04/12/2004
Soneto insone
Glauco Mattoso
Ser cego é como estar numa prisão.
Ficar cego é pior, parece o susto de quem foi livre e sofre o golpe injusto, levado para o hospício estando são.
O sonho é colorido, pois estão bem vivas na memória, a muito custo, imagens dum recente e já vetusto passado de prazer e perversão.
Nenhum ouvido escuta meu apelo.
Acordo e lembro em pânico que o sonho foi falso: a realidade é o pesadelo.
Só volto a adormecer quando componho sonetos sobre o pé. Gozo ao lambê-lo, e agora o escuro não é tão medonho.
|