São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001
 

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POLÍTICA

Preconceito é apontado como causa para baixo número de negros no poder, pois impediria ascensão social

No centro de comando do país, a igualdade é branca e restrita

DANIEL STEIN
DA EQUIPE DE TRAINEES

Na cúpula do Poder Judiciário não existem negros; entre os ministros da República apenas um se diz negro; na Câmara, dos 513 deputados, 73 se manifestaram como negros; e no Senado 9 em 81. Os dados foram resultado de questionário enviado pela Folha a cada um dos integrantes dos três Poderes, no mês de setembro, sendo respondido por 77,8% do Senado e 70,6% da Câmara.
Para o professor da USP Antonio Sérgio Augusto Guimarães, 52, o negro brasileiro está em situação pior em comparação ao que ocorre na África do Sul e nos EUA, países nos quais o negro tem participação no poder político e no poder econômico, respectivamente, ao contrário do que ocorre no Brasil.
Para o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal, cuja função é a guarda da Constituição), ministro Marco Aurélio de Melo, 55, o preconceito impede que os negros ascendam profissionalmente para pleitear os cargos mais altos do Judiciário.
Melo ressalva que "Fernando Henrique não tem culpa da falta de negros no Judiciário, pois, embora o presidente seja o responsável pelas indicações ao Supremo, faltam opções".
"A composição racial do STJ reflete o problema da ascensão social do negro em nosso país. O universo de escolha é reduzidíssimo em relação aos negros", diz Paulo Costa Leite, 52, presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça, responsável pela interpretação de lei federal e uniformização da jurisprudência).
No Poder Executivo, dos 27 ministros, há apenas um negro, o ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, que se diz pardo. Outro ministro negro de Fernando Henrique foi Pelé, que ocupou a pasta de Esportes de 1º de janeiro de 1995 até abril de 1998.
A Folha encaminhou ao presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio do porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, a seguinte pergunta: "Por que não há mais negros nos ministérios, sendo negros os pardos e os pretos, segundo os critérios do IBGE?", a qual não foi respondida.


Dificuldade
O método utilizado pela Folha para o levantamento nos três Poderes foi o mesmo do censo do IBGE, no qual o entrevistado opta, no quesito racial, entre cinco opções de cor -branco, preto, pardo, amarelo ou indígena.
Não responderam à pergunta sobre sua cor 152 dos 513 deputados, o que representa 29,4% da Câmara dos Deputados.
No Senado, nove não responderam a nenhum dos contatos da Folha e o senador Bello Parga (PFL-MG), por meio de sua assessoria, se recusou a se manifestar.
O presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), considera a questão complexa, embora admita que o preconceito exista como fruto de opressão histórica, diz que "a Câmara é o canal mais adequado para que os negros tenham mais presença nas decisões legislativas e na sociedade como um todo".
Nas Forças Armadas, a única resposta foi da Aeronáutica, na qual os sete membros do Alto Comando são brancos.
O Exército não respondeu aos contatos da Folha. Em março de 1999 foi nomeado o segundo general negro de sua história, Jorge Alves de Carvalho, 56, sendo apenas um entre 88 generais. Ele ocupou a subchefia militar da Casa Militar da Presidência.
A Marinha não forneceu os dados, referentes unicamente ao seu Alto Comando, respondendo que não faz esse tipo de levantamento e não teria tempo para fazê-lo no prazo pedido (cinco dias).
O Itamaraty não faz esse tipo de levantamento com os embaixadores -encarregados da representação do país no exterior-, pois considera que tal atitude seria "discriminatória", segundo sua assessoria de imprensa.


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