Gutiérrez promete combater corrupção e pobreza no Equador
da Reuters, em Quito (Equador)O coronel aposentado Lucio Gutiérrez assumiu hoje a Presidência do Equador, prometendo uma cruzada contra a corrupção e a crescente pobreza, embora tenha herdado uma economia vulnerável e vá enfrentar uma oposição férrea.
Reuters - 15.jan.2002 |
Lucio Gutiérrez, presidente do Equador |
Gutiérrez, 45, irrompeu abruptamente no cenário político depois de protagonizar, junto com grupos indígenas e alguns militares, uma revolta que em 21 de janeiro de 2000 pôs fim ao governo da administração do presidente Jamil Mahuad.
A posse de Gutiérrez, a seis dias do terceiro aniversário da revolta, marca a ascensão ao poder de representantes indígenas e de movimentos de esquerda, tradicionalmente marginalizados no círculo do poder do país andino.
O novo presidente chegou ao cargo com o apoio de 2,7 milhões de eleitores que confiaram em sua promessa de erradicar a corrupção, que consome cerca de US$ 2 bilhões ao ano no país, e reduzir as sequelas da pobreza, que castiga seis em cada dez equatorianos.
Vestindo um terno azul escuro e gravata salmão, Gutiérrez se comprometeu a manter a economia nos trilhos e a lançar uma reforma política para garantir a governabilidade no Equador.
Entretanto, em uma tentativa de conter as expectativas sobre o novo governo, Gutiérrez pediu paciência e apoio para conquistar as mudanças pregadas durante a campanha, cujos resultados, segundo ele, serão vistos em médio prazo.
"O Equador votou por uma mudança, uma mudança radical de 180 graus, porque sem mudança não há esperança", disse.
A posse do novo presidente equatoriano foi acompanhada por sete presidentes latino-americanos, incluindo Luiz Inácio Lula da Silva e os mandatários de Cuba, Fidel Castro, Venezuela, Hugo Chávez, e Colômbia, Alvaro Uribe. Os Estados Unidos mandaram seu enviado especial para a América Latina, Otto Reich, para participar da cerimônia de posse.
Dívida e reforma política
O Equador adotou o dólar norte-americano como moeda em 2000, em meio a uma crise que levou à moratória de sua dívida externa no ano anterior. Após a mudança, a economia cresceu e a inflação caiu em 2002 para o menor nível já registrado desde 1972.
No entanto, um crescente gasto público colocou em perigo a estabilidade econômica, o que leva analistas a anunciar a necessidade da adoção de medidas impopulares, como a eliminação de subsídios e alta nos preços dos combustíveis para equilibrar o sistema fiscal.
A adoção ou não das medidas previstas em um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) -que teria um alto custo político- marcará a orientação do programa econômico de Gutiérrez, que será discutido com uma missão do organismo que chegará em Quito no sábado (18).
Gutiérrez declarou que sua orientação será o crescimento econômico, mas pediu aos credores da dívida externa um alívio nos pagamentos a fim de amenizar os impactos sociais no país.
A dívida externa do Equador está estimada em US$ 11,32 bilhões, ou 46% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Lançamos um grito desesperado [...]. Não podemos desenvolver nosso país pagando pela dívida externa porcentagens de cerca de 40% da receita geral", afirmou o novo presidente. Ele, no entanto, não citou qual mecanismo será aplicado para enfrentar o problema.
Além de sua luta econômica, Gutiérrez quer liderar uma reforma para reduzir o poder do Parlamento de cem membros e reorganizar as cortes locais, ações rejeitadas pelos partidos políticos tradicionais, abatidos com o triunfo do militar aposentado.
Ante um possível bloqueio a sua proposta, que deve ser enviada ao Parlamento nos próximos dias, Gutiérrez considera a opção de convocar uma consulta popular que ameaça se converter em uma batalha contra os partidos tradicionais que dominam o Congresso e outros centros de poder.
Para o novo governo, Gutiérrez formou um gabinete com um perfil ideológico diverso, que abrange militares aposentados, indígenas, mulheres e economistas ortodoxos.
A cerimônia de posse ocorreu em clima de grande festa, já que milhares de simpatizantes de Gutiérrez chegaram de diversas partes do país para assistir o ato no principal estádio de Quito.
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