Treinamento Folha   Folha Online
   
17/10/2007

DUAS ENTREVISTAS POR E-MAIL E UMA PESSOALMENTE

da Folha de S.Paulo

As entrevistas abaixo foram publicadas originalmente na FSP, nas edições de 13 e 14/10/2007. Estão copiadas aqui para ilustrar post do Novo em Folha
Textos protegidos por copyright

Corrupção é perdoável com arrependimento, diz bispo
Para Edir Macedo, só a "blasfêmia contra o Espírito Santo" não é passível de perdão

Líder da Universal e dono da Rede Record é favorável à legalização do aborto, pois isso "diminuiria em muito a violência" que há no Brasil

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Líder da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e dono da Rede Record, o bispo Edir Macedo Bezerra, 62, que tinha uma postura defensiva em relação à imprensa, concedeu entrevista à Folha por e-mail. Sua atitude "silenciosa" teve início em 1995, quando a Globo exibiu "Decadência" -minissérie que retratava um pastor corrupto, um ataque ao mais barulhento dos evangélicos.
Neste ano, para lembrar os 15 anos de sua prisão, sob a acusação de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, Macedo resolveu dar as caras. Autorizou uma biografia e um documentário, a ser exibido amanhã pela Record. Há duas semanas, apareceu ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, na inauguração da Record News, o primeiro canal de notícias aberto (e gratuito) do país.
A biografia começa a chegar na segunda-feira às livrarias.
"O Bispo - A História Revelada de Edir Macedo" (editora Larousse) foi escrita por Douglas Tavolaro, diretor de jornalismo da Record, e por Christina Lemos, repórter da emissora. Em formato de reportagem, o livro sai com uma tiragem recorde de 700 mil exemplares (o dobro do mais novo "Harry Potter", por exemplo). Com 286 páginas, custa R$ 39,90.
O primeiro capítulo reconstitui a prisão em 1992. Para tanto, Macedo se dispôs a voltar ao distrito policial em que ficou detido durante 11 dias. No livro, ele explica porque "comemora" a prisão: os dias de cadeia representaram sofrimento mas também uma guinada de sua igreja. "Eu sabia que a prisão me traria enormes benefícios. Sabe por quê? Porque eu era a vítima, e a vítima sempre ganha. Nunca o algoz."
Macedo concordou em dar entrevista a um veículo que não fosse de seu conglomerado de comunicação (além da Record, seu grupo detém dezenas de emissoras de TV, rádio e jornais) sem restrições a assuntos.
A entrevista, porém, foi feita por e-mail, intermediada por executivos da Record e membros da igreja. De acordo com seus assessores, Macedo estava fora do país.
Na entrevista a seguir, Macedo explica porque defende o aborto, bandeira que levantou durante a visita do papa ao Brasil, em maio. Diz que aceitaria um filho homossexual e que é a favor do uso de embriões pela medicina. Fala pouco de suas atividades políticas e muito da crença de que um dia sua Record vencerá a Globo.

FOLHA - O número de evangélicos vem crescendo ano a ano no Brasil, já são 15% da população. A que o sr. atribui esse fenômeno?
EDIR MACEDO - O número de evangélicos cresce porque o Evangelho oferece muito além de religião. Oferece qualidade de vida e vida em abundância.
FOLHA - O sr. tem planos de ajudar a eleger um evangélico à Presidência já nos próximos pleitos? O senador Crivella será candidato à Presidência em 2010 ou 2014? O sr. nunca pensou em ser candidato?
MACEDO - Depende do evangélico. Não sei [sobre Crivella candidato]. Não [pensou em ser candidato].

FOLHA - Há 20 anos, o sr. imaginava que um dia faria aliança política com o PT, como ocorreu em 2006, em torno da reeleição de Lula?
MACEDO - Nunca fiz aliança política com alguém. Apenas apoiei as pessoas em que eu acreditei.

FOLHA - De zero a dez, que nota dá ao governo Lula?
MACEDO - Quem sou eu para julgar o presidente da República?

FOLHA - Alguns políticos então da base da Igreja Universal, como o bispo Rodrigues, foram atingidos em cheio pelos escândalos do primeiro mandato de Lula. A corrupção não é um pecado imperdoável?
MACEDO - Jesus ensina que o único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Para os demais, há perdão, se houver arrependimento.

FOLHA - Para o papa Bento 16, o problema fundamental do mundo contemporâneo é uma crise de valores, onde o homem tenta ocupar o lugar de Deus. O sr. concorda com essa afirmação? Por quê?
MACEDO - Em alguns casos, acredito que ele tenha razão. Porque alguns mortais têm pensado que estão acima do bem e do mal. Mas, depois de mortos, o máximo que lhes resta é uma placa na praça onde os cães fazem xixi.

