21/06/2006
Entrevista: Precursor vê poema como móbile
DA EQUIPE DE TREINAMENTO
Luciana Cavalcanti -dez.05/Folha Imagem |
|
Augusto de Campos, 75 |
Palavras com timbres e tons compõem os versos de Augusto de Campos, 75. Co-fundador do movimento concreto, o poeta, tradutor e ensaísta incorpora, desde a década de 80, as possibilidades das novas mídias nos poemas.
Em entrevista à
Folha por e-mail, o poeta, citado por especialistas e escritores como mestre da poesia experimental, fala sobre a herança do concretismo e o uso da tecnologia.
FOLHA - Há ligação entre o poema concreto e o uso de novas tecnologias na poesia?
AUGUSTO DE CAMPOS - A ligação é evidente, já que [o movimento concreto] chamou a atenção para a materialidade da palavra e repôs em circulação a poesia visual, fonovisual, espacial e cinética. Preparou terreno para mutações tecnológicas que desembocariam na linguagem digital nas duas últimas décadas. A "gramática" estrutural concreta é perceptível nas poéticas tecnológicas, da holografia à "ciberália".
FOLHA - Qual o lugar da poesia experimental na literatura?
CAMPOS - É indispensável para quebrar convenções, criar novas sendas de especulação literária. É o que Ezra Pound chamava da poesia dos "inventores", em contraste com a dos "mestres" e a dos "diluidores". Geralmente, quem fatura as glórias são as duas últimas. Os experimentais ficam de quarentena. Poetas ou não, os inventores correm maiores riscos. Das Demoiselles d’Avignon à Demoiselle de Santos Dumont.
FOLHA - Por que usar outros recursos para fazer poesia?
CAMPOS - Desde tempos imemoriais a poesia não se fez só com palavras. Na tradição ocidental, a poesia visual ocupou sempre um território marginal.
As novas tecnologias não asseguram excelência poética, mas é cada vez mais difícil desprezá-las. A poesia experimental tem aí um grande instrumental para explorações inter-náuticas. A não experimental só tem a lucrar. Alguns dirão que a vanguarda acabou e farão obras com sobras de naufrágios.
FOLHA - O que o move a continuar experimentando?
CAMPOS - Uma inquietação nata. Afora isso, gosto de novas técnicas e de computador e sempre me interessei por tipos, cores, sons e imagens. Para mim, poesia é móbile.
(LA)