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Sono
04/12/2004

Falta de rotina prejudica o sono de pais e filhos

Número de queixas sobre insônia infantil cresceu nos últimos dez anos, dizem especialistas

ANA PAULA BONI
Da equipe de trainees

Especialistas ouvidos pela Folha dizem que, nos últimos dez anos, aumentou o número de reclamações de pais sobre o sono das crianças. Entre pediatras, psicólogos infantis, neurologistas e psicanalistas, os 12 entrevistados afirmaram que a principal causa para as reclamações é a falta de rotina a que a criança está condicionada.

O psicólogo Haim Grunspun, professor da PUC-SP, conta que hoje os problemas relacionados ao sono são as queixas mais comuns em clínicas, tomando o lugar de reclamações sobre rendimento escolar e alimentação.

O pediatra Ricardo Halpern, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no Rio Grande do Sul, estima que, em seu consultório, 50% das queixas são sobre sono.

Para a neuropediatra Márcia Pradella-Hallinan, coordenadora da pediatria do Instituto do Sono da Unifesp, o número fica em torno de 40%.

Os especialistas dizem que, entre os motivos que levam à falta de rotina da criança, o fato de a mãe trabalhar o dia todo fora de casa é o mais citado.

Antes a mãe supria a ausência do pai. Hoje os pais se sentem culpados por não estarem presentes no dia-a-dia do filho e, quando estão em casa, não conseguem impor limites à criança.

Outro motivo para a falta de rotina é quando os pais são divorciados e o filho tem cotidianos diferentes. A pediatra Denise Kanarek, da SBP, cita que deixar o filho o dia todo com a babá ou os avós também faz com que ele crie outras referências diárias e tenha problemas para seguir rotinas.

Segundo a psicanalista Lisandre Castello Branco, doutora em educação pela USP, o sentimento de culpa faz com que os pais queiram compensar a falta e tenham dificuldade para estabelecer normas na educação do filho.

"Criança deve ter horário para ir para cama. Hoje isso é cada vez menos freqüente. Os pais estimulam o filho a ficar acordado até que eles cheguem em casa", diz.

Ricardo Halpern conta que os pais contribuem para o agravamento do distúrbio do sono porque não entendem que o relógio biológico da criança funciona diferente do organismo do adulto.

"O problema é atender a criança à noite de forma indiscriminada. Os pais costumam achar que apenas uma noite fora das regras não vai prejudicar. Isso acostuma mal a criança", diz.

Além disso, uma agenda cheia de atividades, como aulas de informática, inglês e prática de esportes, pode gerar estresse e problemas emocionais.

"A criança quer ir bem em tudo que faz e se frustra, devido ao excesso de atividades, o que gera ‘depressão’, por não corresponder aos resultados que ela supõe que esperam dela", diz Castello Branco. Assim, os problemas emocionais atrapalham o bem-estar da criança e, conseqüentemente, seu sono.

Maus Hábitos

A neurologista infantil Magda Lahorgue, da SBP no RS, diz que, extintas as causas orgânicas, como problemas respiratórios, a maioria dos distúrbios está ligada a hábitos inadequados. Segundo Lahorgue, o bebê não deve dormir no quarto dos pais a partir dos seis meses de vida.

Pradella diz que as rotinas noturnas com horários estabelecidos (tomar banho, jantar, ler um livro) criam uma referência para a criança e ajudam o sono a chegar.

Segundo a neuropediatra do Instituto do Sono, o problema é quando a criança vai dormir e percebe, pelo barulho, que os pais estão vendo TV. "Os pais devem se disciplinar, principalmente na frente das crianças, para que elas aprendam a ter horários", diz.

Pradella também alerta os pais para que não dêem remédio calmante para o filho. Os indutores só são indicados com receita médica em casos especiais.

Outros problemas devem ser tratados com mudanças de hábitos: não deixar a criança dormir na cama dos pais, colocá-la para estudar à tarde se perceber que ela rende menos pela manhã, e regular o tempo para jogar video-game e assistir à TV, por exemplo.
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