Reuters
14/02/2003 - 08h31

Para diplomatas, relatório dirá que Iraque não ajudou totalmente

da Reuters, em Nova York

Os inspetores-chefes de armas da ONU (Organização das Nações Unidas) devem dizer hoje ao Conselho de Segurança que o Iraque não cooperou completamente com o trabalho de desarmamento, mas não devem chegar a afirmar que o país violou as ordens da ONU de desarmar-se, como querem os Estados Unidos, segundo diplomatas.

Os termos empregados por Hans Blix e Mohamed ElBaradei serão cruciais para determinar se o Conselho de Segurança vai ampliar as inspeções ou apoiar os Estados Unidos e o Reino Unido numa guerra.

Fotomontagem
Hans Blix (esq.) e Mohamed ElBaradei, inspetores-chefes de desarmamento da ONU
Ontem, ElBaradei, que chefia a busca por armas nucleares, disse que, na sua opinião, as inspeções devem prosseguir por mais alguns meses, desde que o Iraque coopere. Blix, responsável pela parte de mísseis balísticos e armas químicas e biológicas, não quis fazer previsões.

"O Iraque ainda tem uma chance de se livrar, mas o tempo urge. Eles não vão conseguir se não cooperarem cem por cento", declarou ElBaradei.

O que está em jogo é se os Estados Unidos e o Reino Unido conseguirão aprovar, após o relatório de hoje, uma resolução que autorize implícita ou explicitamente a guerra. Os britânicos têm especial interesse em conseguir legitimidade para um ataque.

Até agora, os outros três países com poder de veto no Conselho de Segurança (França, Rússia e China) preferem triplicar o número de inspetores e enviar tropas internacionais para vigiar locais suspeitos no Iraque. Alemanha, Síria e outros membros temporários do Conselho de Segurança apóiam essa idéia.

A reação ao relatório dos inspetores será imediata, já que logo em seguida à sua apresentação, marcada para 13h15 (horário de Brasília), haverá um debate envolvendo os chanceleres de pelo menos nove dos 15 países representados do Conselho de Segurança.

Os Estados Unidos e o Reino Unido esperam conseguir pelo menos nove votos no Conselho de Segurança, mas mesmo assim ainda podem sofrer um veto. Já a França espera que esse quórum não seja alcançado, para que não seja ela a responsável pelo veto à resolução que autoriza a guerra.

A resolução deve ser apresentada já neste fim de semana ou, o mais provável, a partir da próxima semana.

Ao desembarcar em Nova York, o chanceler russo, Igor Ivanov, disse que "não há necessidade no momento de aprovar uma segunda, uma terceira ou uma quarta resolução sobre o Iraque". "À nossa frente há problemas cuja solução será difícil. A comunidade internacional não deve se dividir, e sim se unir", afirmou.

Blix
Analistas dizem que o mais importante serão as declarações de Blix. Segundo fontes da ONU, ele deve falar de algumas áreas cinzentas e mencionar pontos em que o Iraque colaborou e outros em que não.

Sobre a recente descoberta de mísseis com alcance superior ao permitido pela ONU, Blix deve dizer que, apesar de aparentemente ter violado as ordens da ONU, o Iraque merece uma chance para se justificar, antes que o material seja destruído.

Blix e ElBaradei também devem comentar sua viagem do último fim de semana a Bagdá, onde conseguiram autorização para entrevistar a sós cientistas iraquianos e para usar aviões espiões U-2 nas inspeções. Eles também deixaram Bagdá com a promessa de que o governo aprovará uma lei proibindo armas de destruição em massa.

O Iraque impôs algumas condições para o uso dos U-2, mas Blix deve considerá-las apenas como sugestões.

Washington e Londres vêem a questão dos mísseis com alcance proibido como o possível pretexto para o início de uma guerra. Em uma cerimônia militar na Flórida, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse que agora caberá à ONU decidir se acredita ou não nos argumentos norte-americanos.

Leia mais
  • Rússia se opõe a uma nova resolução sobre Iraque
  • Arafat aceita nomear um primeiro-ministro palestino
  • Coréia do Norte rejeita decisão sobre crise nuclear
  • Governo da Bolívia nega culpa em mortes
  • Japão pede que seus cidadãos abandonem Iraque


     
  • FolhaShop

    Digite produto
    ou marca