FOLHA - Em sua biografia, o sr. defende o aborto. Atualmente, a Record e a Record News exibem campanha pelo aborto. Por quê?
MACEDO - Sou favorável à descriminalização do aborto por muitas razões. Porém, aí vão algumas das mais importantes:
1) Muitas mulheres têm perdido a vida em clínicas de fundo de quintal. Se o aborto fosse legalizado, elas não correriam risco de morte;
2) O que é menos doloroso: aborto ou ter crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades, sem infância, sem saúde, sem escola, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor? E o que dizer das comissionadas pelos traficantes de drogas?
3) A quem interessa uma multidão de crianças sem pais, sem amor e sem ninguém?
4) O que os que são contra o aborto têm feito pelas crianças abandonadas?
5) Por que a resistência ao planejamento familiar? Acredito, sim, que o aborto diminuiria em muito a violência no Brasil, haja vista não haver uma política séria voltada para a criançada.

FOLHA - "Deus deu a vida e só Ele pode tirá-la", segundo a Bíblia. Não é contraditório um líder cristão defender o aborto?
MACEDO - A criança não vem pela vontade de Deus. A criança gerada de um estupro seria de Deus? Não do meu Deus! Ela simplesmente é gerada pela relação sexual e nada mais além disso. Deus deu a vida ao primeiro homem e à primeira mulher. Os demais foram gerados por estes.
O que a Bíblia ensina é que se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele (Eclesiastes 6.3). Não acredito que algo, ainda informe, seja uma vida.

FOLHA - Qual seria sua reação se descobrisse que tem um filho homossexual?
MACEDO - Decepcionado. Mas não o rejeitaria de forma alguma. Tentaria ajudá-lo da melhor forma possível. Porque, se Deus respeita a livre opção de vida da criatura humana, por que não o faria eu?

FOLHA - O sr. é a favor do uso de embriões humanos pela medicina?
MACEDO - Sou a favor, sim.

FOLHA - Quanto a Igreja Universal investe por ano na Record? A emissora sobreviveria sem o dinheiro da igreja?
MACEDO - A Iurd é tão-somente uma cliente da Record, assim como a Igreja Católica é da Globo, da Cultura e tantas outras. A diferença é que a Iurd paga à Record e esta paga seus impostos ao governo. Eu creio que a Record sobrevive sem a Iurd.

FOLHA - O sr. acha mesmo possível a Record bater a Globo fazendo programação semelhante à da Globo?
MACEDO - O "Hoje Em Dia" copia o quê da Globo? E o "Tudo a Ver"? As novelas não são criações da Globo. Ela os copiou das mais antigas emissoras de TV e rádio. A antiga Rádio Nacional, Mayrink Veiga e outras mais tinham novelas e programas humorísticos. Portanto, dizer que copiamos a Globo é, no mínimo, falta de conhecimento histórico.
Quanto à possibilidade de bater a concorrente, basta olhar o passado. Quando compramos a Record, ela estava à beira da falência. Naquela época, você perguntaria da possibilidade de batermos o SBT? Quem diria que a Gol compraria a Varig? Portanto, eu creio muito na nossa capacidade de vencê-los.

FOLHA - O que quis dizer com "cutucar o fígado até ela cair", referindo-se à Globo?
MACEDO - Na luta contra Golias, Davi usou uma pedrinha. Numa luta de boxe, a desvantagem do menor pode tornar-se em vantagem. Nesse caso, a opção é ir batendo no fígado do maior.

FOLHA - O sr. tem ódio da Globo? Como classifica a cobertura que ela fez de sua prisão, em 1992, e a exibição da minissérie "Decadência"?
MACEDO - Eu não tenho ódio de ninguém, senão do diabo e seus espíritos. Há mais de três décadas que não assisto à Globo. Apenas recebo informações de terceiros do seu trabalho. Até porque não sou idiota, como julgou seu diretor de jornalismo William Bonner aos que o vêem.

