São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

Natal

"Ninguém se lembra de dar presente para mim"

Em entrevista exclusiva, Papai Noel conta que tinha o apelido de Nico e praticava sumô na infância

FABRÍCIO CARPINEJAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Como encontrar o Papai Noel? Era meu desejo de infância. Quando eu tinha oito anos, só o vi uma vez, muito rápido, de relance, no momento em que deixou o aguardado par de patins na árvore de Natal de casa.
Não reparei no rosto nem na roupa, só percebi uma nuvem vermelha que pintou a noite estrelada daquele 25 de dezembro de 1980.
E fiquei desesperado quando a Folhinha me pediu para entrevistar Noel.
Ora, como encontrar o velhinho, ainda mais agora, adulto, sem a esperança de menino? Não havia jeito de telefonar, mandar carta e e-mail. Papai Noel não tem assessor de imprensa.
Ele sabe de todos, mas ninguém sabe dele.
Como vou achá-lo? Ele é mais incomunicável do que a Madonna. Mais reservado do que o Chico Buarque.
Suas residências, a mansão com piscina congelada no pólo Norte e o chalé na Lapônia, são longe daqui.
Lembrei do que minha falecida avó Elisa Margarida me explicou certa vez: "Papai Noel só conversa com quem sonhar com ele durante cinco dias seguidos".
Então eu me concentrei bastante. Passei a dormir cedo, às 20h, comer muita verdura e a botar músicas natalinas em meu iPod. Colocava até venda nos olhos para não ser atrapalhado.

Sonho
Em setembro, sonhei três dias seguidos. Em outubro, estava sonhando cinco madrugadas, direto, mas o telefone tocou bem na hora em que ele iria aparecer.
Quando quase desistia da missão, sonhei uma semana inteirinha. O problema é que era uma festa. Sonho mistura tudo de um modo estranho. Estavam lá Hebe, Beatles, Charlie e Lola, Backyardigans, Mister Maker, jogadores do Milan.
Eu perguntava, dentro do meu sonho, onde é que estava o Papai Noel. Comecei a chorar e alguém me confortou: "Não chora, não chora!" Eu levantei o rosto. Era o Papai Noel!
Ele tomava chocolate quente, me observou com ternura e apenas disse: "Espero você no prédio mais alto de São Paulo no dia 2 de novembro, ao meio-dia, no elevador. Nem um minuto a mais nem um minuto a menos". E sumiu dentro de uma caneca, em que estava escrito "I love you".
Fui procurar qual era o prédio mais alto da capital paulista: Mirante do Vale, na avenida Prestes Maia, na região central, com 170 metros de altura e 51 andares.
Parti ao encontro, ansioso, com medo de que minha fantasia não se realizasse.
Na terça, 2 de dezembro, às 11h56, tomei o elevador. Apertei no 51º, nada do Papai Noel. Desapontado, lamentei o engano. Baixei o rosto, fechei a porta, fui descer e ele surgiu no espelho:
- Fabrícioooooo?
- Ai, meu Deus.
- Como você cresceu! Perdeu seus cabelos? Você não era loiro?
Achei melhor nem responder e partir para as perguntas. Confira o bate-papo com Papai Noel ao lado.


FABRÍCIO CARPINEJAR é poeta e cronista, autor de "Diário de um Apaixonado" (ed. Mercuryo Jovem) e "Filhote de Cruz-Credo (ed. Girafinha).

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