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11/10/2002
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19h42
O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, laureado hoje com o Prêmio Nobel da Paz 2002, enfatizou sua política externa nos direitos humanos, enfrentando-se com os militares que governavam quase toda a América Latina e provocando a incredulidade da esquerda da região, acostumada com uma Washington indiferente e até cúmplice dos ditadores e de seus abusos.
O democrata Carter (1977-1980) instruiu seus funcionários para que registrassem e confrontassem os abusos contra os direitos humanos na região, impôs um embargo à venda de armas aos governos militares, incentivou a criação de escritórios de interesses mútuos em Havana e Washington, e firmou os tratados do Canal do Panamá, entre outras medidas que lhe granjearam simpatias na região.
"Jimmy Carter foi e é um dos líderes norte-americanos mais populares da América Latina, e merece o Nobel, porque sua política deu ao departamento de Estado um princípio organizador que incentivava a democracia, e nos permite guardar distância com os ditadores", disse Robert White, embaixador dos EUA no Paraguai e El Salvador do final dos anos 70 até o começo dos 80.
Carter chegou à presidência com uma mensagem idealista depois do escândalo de Watergate que provocou a renúncia de Richard Nixon em agosto de 1974 e a humilhante retirada militar do Vietnã oito meses depois.
Em sua campanha criticou o apoio do ex-presidente Gerald Ford e o secretário de Estado Henry Kissinger à ditadura de Augusto Pinochet no Chile (1973-1990), e prometeu uma política mais respeitosa para com a América Latina.
Uma de suas primeiras medidas como presidente foi modificar o orçamento de Ford, para reduzir a ajuda às ditaduras da Argentina e Uruguai por suas violações aos direitos humanos, enviando um claro sinal aos países vizinhos.
Aproximação com Cuba
Carter - o primeiro presidente norte-americano a falar um pouco de espanhol desde Thomas Jefferson - também buscou oportunidades para defender a democracia no hemisfério.
Ele tentou aproximar-se de Cuba, ainda que sua vontade tenha sido freada pela recusa de Fidel Castro de reduzir a presença militar cubana na África. Os dois governos decidiram em setembro de 1977 estabelecer seções de interesses, e não reabrir embaixadas, o que significaria manter laços diplomáticos.
O governo Carter também enfrentou o ditador nicaraguense Anastasio Somoza e terminou cortando toda ajuda à Nicarágua e reduzindo a dotação de sua embaixada em Manágua pela metade.
Antes do clímax da revolução sandinista, Carter intensificou seus esforços na América Central.
Não teve sorte na Guatemala, governada por militares, e ainda que a política de El Salvador tenha começado a se abrir em 1979, seus esforços foram frustrados por causa dos atrozes assassinatos cometidos pelos esquadrões da morte direitistas, entre os quais o arcebispo Oscar Arnulfo Romero.
Carter continuou se envolvendo na região através do centro de estudos políticos que leva seu nome, fazendo às vezes de mediador no Haiti e participando como observador em eleições no México, Peru, Nicarágua e Venezuela, entre outros.
Em maio de 2002, se transformou no primeiro ex-presidente norte-americano a visitar Havana desde a chegada de Castro ao poder, em 1959, criticou mais uma vez o embargo americano imposto à ilha em 1960 e defendeu uma abertura de seu regime.
Meses depois, Carter viaja a Caracas para buscar uma solução para a crise política que o presidente Hugo Chávez enfrenta com a oposição.
"Seu programa [de governo] teve um impacto monumental na política externa na América Latina e no desenvolvimento das democracias latino-americanas", afirmou White.
Robert White, que preside atualmente o centro de Política Internacional de Washington, lamentou no entanto que "os presidente que o sucederam não deram a mesma prioridade aos direitos humanos".
Em El Salvador, por exemplo, suas conquistas "foram imediatamente revertidas pelo presidente Ronald Reagan e sua administração", que enfatizaram a luta contra-revoluvionária, concluiu.