FOLHA - Como um funcionário da Lotérica do Rio se tornou um milionário? O sr. seria rico como é se não fosse o líder da Igreja Universal?
MACEDO - Eu tinha dois anos na Lotérica do Rio quando tive um encontro com meu Senhor e Salvador Jesus Cristo. A partir de então, aprendi que a riqueza de um homem não consiste nos seus bens materiais. Nesse aspecto, chamar-me de milionário é, no mínimo, um insulto. Porque, como filho e parceiro do Deus Vivo, ninguém neste mundo pode se considerar mais rico do que eu. Pode até ser igual, mas não mais.
Quanto ao sucesso econômico a que você se refere, posso lhe garantir que até hoje ninguém contou meu dinheiro para me considerar assim. Mas, conforme o dito popular: fama de rico e valente não se desmente, sigo caminhando e colocando em prática a sabedoria, inspiração e coragem que vem do Alto e conquistando para a Sua exclusiva glória.

FOLHA - Como o sr. pagou a Record?
MACEDO - Tudo está devidamente declarado no Imposto de Renda.

FOLHA - O sr. recebe salário da igreja? Quanto?
MACEDO - Eu vivo de ajuda de custo da igreja e direitos autorais.

FOLHA - Por que o sr. não mora mais no Brasil?
MACEDO - Porque meu trabalho está além das fronteiras.

Jovem Stálin foi meio bandido, meio intelectual
Simon Sebag Montefiore foi até a Geórgia, onde descobriu documentos inéditos para escrever a biografia do ditador

Autor de livro sobre Stálin já lançado aqui, historiador britânico trata da juventude do ditador em nova obra, publicada no Reino Unido

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia abaixo trechos da entrevista que o historiador britânico Simon Sebag Montefiore concedeu à Folha, por e-mail, na qual ele conta como encontrou as evidências do "gangsterismo político" de Stálin. (SYLVIA COLOMBO)

FOLHA - Você joga luz no Stálin bom aluno, com habilidades de cantor e aplicado na formação intelectual. Costuma ouvir acusações de humanizá-lo?
SIMON SEBAG MONTEFIORE - Não. Sempre quero apresentar o Stálin real. Se eu o mostrasse como um monstro gótico, mas sem talento, não aprenderíamos nada e não seria verdadeiro. Stálin e Hitler foram os maiores assassinos de massas da história. Mas ele também era um político de qualidades, gostemos disso ou não.
E o jovem Stálin foi, sim, um assaltante de bancos, um matador, um pirata e um terrorista, mas também um poeta, um garoto de coral na escola e depois aprendiz de padre. Era metade bandido, metade intelectual.

FOLHA - Assim como em "Stálin - A Corte do Czar Vermelho", você usou documentação nova. Por que ela estava ainda intocada? Os historiadores russos temem confrontar-se com seu passado?
MONTEFIORE - Eu não sabia que ia encontrá-la. Esses documentos só recentemente foram abertos, eu simplesmente os encontrei quando comecei a pesquisa. Não acho que os historiadores russos fujam. Eles se concentram mais em Moscou e não deram bola para o que havia na Geórgia. É um lugar esquecido. E os arquivos trazem coisas impressionantes. Há memórias dos próprios gângsteres, por exemplo. Assim como os diários da mãe de Stálin. É muito excitante e dramático. Eu não parava de dizer para mim mesmo: "Que vida! Aventura, sexo e drama!"

FOLHA - Ao longo do livro, tem-se a impressão de que as palavras gangue e bandidagem são tão importantes quanto revolução. Você esperava isso?
MONTEFIORE - Não. Depois de escrever "A Corte do Czar Vermelho", eu sabia que encontraria muita violência na sua juventude. Mas o gangsterismo político, a rede de crimes foram novidades excitantes.

FOLHA - Você diz que os documentos mostram que as personalidades de uma pequena oligarquia eram a essência da política russa sob Lênin e Stálin, assim como haviam sido sob os czares e, agora, sob os políticos do século 21. Acha que [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] segue uma tradição de liderança?
MONTEFIORE - Não acho que Putin siga uma tradição de Lênin ou de Stálin, mas evidentemente ele está tentando fazer com que a Rússia seja mais forte. Stálin hoje está sendo reabilitado não como um líder comunista, mas como um czar e como um líder de guerra.

FOLHA - A descrição do assalto ao banco de Tbilisi, em 1907, que abre o livro, lembra o suspense que você usou no primeiro capítulo de "A Corte". Como historiador, quanto valoriza a narrativa?
MONTEFIORE - Escrevo meus livros seguindo a lógica da minha pesquisa, mas me esforço em fazer com que sejam legíveis e divertidos, mesmo para aqueles que nunca lêem livros de história. É possível ler "Young Stálin" (jovem Stálin) como uma história de aventura, na tradição de Alexandre Dumas ("Os Três Mosqueteiros"). Mas também é uma biografia íntima, uma pré-história da União Soviética e uma explicação do que é a Rússia hoje.

