai inspirá-lo a seguir em frente com sua campanha para promover a paz e os direitos humanos no mundo.

Carter também disse esperar que o prêmio incentive países a trabalhar junto com as Nações Unidas pela manutenção da paz.

"Minha esperança é que esse processo fortaleça, e não enfraqueça, a influência das Nações Unidas e incentive todos os países que têm um problema sério ou preocupação a trabalharem através do Conselho de Segurança, e não começar um conflito ou guerra de maneira independente e unilateral, o que acredito que seria uma violação da lei internacional", disse Carter em entrevista coletiva.

A escolha de Carter pelo comitê do Nobel acontece no momento em que os Estados Unidos se aproximam de um conflito com o Iraque para tentar derrubar seu líder, Saddam Hussein, e soou como uma crítica à posição do governo Bush contra Bagdá.

"Sinto-me muito humilde hoje, e também orgulhoso, porque percebo quantas pessoas compartilham do nosso compromisso. Minha esperança é que esse prêmio seja apreciado por todas elas, que sinto serem parte da minha própria família. E estou especialmente grato a Rosalynn, que é parte de tudo o que fiz", disse Carter, com os olhos cheios de lágrimas.

A mulher de Carter, Rosalynn, trabalha com ele na instituição sem fins lucrativos Carter Center, em Atlanta.

Carter, 78, democrata que foi presidente dos Estados Unidos de 1977 a 1981, devotou grande parte das últimas duas décadas a mediar conflitos em países como Haiti e Coréia do Norte, lutando contra enfermidades no mundo em desenvolvimento e fazendo campanha pelos direitos humanos.

O prêmio é de US$1 milhão.

Iraque
Em entrevista à rede de televisão a cabo CNN, Carter disse que não apoiaria a resolução do Congresso que autoriza a guerra contra o Iraque para desarmar Saddam Hussein.

"Eu votaria não, se estivesse no Senado. Acho que não há maneira de evitar a obrigação de trabalhar através do Conselho de Segurança das Nações Unidas... para forçá-lo...a cumprir completamente as inspeções de maneira ilimitada e garantir a destruição de todas as suas armas de destruição em massa e sua capacidade de produzir armas nucleares no futuro", disse.

Ao selecionar Carter para o prêmio da paz, o Comitê Nobel Norueguês citou sua contribuição aos acordos de Camp David entre Israel e Egito e seu trabalho na mediação de conflitos e na promoção dos direitos humanos ao redor do mundo desde que deixou a Casa Branca.

Derrotado pelo republicano Ronald Reagan na eleição presidencial de 1980, Carter voltou para a vida civil na Georgia, onde fundou o Carter Center para promover "resolução de crises" e direitos humanos.

Nos anos 1980, Carter promoveu negociações entre a Etiópia e rebeldes da Eritréia e liderou uma equipe de observação nas eleições da Nicarágua, em 1990, em que os sandinistas entregaram o poder para a oposição.

Em junho de 1994, Carter viajou por conta própria para a Coréia do Norte e teve uma rara audiência com o reclusivo presidente Kim Il-sung. Ele conseguiu um acordo de Kim para congelar o programa de desenvolvimento nuclear que colocou o país na mira do Ocidente. Isso reativou as moribundas negociações internacionais.

Naquele mesmo ano, Carter viajou ao Haiti - em nome do presidente Bill Clinton - e convenceu os militares que governavam o país a ceder o poder para o presidente exilado Jean-Bertrand Aristide. Isso impediu uma invasão norte-americana.

Clinton e Annan
O escritório do ex-presidente Clinton emitiu um comunicado elogiando a escolha de Carter para o prêmio.

"Não consigo pensar em ninguém mais qualificado para receber o Prêmio Nobel da Paz neste ano do que o presidente Jimmy Carter. Ele continua inspirando pessoas em todos os lugares, jovens e velhos, com sua vigorosa busca pela paz, justiça e melhor qualidade de vida para todos os cidadãos do mundo", disse Clinton.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também elogiou Carter. "Ele é ótimo. Ele merece",disse Annan.

Carter tornou-se recentemente o representante mais importante dos Estados Unidos a visitar Cuba, onde se encontrou com o presidente Fidel Castro e pediu o fim de décadas de embargo norte-americano contra a ilha comunista.

Carter e o ex-presidente da Costa Rica Miguel Angel Rodriguez lideram uma delegação internacional de 55 membros, representando 16 países, que observarão as eleições nacionais da próxima semana na Jamaica.

Carter é o terceiro presidente dos Estados Unidos a receber o Prêmio Nobel da Paz. Os dois anteriores são Woodrow Wilson e Theodore Roosevelt.

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