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Natal
"Ninguém se lembra de dar presente para mim"
Em entrevista exclusiva, Papai Noel conta que tinha o apelido de Nico e praticava sumô na infância
FABRÍCIO CARPINEJAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Como encontrar o Papai
Noel? Era meu desejo de infância. Quando eu tinha oito
anos, só o vi uma vez, muito
rápido, de relance, no momento em que deixou o
aguardado par de patins na
árvore de Natal de casa.
Não reparei no rosto nem
na roupa, só percebi uma
nuvem vermelha que pintou a noite estrelada daquele 25 de dezembro de 1980.
E fiquei desesperado
quando a Folhinha me pediu para entrevistar Noel.
Ora, como encontrar o
velhinho, ainda mais agora,
adulto, sem a esperança de
menino? Não havia jeito de
telefonar, mandar carta e e-mail. Papai Noel não tem
assessor de imprensa.
Ele sabe de todos, mas
ninguém sabe dele.
Como vou achá-lo? Ele é
mais incomunicável do que
a Madonna. Mais reservado
do que o Chico Buarque.
Suas residências, a mansão com piscina congelada
no pólo Norte e o chalé na
Lapônia, são longe daqui.
Lembrei do que minha falecida avó Elisa Margarida
me explicou certa vez: "Papai Noel só conversa com
quem sonhar com ele durante cinco dias seguidos".
Então eu me concentrei
bastante. Passei a dormir
cedo, às 20h, comer muita
verdura e a botar músicas
natalinas em meu iPod. Colocava até venda nos olhos
para não ser atrapalhado.
Sonho
Em setembro, sonhei três
dias seguidos. Em outubro,
estava sonhando cinco madrugadas, direto, mas o telefone tocou bem na hora em
que ele iria aparecer.
Quando quase desistia da
missão, sonhei uma semana
inteirinha. O problema é
que era uma festa. Sonho
mistura tudo de um modo
estranho. Estavam lá Hebe,
Beatles, Charlie e Lola,
Backyardigans, Mister Maker, jogadores do Milan.
Eu perguntava, dentro do
meu sonho, onde é que estava o Papai Noel. Comecei a
chorar e alguém me confortou: "Não chora, não chora!" Eu levantei o rosto.
Era o Papai Noel!
Ele tomava chocolate
quente, me observou com
ternura e apenas disse: "Espero você no prédio mais alto de São Paulo no dia 2 de
novembro, ao meio-dia, no
elevador. Nem um minuto a
mais nem um minuto a menos". E sumiu dentro de
uma caneca, em que estava
escrito "I love you".
Fui procurar qual era o
prédio mais alto da capital
paulista: Mirante do Vale,
na avenida Prestes Maia, na
região central, com 170 metros de altura e 51 andares.
Parti ao encontro, ansioso, com medo de que minha
fantasia não se realizasse.
Na terça, 2 de dezembro,
às 11h56, tomei o elevador.
Apertei no 51º, nada do Papai Noel. Desapontado, lamentei o engano. Baixei o
rosto, fechei a porta, fui descer e ele surgiu no espelho:
- Fabrícioooooo?
- Ai, meu Deus.
- Como você cresceu!
Perdeu seus cabelos? Você
não era loiro?
Achei melhor nem responder e partir para as perguntas. Confira o bate-papo
com Papai Noel ao lado.
FABRÍCIO CARPINEJAR é poeta e cronista, autor de "Diário de um Apaixonado" (ed. Mercuryo
Jovem) e "Filhote de Cruz-Credo (ed. Girafinha).
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