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POLÍTICA
Preconceito é apontado como causa para baixo número de negros no poder, pois impediria ascensão social
No centro de comando do país, a igualdade é branca e restrita
DANIEL STEIN
DA EQUIPE DE TRAINEES
Na cúpula do Poder Judiciário não existem negros;
entre os ministros da República apenas um se diz negro;
na Câmara, dos 513 deputados, 73
se manifestaram como negros; e
no Senado 9 em 81. Os dados foram resultado de questionário enviado pela Folha a cada um dos
integrantes dos três Poderes, no
mês de setembro, sendo respondido por 77,8% do Senado e
70,6% da Câmara.
Para o professor da USP Antonio Sérgio Augusto Guimarães,
52, o negro brasileiro está em situação pior em comparação ao
que ocorre na África do Sul e nos
EUA, países nos quais o negro
tem participação no poder político e no poder econômico, respectivamente, ao contrário do que
ocorre no Brasil.
Para o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal, cuja função é a guarda da Constituição),
ministro Marco Aurélio de Melo,
55, o preconceito impede que os
negros ascendam profissionalmente para pleitear os cargos
mais altos do Judiciário.
Melo ressalva que "Fernando
Henrique não tem culpa da falta
de negros no Judiciário, pois, embora o presidente seja o responsável pelas indicações ao Supremo,
faltam opções".
"A composição racial do STJ reflete o problema da ascensão social do negro em nosso país. O
universo de escolha é reduzidíssimo em relação aos negros", diz
Paulo Costa Leite, 52, presidente
do STJ (Superior Tribunal de Justiça, responsável pela interpretação de lei federal e uniformização
da jurisprudência).
No Poder Executivo, dos 27 ministros, há apenas um negro, o
ministro da Reforma Agrária,
Raul Jungmann, que se diz pardo.
Outro ministro negro de Fernando Henrique foi Pelé, que ocupou
a pasta de Esportes de 1º de janeiro de 1995 até abril de 1998.
A Folha encaminhou ao presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio do porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, a seguinte pergunta: "Por que não há
mais negros nos ministérios, sendo negros os pardos e os pretos,
segundo os critérios do IBGE?", a
qual não foi respondida.
Dificuldade
O método utilizado pela Folha
para o levantamento nos três Poderes foi o mesmo do censo do IBGE, no qual o entrevistado opta,
no quesito racial, entre cinco opções de cor -branco, preto, pardo, amarelo ou indígena.
Não responderam à pergunta
sobre sua cor 152 dos 513 deputados, o que representa 29,4% da
Câmara dos Deputados.
No Senado, nove não responderam a nenhum dos contatos da
Folha e o senador Bello Parga
(PFL-MG), por meio de sua assessoria, se recusou a se manifestar.
O presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG),
considera a questão complexa,
embora admita que o preconceito
exista como fruto de opressão histórica, diz que "a Câmara é o canal
mais adequado para que os negros tenham mais presença nas
decisões legislativas e na sociedade como um todo".
Nas Forças Armadas, a única
resposta foi da Aeronáutica, na
qual os sete membros do Alto Comando são brancos.
O Exército não respondeu aos
contatos da Folha. Em março de
1999 foi nomeado o segundo general negro de sua história, Jorge
Alves de Carvalho, 56, sendo apenas um entre 88 generais. Ele ocupou a subchefia militar da Casa
Militar da Presidência.
A Marinha não forneceu os dados, referentes unicamente ao seu
Alto Comando, respondendo que
não faz esse tipo de levantamento
e não teria tempo para fazê-lo no
prazo pedido (cinco dias).
O Itamaraty não faz esse tipo de
levantamento com os embaixadores -encarregados da representação do país no exterior-,
pois considera que tal atitude seria "discriminatória", segundo
sua assessoria de imprensa.
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