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Carter é engajado na luta pelos Direitos Humanos na América Latina
da France Presse, em WashingtonO ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, laureado hoje com o Prêmio Nobel da Paz 2002, enfatizou sua política externa nos direitos humanos, enfrentando-se com os militares que governavam quase toda a América Latina e provocando a incredulidade da esquerda da região, acostumada com uma Washington indiferente e até cúmplice dos ditadores e de seus abusos.
O democrata Carter (1977-1980) instruiu seus funcionários para que registrassem e confrontassem os abusos contra os direitos humanos na região, impôs um embargo à venda de armas aos governos militares, incentivou a criação de escritórios de interesses mútuos em Havana e Washington, e firmou os tratados do Canal do Panamá, entre outras medidas que lhe granjearam simpatias na região.
"Jimmy Carter foi e é um dos líderes norte-americanos mais populares da América Latina, e merece o Nobel, porque sua política deu ao departamento de Estado um princípio organizador que incentivava a democracia, e nos permite guardar distância com os ditadores", disse Robert White, embaixador dos EUA no Paraguai e El Salvador do final dos anos 70 até o começo dos 80.
Carter chegou à presidência com uma mensagem idealista depois do escândalo de Watergate que provocou a renúncia de Richard Nixon em agosto de 1974 e a humilhante retirada militar do Vietnã oito meses depois.
Em sua campanha criticou o apoio do ex-presidente Gerald Ford e o secretário de Estado Henry Kissinger à ditadura de Augusto Pinochet no Chile (1973-1990), e prometeu uma política mais respeitosa para com a América Latina.
Uma de suas primeiras medidas como presidente foi modificar o orçamento de Ford, para reduzir a ajuda às ditaduras da Argentina e Uruguai por suas violações aos direitos humanos, enviando um claro sinal aos países vizinhos.
Aproximação com Cuba
Carter - o primeiro presidente norte-americano a falar um pouco de espanhol desde Thomas Jefferson - também buscou oportunidades para defender a democracia no hemisfério.
Ele tentou aproximar-se de Cuba, ainda que sua vontade tenha sido freada pela recusa de Fidel Castro de reduzir a presença militar cubana na África. Os dois governos decidiram em setembro de 1977 estabelecer seções de interesses, e não reabrir embaixadas, o que significaria manter laços diplomáticos.
O governo Carter também enfrentou o ditador nicaraguense Anastasio Somoza e terminou cortando toda ajuda à Nicarágua e reduzindo a dotação de sua embaixada em Manágua pela metade.
Antes do clímax da revolução sandinista, Carter intensificou seus esforços na América Central.
Não teve sorte na Guatemala, governada por militares, e ainda que a política de El Salvador tenha começado a se abrir em 1979, seus esforços foram frustrados por causa dos atrozes assassinatos cometidos pelos esquadrões da morte direitistas, entre os quais o arcebispo Oscar Arnulfo Romero.
Carter continuou se envolvendo na região através do centro de estudos políticos que leva seu nome, fazendo às vezes de mediador no Haiti e participando como observador em eleições no México, Peru, Nicarágua e Venezuela, entre outros.
Em maio de 2002, se transformou no primeiro ex-presidente norte-americano a visitar Havana desde a chegada de Castro ao poder, em 1959, criticou mais uma vez o embargo americano imposto à ilha em 1960 e defendeu uma abertura de seu regime.
Meses depois, Carter viaja a Caracas para buscar uma solução para a crise política que o presidente Hugo Chávez enfrenta com a oposição.
"Seu programa [de governo] teve um impacto monumental na política externa na América Latina e no desenvolvimento das democracias latino-americanas", afirmou White.
Robert White, que preside atualmente o centro de Política Internacional de Washington, lamentou no entanto que "os presidente que o sucederam não deram a mesma prioridade aos direitos humanos".
Em El Salvador, por exemplo, suas conquistas "foram imediatamente revertidas pelo presidente Ronald Reagan e sua administração", que enfatizaram a luta contra-revoluvionária, concluiu.
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