04/12/2004
Paraense não dorme bem há 26 anos
Colchão de R$ 5.000 não resolve problema
LUÍSA BRITO
THIAGO REIS
Da equipe de trainees
Paulo David Bispo Peixoto, 41, já tomou chá de alface, de maçã, remédios tarja preta e percorreu 6.586 km indo e vindo de Parauapebas (PA), onde mora, a Belém, a Teresina e a São Paulo à procura de tratamento para a insônia. Há 26 anos, ele dorme apenas três horas por noite.
A falta de sono anda prejudicando também o bolso de Peixoto. Nesse mês, ele vai pagar a sexta e última parcela do colchão de R$ 5.000 que comprou em julho e até agora não deu o resultado esperado. "Para minha mulher, que tem câimbra, melhorou", comenta. A prestação equivale a mais da metade da renda de cinco salários mínimos que ele ganha como técnico em eletrônica.
Magro, tímido e com as mãos trêmulas, Peixoto conta que sua noite de sono começa às 22h e acaba no início da madrugada, à 1h. Até o amanhecer, ele fica em cima da cama tentando dormir. Prefere não sair do quarto porque acredita que ficar olhando as paredes da casa lhe causaria mais angústia.
O fato de se revirar sobre o colchão lhe traz outros problemas. "Minha mulher fica impaciente, eu também. De vez em quando a gente começa a chorar, porque dá depressão."
Na expectativa de uma melhora, o paraense gastou mais de R$ 1.000 para vir à capital paulista no mês passado. Apesar de ter optado pela viagem de ônibus, que é mais barata, ele acabou pagando um valor alto porque teve que arcar também com passagens para o filho de oito anos, que faz tratamento de reumatismo na cidade.
Só economizou mesmo na hospedagem. Ficou num hotel em Osasco (Grande SP), onde a diária custa R$ 15. Em compensação, teve de pegar, todos os dias, um ônibus e depois um metrô para chegar aonde precisava ir.
No Instituto do Sono da Unifesp, foi a primeira vez que Peixoto teve contato com especialistas da área. Pagou uma consulta de R$ 150, mas conseguiu fazer o exame de polissonografia pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O diagnóstico revelou ser a ansiedade o motivo das suas noites de aflição. O paciente também soube que sofre de bruxismo e terá que pôr uma placa na arcada para evitar o desgaste dos dentes.
Segundo a médica, Dalva Poyares, o ideal seria que Peixoto fizesse sessões de terapia para aprender a controlar a ansiedade. Como mora distante, seu tratamento vai depender do uso de remédios e telefonemas periódicos para a especialista.
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