São Paulo, sábado, 2 de janeiro de 2010

CAPA

Cara nova na HQ

É na velha Betsy, prancheta de desenho feita pelo pai, que o garoto João cria as peripécias de Doubli

Letícia Moreira/Folha Imagem


SILVIA DE MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O garoto Doubli tem uns nove anos, não é lá muito estudioso, gosta de futebol e no momento está tentando aprender a andar de bicicleta.
Ele é um dos personagens criados por um garoto só um pouco mais velho: João Montanaro, que tem 13 anos e estreia hoje como quadrinista da Folhinha.
O adolescente começou a desenhar quando tinha seis anos. Aos nove, conquistou o primeiro lugar no 4º Salãozinho de Humor de Piracicaba (SP), que reúne feras e novatos de HQs e cartuns.
A prancheta que usa para desenhar foi feita pelo pai e batizada de velha Betsy. Ao lado dela, está um aquário com dois peixes vermelhos -Doubli, seu alter ego, tem um caracol de estimação.
É nesse cantinho que ele bola suas histórias, sempre à noite. "Na maioria das vezes, tenho de me concentrar para ter ideias para as tiras." Ele anota tudo num caderno de rascunhos.
O menino aprendeu a desenhar sozinho. E em bate-papos com cartunistas veteranos recebe alguns dos toques mais importantes. Foi numa troca de e-mails que o ilustrador Orlando Pedroso o convidou para visitar seu estúdio. Desde então, virou seu "mestre".
"Ele me falou que, para ser um bom cartunista, é preciso ler muito para ter boas referências", diz o garoto, que faz também cartuns para a revista "Mad".
Joãozinho, como é carinhosamente chamado por cartunistas como Adão Iturrusgarai, segue o conselho. Mas é na internet que faz seus maiores achados: ele já "googlou" desde o escritor Franz Kafka até o roqueiro Jimi Hendrix.

BRINQUE DE QUADRINISTA
Dicas para criar suas história sem quadrinhos
1) Ler quadrinhos para conhecer essa linguagem é o melhor começo. Agora, para criar essas histórias, é importante ler livros e jornais, ver filmes etc.

2) Ao criar um personagem, é importante dar "vida" a ele. Não basta só fazer o desenho. É preciso pensar nas características, nas preferências, nas manias e nas qualidades do personagem.

3) Os quadrinhos permitem explorar bastante a imaginação na criação dos personagens e das histórias. É possível pensar nas situações mais absurdas e fantasiosas ou em situações simples do cotidiano.

4) A ideia central da história se chama argumento. É o resumo do que vai ser contado na HQ. É a primeira parte do processo de criação.

5) A parte seguinte é a criação do roteiro, que é a história contada em detalhes, já com as falas e as situações vividas pelos personagens. Nessa parte, dá para fazer um rascunho de como serão as cenas que vão contar a história.

6) Depois da criação do roteiro, são feitos os desenhos a lápis, para ver como as cenas vão ficar, juntando desenhos e textos. Uma sugestão é escrever a fala dos personagens primeiro, para ver o espaço que vai sobrar para os desenhos.

7) Por último vêm a arte-final (hora de passar a caneta no desenho feito a lápis) e a colorização das cenas.

8) Depois da história pronta, basta pensar numa forma de mostrá-la para os seus leitores. Pode ser num blog

Fonte: João Marcos Parreira Mendonça, quadrinista (www.mendelevio.com.br) e professor da Faculdade de Design Gráfico da Univale.

OS PREFERIDOS DE JOÃO, 13
Time Palmeiras
Música Pink Floyd
Videogame Mario Bros
Desenho "Bob Esponja"
Comida Pizza de pepperoni
Esporte Futebol
Cartunista Adão, Angeli e Liniers
Pintor Picasso

Conheça mais o jovem quadrinista em: http://porjoao.blogspot.com/
www.twitter/joaomontanaro

OS PREFERIDOS DE DOUBLI, 9
Time Ipiranga do Sul
Música Beatles
Videogame Pac-Man
Desenho "Ren e Stimpy"
Comida Sanduíches
Esporte Futebol
Cartunista João
Pintor Jim Flora

DICAS DOS FERAS
Como surgem as ideias?
"Cada tirinha começa comuma sacada. Pode ser um assunto que alguém propõe, uma bobagem dita ou feita ou um jeito diferente de ver uma notícia. Ou seja, a cabeça fica ligada 24 horas por dia para captar situações. O passo seguinte é registrar a sacada de alguma maneira, às vezes anotando num guardanapo, na palma da mão... senão a ideia vai embora."
JÃO GARCIA, jornalista e cartunista, criador de Os Cientistas em Quadrinhos
(http://jaogarcia.blog.uol.com.br)

Como trabalha o quadrinista?
"O processo para qualquer desenhista é o mesmo: procurar ter ideias originais, rabiscar muito, estudar o desenho de desenhistas que você admira, copiar e procurar um caminho próprio."
ORLANDO PEDROSO, ilustrador da Folha
(www.orlandopedroso.com.br)

Quais são os jeitos de criar?
"Como existem milhares de modos de desenhar, também são milhares os modos de fazer quadrinhos. O que há em comum entre todos eles é que se trata de contar uma história comimagens (e palavras também). Costuma-se usar a forma de leitura da escrita da esquerda para a direita e de cima para baixo. Isso é importante na hora de botar os balões de fala."
LAERTE COUTINHO, cartunista, criador de Suriá
(www.uol.com.br/laerte)

Como é que se começa?
"É só botar o lápis no papel e começar a rabiscar. Às vezes, nem isso. Às vezes, dou uma caminhada e fico pensando em como resolver tal tirinha. A caminhada dá uma arejada. Às vezes, também um amigo diz uma grande bobagem que é uma piada pronta."
ADÃO ITURRUSGARAI, cartunista, criador de O Ilusionista
(http://adao.blog.uol.com.br)

As tirinhas dos cartunistas Robles, Jão, MZK e Galvão deixam de ser publicadas a partir de hoje.


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.