14/02/2006
Entrevista: Armando Rodrigues Coelho Neto, presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal
DA EQUIPE DE TREINAMENTO
Principais trechos da entrevista com o presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Armando Rodrigues Coelho Neto
Folha - Divisão de Comunicação Social da Polícia Federal, que fica em Brasília, registra em seu site as operações da corporação a partir de 2003. Segundo o órgão, são divulgadas apenas a ações de "mais relevantes" e os números demonstraram um crescimento das operações. A que o senhor atribui essa elevação?
Coelho Neto - O número de operações é um pouco menor do que aparenta ser. Ele cresceu, mas não tanto quanto aparenta.
Folha - O que o senhor quer dizer com "pouco menor do que aparenta"?
Coelho Neto - A verdade é que essas operações passaram a ter mais visibilidade. E por quê? Primeiro, nós delegados reivindicamos desde o governo anterior que as operações da Polícia Federal deveriam ter maior visibilidade porque policiais federais trabalhavam e ora apareciam as CPIs [Comissões Parlamentares de Inquérito] ora o Ministério Público [Federal]. Então, nós ficávamos no anonimato. Por outro lado, o doutor Paulo Lacerda, ao assumir a direção-geral da Polícia Federal no início o governo Lula, qual foi a providência dele? Ao examinar o plano de segurança do atual governo, ele constatou que a entidade era tratada como uma "caixa-preta". Aí ele optou por dar transparências às ações da corporação. O que ele trata por "transparência", nós [delegados] tratamos por visibilidade.
Folha - Isso seria uma explicação de o porquê que só há operações da instituição registradas na internet a partir de 2003? Faz parte dessa política de visibilidade?
Coelho Neto - Faz. É uma política de transparência. Veja bem, houve um "casamento" da nossa visão policial, que queríamos dar visibilidade ao trabalho, e da do diretor-geral, que queria dar transparência à instituição, tratada no plano de segurança do governo Lula como uma "caixa-preta".
Folha - A sensação popular é de que aumentaram as ações.
Coelho Neto - Aumentaram, mas não na dimensão que se pensa que aumentou.
Folha - Quando o senhor diz que o trabalho era feito, mas o crédito ia ou para as CPIs, ou para o Ministério Público Federal, quais são os interesses deles?
Coelho Neto - As CPIs são "palcos". E o Ministério Público anda extrapolando na sua função, porque não tem como atribuição investigar.
Folha - Quando o senhor diz que o Ministério Público "está extrapolando" quer dizer que o órgão está investigando?
Coelho Neto - Sim, está investigando. Algumas coisas nós fazíamos e quem dava entrevista era um representante do Ministério Público. Pode dar entrevista, mas que fique claro que quem fez o trabalho fomos nós. Investigar é ato de polícia e ponto final. Quem pode investigar? Polícia, CPIs e casos específicos previstos em lei.
Folha - Como foi o trâmite dentro da corporação para que aparecesse o trabalho?
Coelho Neto - O doutor Paulo Lacerda optou por dar transparência às ações. Mesmo operações que poderiam acontecer normalmente passaram a ter visibilidade. E aí se passou a ter a impressão de que elas eram maiores. Sim, passaram a ser maior, mas não tão maior porque operações que nós estaríamos fazendo naturalmente nós continuaríamos fazendo, só que agora com mais visibilidade.
Folha - O que a corporação teve de fazer para ganhar visibilidade?
Coelho Neto - A Polícia Federal passou a dar maior prioridade de aos crimes de colarinho branco, organizado e financeiro. Passou a ser maior foco de atenção.
Folha - E como ficaram as outras operações?
Coelho Neto - Caiu um pouco a velocidade desse trabalho.
Folha - Houve outra mudança?
Coelho Neto - A Polícia Federal, do ponto de vista estratégico, passou a priorizar o crime-fim [por exemplo, prender um traficante de drogas] e não o crime-meio [a prisão de um usuário] para não abortar uma grande operação. A corporação passou a acompanhar, monitorar as condutas criminais para uma completa definição de um quadro criminoso.
Folha - Em termos práticos, esse trabalho da instituição se apoiou em quê? Houve maior utilização de escuta telefônica, por exemplo?
Coelho Neto - Sim. Um dos instrumentos utilizados foi o grampo telefônico para coleta de informações. É um dos recursos, como a campana, por exemplo.
Folha - Como estão os quadros atuais da Polícia Federal?
Coelho Neto - Estão absolutamente renovados, porém que não começou agora. Vem desde meados do governo Fernando Henrique Cardoso para cá.
Folha - Houve aumento dos quadros?
Coelho Neto - Não necessariamente porque muitos colegas se aposentaram. Ficou "elas por elas".
Folha - Em termos de estrutura, armamentos, equipamentos, condições de trabalho, como está a corporação hoje?
Coelho Neto - A Polícia Federal continua carente de recursos. Há um estado de carência que não é "privilégio" da corporação.