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SAÚDE
Ativistas do setor e acadêmicos reclamam da falta de registros e de documentos oficiais onde conste a cor
Chance de morrer na infância varia de uma raça para outra
MICHAEL MOGENSEN
DA EQUIPE DE TRAINEES
O risco de morte para os recém-nascidos negros é o
mesmo verificado mais de
15 anos atrás para os recém-nascidos brancos. O risco de morte das
mães negras pode ser até sete vezes maior que o risco da morte
das brancas. Hoje, a expectativa
de vida para os negros é menor
que a expectativa de vida estimada para os brancos 20 anos atrás.
Nas última décadas, o país diminuiu as taxas de mortalidade, particularmente dos recém-nascidos.
A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 87 mortes por 1.000,
em 1977, para 35 em 1999. Mas a
diminuição dessa incidência entre os brancos foi da ordem de
43%, enquanto entre os negros recém-nascidos a queda foi de 25%.
A pesquisadora Estela María da
Cunha, do Núcleo de Estudos da
População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas, trabalhou com dados que registram a
mortalidade infantil e a cor para
analisar a diferença na taxa de
mortalidade entre brancos e negros. O resultado dessas análises
mostram não só a manutenção da
diferença na mortalidade segundo a cor, mas seu agravamento.
As desigualdades entre os grupos se acentuaram ao longo do
tempo. Os estudos mostram que,
enquanto a diferença entre os níveis de mortalidade infantil de
brancos e negros era de 21%, segundo dados do Censo de 1980,
quase 20 anos depois esse valor
praticamente dobrou para 40%.
Mortalidade materna
E não é só a taxa de mortalidade
infantil que mostra a desigualdade. Entre 1993 e 1998, Alaerte
Leandro Martins, presidente do
Comitê Estadual de Prevenção da
Mortalidade Materna do Paraná,
baseou-se em alguns dos poucos
dados nos quais constam cor e
mortalidade materna para analisar a morte de 956 mulheres. A
pesquisa revela que o risco relativo de morte das negras por causas
ligadas à maternidade foi 7,4 vezes maior que das brancas.
No Brasil a causa principal da
morte materna é por hipertensão
não tratada durante a gravidez.
Os negros têm predisposição biológica para hipertensão e o precário acesso aos serviços de saúde
por parte de muitas mães negras
pode ajudar a agravar a situação.
Expectativa de vida
Embora as taxas de mortalidade
diminuam e a expectativa de vida
ao nascer (média de anos a viver)
aumente para brancos e negros, a
brecha entre a expectativa dos
dois grupos se mantém. Os brasileiros em geral vivem por mais
tempo, mas as estatísticas mostram que os negros morrem, na
média, mais cedo que os brancos.
Baseados em dados do IBGE, o
pesquisador Marcelo Paixão da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro estima que entre 1940 e
1950 a diferença na expectativa de
vida dos negros e dos brancos foi
de sete anos, uma diferença mantida até hoje em dia.
Quando se faz intervir a variável
gênero, a expectativa de vida do
homem negro em 1997 foi de só
62 anos. É quatro anos menor que
a expectativa de vida do homem
branco na década de 70 e comparável ao homem da Guiana, um
dos países mais pobres do continente sul americano.
A mulher negra, embora tenha
uma expectativa de vida maior
que a do homem negro, perde para o homem branco nesse índice.
Em 1997 a expectativa de vida da
mulher negra era 66 anos, três
anos menos que o homem branco
e oito meses abaixo da média nacional do país.
Pesquisadores e ativistas da área
de saúde ouvidos pela Folha consideram que o quadro pode ser
mais dramático -o tamanho do
problema estaria sendo mascarado pela falta de estatísticas oficiais. Para a médica clínica e ativista de saúde, Maria de Fátima
Oliveira, o fato de que registros e
formulários usados no sistema de
saúde raramente incluem o quesito cor torna ainda mais difícil o
reconhecimento do problema.
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