FOLHA - Você se sentiu especialmente tocado pela sua poesia?
MONTEFIORE - A poesia de Stálin é diferente, e os leitores vão ficar surpresos com sua delicadeza [leia ao lado].

FOLHA - Lênin considerava Stálin seu "expert no submundo". Se Stálin não tivesse existido, Lênin teria escolhido alguém como ele para fazer o trabalho sujo?
MONTEFIORE - Exatamente. Lênin escolheu Stálin, promoveu-o. Assim como a Trótski, porque eram os mais talentosos e os mais cruéis.

FOLHA - Quando descreve a viagem de Stálin para Londres, você diz que "naquela época, como hoje, a cidade era um refúgio notório para extremistas assassinos". Você acha o governo britânico pouco eficiente com relação ao terrorismo?
MONTEFIORE - O governo é brando com os extremistas islâmicos neste país. Tem medo de ofender a comunidade no geral.

FOLHA - Como a história de Stálin pode nos ajudar a entender o terrorismo dos dias de hoje?
MONTEFIORE - Stálin é uma espécie de mistura de Tony Soprano [personagem do seriado "Os Sopranos"], com Osama Bin Laden. Operou como um terrorista da Al Qaeda, ao mesmo tempo que liderou uma quadrilha de gângsteres. Então penso que, sim, esta é uma anatomia de como um terrorista dos dias de hoje vive e trabalha.

Lula admite disputar novo mandato, mas só em 2014
Petista afirma que apoiaria Aécio se ele entrasse no PMDB

Presidente propõe mandato de 5 ou 6 anos, sem reeleição

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que poderá disputar um terceiro mandato em 2014 ou 2015: "A conjuntura do momento vai indicar". Em entrevista à Folha, ele afirmou apoiar a emenda que acaba com a reeleição, desde que o mandato seja estendido para cinco ou seis anos. Quer uma candidatura única à Presidência dos partidos aliados -"se tiver quatro candidatos no campo do governo, o governo vai ficar imobilizado"- e admitiu apoiar o governador Aécio Neves (PSDB-MG): "Se entrasse no PMDB e fosse candidato da base, não teria problema nenhum. Mas precisaria saber se a base quer".

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em conversa de uma hora e meia na manhã de quarta-feira no Palácio do Planalto, Lula rejeitou tentar a re-reeleição em 2010. "Não existe hipótese para o bem do Brasil, para o bem da democracia e para o meu bem".
Bem-humorado, Lula (que completará 62 anos no dia 27) contou que aceitara convite da Aeronáutica para voar num caça a 45 mil pés (13,7 km) de altitude: "Vai dar para ver a curvatura do globo terrestre". Pediu café e fez introdução de cinco minutos sobre as realizações do governo: "Hoje, sou um homem convencido de que o Brasil se encontrou enquanto nação".

FOLHA - No primeiro mandato, FHC disse: "Governar é fácil". Ulysses Guimarães falou que o poder era "afrodisíaco". O que pensa?
LULA - Governar não é fácil. Tomar decisões nem sempre é fácil. Muitas vezes há choque do interesse do Estado com interesse de uma parte da sociedade, divergências entre dois ministros, pressão de interesses econômicos. Muito difícil governar. Para governar bem, é preciso determinação de fazer as coisas acontecerem.

FOLHA - O poder é afrodisíaco?
LULA - Não pelo lado sexual, mas pela adrenalina que toma conta de você. Você não vai mais a um restaurante, a uma festa: você vive por conta disso [poder] e isso te motiva. Às vezes, ligo para os ministros de noite cobrando coisa. Isso toma conta da gente, dá energia. Tinha muitas dúvidas sobre o segundo mandato: sempre achei que no segundo mandato você começaria a entrar na mesmice e iria cansando. Encontrei com o Fernando Henrique no velório do Frias [Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, morto em abril] e eu estava comentando com ele o segundo mandato. E ele dizia: "Você vai ver depois do segundo ano, quando as pessoas já estão pensando no sucessor". Adquiri consciência de que quero chegar ao final do mandato com os políticos querendo que eu suba em palanque. Não tem nada pior do que chegar ao final sendo recusado pelos seus aliados. Imagina um presidente que não pode ir a um comício porque ninguém quer que ele vá lá.

FOLHA - Se o sr. chegar ao final do mandato com imagem forte não despertará uma onda queremista, o Lula 2010? Muita gente acha que o sr. vai tentar a re-reeleição.
LULA - Porque no Brasil tem muita gente que não quer levar a política a sério. A alternância do poder é educadora para a construção da democracia. Não existe ninguém insubstituível.

