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Novo em Folha 40ª turma
14/02/2006

Íntegra de entrevista com Beto Silveira

DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Como funciona a escola?

A base da escola é a interpretação. Preparar os atores para os palcos, para o estúdio para os sets de filmagem, embora as pessoas me procurem muito porque querem fazer televisão: desde a menininha de 11 anos de idade que quer ser atrioz de TV até pessoas com sessenta e poucos anos... As pessoas acham que o meu trabalho é só televisão. Não é isso. É tamb‘pem pra televisão. A televisão é um processo histórico irreverssível e está aí. Meu trabalho é interpretação. Interpretação é a a ação da verdade do outro, do personagem, você se colocar no lugar do personagem.

Tem ator profisional que procura?

Sim, muita gente de teatro que tem a mentalidade de se aperfeiçoar sempre, não vem para tirar o DRT. No primeiro dia de aula, eu tenho aquele bom ator, que eu já conheço em cena até a menininha que está deslumbrada com as coisas. Pouoc a pouco, algumas pessoas saem, outras ficam. As pessoas que procuram televisão geralmente procuram o glamour da televisão. Aí me encontram de bermuda, descalço, batendo papo com eles, fazendo exercício junto.Percebem que ess glamour não vão encontrar aqui, e sim trabalho. E tem duas opções: ou entram nessa ou vai embora. De um modo geral, as pessoas têm entrado. Mas é muito grande o leque.

Você trabalhou com Ana Paula Arósio, Débora Evelyn.Como foi o trabalho com elas?

É um trabalho como qualquer outro. Elas não eram quem eram. A Débora foi minha aluna na Escola de Arte Dramática na USP e era uma aluna interessada e de repente começaram a surgir trabalhos no Rio, na Globo. Um dia ela entrou na minha sala chorando e disse: " Estão querendo me contratar, Beto, o que eu faço com a escola?" Eu disse: " Deixa de ser bobinha, vá lá, já que estão te chamando." Ela foi e não saiu mais de lá. A Ana Paula foi diferente. O Nilton Travesso era o diretor artístico do SBT na época. E ele contratou apostando na Ana Paula, mas sabendo que ela era verde, mas ele tem uma visão de TV muito grande. O Nilton chegou pra mim e disse: "Beto, você prepara a Ana pra mim? Quando ela estiver pronta, você me dá um toque." Ela ficou um ano e meio sendo preparada. Ela se dedicou muito.Muitas vezes as pessoas falam que a Ana Paula é uma menina bonitinha por isso está na televisão. Não é só bonitinha, masmais do que isso, ela é uma pessoa que sempre se trabalhou muito. Não sei o que está fazendo agora, mas deve estar se trabalhando ainda, pelas coisas que eu vejo fazendo na TV.

A preparação do ator para TV é diferente?

Eu não acho. Veja o seguinte: mentir a dez metros de distância é uma coisa. Mentir numa distância menor é muito mais difícil. A TV trabalha com close, com volume. Mas em interpretação é interpretação. E digo mais, é contestável a tese de que há interpretações diferentes para veículos diferentes. Isso é dar rótulos. Uma novela das seis tem um tipo de interpretação, a das oito tem outro, a minissérie outro. Mas interpretação é uma coisa só.

O teatro é necessário para o ator?

Eu tenho como base o teatro amador, isto me formou. Acho muito difícil alguém se formar sem ter essa história, mesmo poprque no teatro você tem a oportunidade de ir um pouco mais fundo. Isso não vai acontecer na TV, é tudo mais rápido.

A velocidade com que as coisas acontecem na TV atrapalha a interpretação?

Não deveria atrapalhar. O ator tem que estar preparado para se trabalhar em qualquer situação. Mesmo em TV, onde não há tempo. Ele tem que se trabalhar de hoje para amanhã. E o trabalho dele não é só decorar o capítulo. É criar a interpretação toda. Eu não conheço nenhum ator que não goste do que faz e que seja vagabundo. Os atores querem fazer bem o trabalho, mas às vezes não sabem.

