Polêmica sobre clonagem pode prejudicar pesquisas
da Reuters, em LondresAs empresas farmacêuticas pioneiras no uso de células-tronco no tratamento de doenças incuráveis estão se mobilizando para defender a pesquisa da clonagem, em meio à polêmica causada pelos anúncios da seita Movimento Raeliano, que afirma ter criado dois bebês clonados.
A indústria teme que uma reação contra todo tipo de clonagem --reprodutiva e terapêutica-- possa colocar em risco a pesquisa de novas técnicas de tratamento para doenças graves, como cardíacas, diabetes e males de Parkinson e de Alzheimer.
"Isso pode fazer a opinião pública pressionar para que se tomem providências urgentes contra a clonagem reprodutiva, o que não nos incomodaria", afirmou Simon Best, presidente do comitê bioético da Organização da Indústria de Biotecnologia dos Estados Unidos.
"Mas, nos Estados Unidos, esse é um assunto muito politizado e podem aumentar os esforços para reintroduzir no Senado a legislação proibindo todo e qualquer tipo de clonagem, e isso seria preocupante", afirmou.
Best, executivo-chefe do órgão escocês Ardana Biociências, acredita que leve várias semanas até que o mundo saiba se o anúncio de clonagem feito pelos raelianos --os quais acreditam que a raça humana foi criada por alienígenas-- foi algo mais que um golpe publicitário.
Mas há o risco de que o pânico acabe eliminando a diferença entre a clonagem reprodutiva --criar bebês que sejam geneticamente idênticos a outros indivíduos-- e a terapêutica, na qual são criados embriões para que os cientistas possam extrair deles as células-tronco.
"Aqueles que não sabem a diferença vão colocar tudo no mesmo balaio. Acho que vai haver um bocado de reações negativas", disse Larissa Thomas, consultora de biotecnologia em Londres.
As células-tronco têm sido aclamadas como revolucionárias por causa de sua habilidade de, teoricamente, recriar tecidos danificados. Elas poderiam ser usadas para remendar músculos do coração danificados depois de ataques cardíacos ou para formar novos neurônios nos cérebros de portadores de Parkinson e Alzheimer.
Para diabéticos, as células-tronco podem ser uma fonte de novas células de ilhotas, localizadas no pâncreas.
Mas a tecnologia permanece em um estágio muito inicial e as empresas farmacêuticas têm sofrido uma série de reveses. Trevor Jones, presidente da maior companhia de células-tronco da Europa, a ReNeuron, acredita que o primeiro tratamento com essa tecnologia só estará disponível dentro de cinco anos para algum distúrbio raro, como a doença de Huntingdon.
Além de provar que a terapia com células-tronco funciona, as empresas também precisam assegurar aos órgãos reguladores, como a Food and Drug Administration (órgão regulador de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos), que podem produzir lotes uniformes e seguros.
Células-tronco podem desencadear a mesma rejeição que acontece nos transplantes de rim e de coração, e sua proliferação incontrolável poderia espalhar um câncer.
Uma opção é usar essa tecnologia para produzir células-tronco feitas sob medida para o perfil genético de um indivíduo. Mas a tecnologia é cara. Outras possibilidades incluem colher células-tronco de fetos abortados ou mesmo de adultos.
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