FOLHA - Está vacinado contra a tentação?
LULA - Não existe hipótese para o bem do Brasil, para o bem da democracia e para o meu bem.

FOLHA - Descarta ser candidato a presidente em 2014 ou 2015 [quando terá quase 70 anos]?
LULA - Não. Em política, seria infantil da minha parte dizer que vou decidir o meu destino em 2014, 2015. Tenho uma filosofia que aprendi com a minha mãe: "Rei posto, rei morto".
Lembro que Juscelino Kubitschek imaginava voltar depois e não voltou. Não posso trabalhar em momento nenhum com essa hipótese na minha cabeça porque será o meu fracasso. Essa coisa, se tiver de acontecer, a conjuntura do momento vai indicar. Até porque quero dar um exemplo de ex-presidente: quero deixar a Presidência e não vou virar palpiteiro.

FOLHA - Apóia a emenda que acaba com a reeleição?
LULA - Um mandato de quatro anos é muito pouco. O presidente toma posse em 1º de janeiro. No primeiro ano não faz nada porque o Orçamento já está comprometido. No segundo, quando começa a fazer, tem eleições municipais: seis meses antes da eleição não pode fazer convênio com nenhuma prefeitura. Então, já tem um ano e meio morto. Depois tem outro ano para governar e, no ano seguinte, tem eleição. Um mandato de quatro anos no Brasil é quase inadministrável. Vamos acabar com a reeleição e aumentar o mandato.

FOLHA - Apóia a emenda?
LULA - Apóio, apóio. Se não aumentar o mandato, é melhor ficar a reeleição. Sei que para a oposição é ruim, porque ela sempre acha um mandato mais longo difícil, uma reeleição difícil, mas é importante que um presidente tenha a possibilidade de concluir um projeto.

FOLHA - Por que o sr. fala em candidatura única em 2010? Não seria melhor lançar vários candidatos e apoiar o que chegasse ao 2º turno?
LULA - Tenho uma base de apoio com vários partidos. Todo o meu esforço será para uma candidatura única. É um sonho. Vai se concretizar? Não sei. Se tiver quatro candidatos no campo do governo, o governo vai ficar imobilizado. Daqui a pouco vai estar o PT brigando com o PMDB, que briga com o PSB, que briga com o PC do B, que briga com o PR, que briga com o PDT. Ficamos brigando entre nós e deixamos nossos adversários tranqüilos. Precisamos fazer a briga interna e construir a possibilidade de candidatura única. Há o cargo de presidente, de vice, dois senadores, governadores. Tem cargo para todo mundo.

FOLHA - O PT não aceita deixar de lançar candidato a presidente.
LULA - É normal todo mundo achar que tem de ter candidato. Mas, entre achar e fazer, tem uma diferença muito grande.

FOLHA - Vai tirar licença para fazer campanha se tiver um candidato só?
LULA - Se estiver ótimo, vou ajudar os candidatos exercendo o mandato de presidente. Não tem nada melhor para ajudar os meus aliados de que o governo estar bem. Se o governo estiver bem, posso continuar fazendo as viagens internacionais e deixando a eleição correr. Se o governo estiver mal, muitas vezes pode acontecer de o governo estar mal e o presidente estar melhor do que o conjunto do governo. Aí tomo a decisão.

FOLHA - Se Aécio entrasse no PMDB, o sr. o apoiaria a presidente?
LULA - Se entrasse no PMDB e fosse candidato da base, não teria problema nenhum. Mas precisaria saber se a base quer.

FOLHA - O governo do sr. repete e até acentua a cultura política da fisiologia, distribuindo cargos no governo e emendas a parlamentares como forma de mantê-los fiéis. O sr. desistiu de romper com a fisiologia?
LULA - Uma coisa é a política real. Outra coisa é a interpretação que vocês [imprensa] dão à política real. Quero explicar isso. Nós estamos num governo de coalizão. Isso não vale para o Brasil. Vale para o mundo. Se você olhar a Angela Merkel [chanceler alemã], ela ganha as eleições e faz composição.

FOLHA - É correto condicionar o voto ao governo a verba ou cargo?
LULA - Não é correto. Aqui não se trabalha assim. Quando propus aos partidos uma coalizão, é justo montar o governo com os partidos da coalizão. Não é correto montar com o PT e ficar pedindo o voto dos outros.

BLOG

BATE-PAPO PRÊMIOS ESPECIAL
Patrocínio

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player


Philip Morris
AMBEV


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).