Algum ator deu mais trabalho?

Em primeiro lugar, eu não acredito em talento.Já vi muita gente em talento nenhum que hoje está explodindo. Sem talento que eu digo são pessoas que chegam no primeiro dia de aula e parecem um grilinho, quietinho. Eu acerdito muito no trabalho. Quando a pessoa gosta de se trabalhar, sem dúvida nenhum ela cresce. Quem aposta na sua competência e no seu talento funciona, mas nem sempre. E o bom é um ator que funcione sempre. Ninguém compra um carro que funciona de vez em quando. O ator também tem que funcionar todo dia. Nesse ponto, ninguém me deu trabalho. Quando o ator tem uma dificuldade, com essa dificuldade, ele está me contanto uma história. E eu ouço essa história para saber por onde eu vou. Já tive problemas com quem não quer se trabalhar. Vem muita gente aqui que ficou famosa em um desses problemas e diz : " Agora quero investir na carreira de atriz." Não é assim, uma coisa é você ter paixão, ou não vá fazer. Geralmente essas pessoas não ficam três semanas no curso.

Por que as pessoas confundem a carreira com uma vitrine?

São pessoas que estão enganadas, porque de repente vêem uma menina nova e falam: " Nossa, a Globo está lançando essa menina!" Mentira. Aquela menina já fez teatro, um monte de coisa. A maioria das pessoas não conhece, não viu no teatro e aí têm a impressão de que ela é nova. A pessoa saiu de uma escola, ficou três anos e meio, como descobriram? Ela se preparou. Nenhuma matéria fala sobre o trabalho do atores, falam quando eles já estão prontos, sobre os resultados e parece que ela já nasceu daquele jeito. Stanislavsk tinha umafrase que dizia o seguinte:"ame a arte que está em você e não você na arte." As pessoas que procuram querendo ir para a Globo se amam na arte. O importante é desenvolver a arte que há em você. Aí, Globo, SBT, Record são conseqüência.

O Luis Melo, um ator respeitado no teatro, foi bastante criticado quando estreou em TV. Existe preconceito da parte de quem faz teatro coma TV? Por quê?

Acredito que isso seja um processo histórico. Ele terminou , mas algumas pessoas não perceberam e continuaram batendo na mesma tecla. Vamos a TV em seu início, no sentido auge da TV Globo, p‘rimeira novela, quando a TV Excelsior faliu e a Globo levou Regina Duarte, Francisco Cuoco, toda essa gente. da noite para o dia. Por que aconteceu isso? Nos vivemos uma época em que a informação era fechada, de uma ditadura terrível. Então, um certro grupo ligadoa tudo isso investiu em um programa chamado Jornal Nacional,que existe até hoje. Era onde viriam as informações que o povo poderia ter. As outras emissoras continuavam fazendo seus telejornais. E o que a Globo precisava fazer? Segurar a audiência do jornal. Então investiu-se mais dinheiro ainda montando a maior novela do mundo, que é a novela das oito. Então, na verdade, naquela época a novela das oito servia como cultura da ditadura, estava lá para desinformar a nós todos. Enquanto passava nos outros canais que o Vlado (Vladmir Herzog) tinha sido assassinado na prisão, as pessoas preferiam chorar emocionadas com os beijos das novelas das oito. Então relmente havia uma contradição muito grande. O pessoal da minha geração sabia o que estava acontecendo e ao mesmo tempo viam os colegas ganhando um salário que a gente não poderia chegar perto, era contraditório. E houve toda uma reaçaõ para que não acontecessem essas novelas. E a gente começava a fazer teatro onde a gente tentava colocar o que estava acontecendo e o público não vinha porque estava vendo novela. Então havia, sim, um a rixa entre teatro e novela. Quem ia para televisão e abandonava a gente era reacionário. sò que isto acabou graças a Deus. As pessoas pensam em televisão como uma arte menor e hoje não é.
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