São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

Conheça os bastidores de uma escola de samba

Enredo
Todo desfile de Carnaval começa com a história que a escola de samba vai contar na avenida. Em geral, o enredo fala de assuntos brasileiros: tradições, costumes ou pessoas famosas do Brasil. Mas também podem falar de temas estrangeiros (como narrar a história do livro "Alice no País das Maravilhas"). O importante é que o enredo seja fácil para todo mundo entender.

Samba-enredo
É a música que cada escola compõe para cantar seu enredo. Quanto mais simples for a letra, melhor. Assim, o público canta junto com a escola.

Comissão de frente
É o primeiro grupo de integrantes da escola a passar a pé pela avenida. Sua missão é saudar o público que vai assistir ao desfile. Formada por dez a 15 sambistas, já foi representada pelos diretores da escola que desfilavam com cartolas e fraques (roupa de festa para homens, curta na frente e com longas abas atrás). Hoje é representada por bailarinos que apresentam uma coreografia inspirada no enredo.

Carro abre-alas
É o primeiro carro alegórico a passar pela avenida. Traz o nome da escola (escrito na frente) e pede passagem para o desfile começar. As escolas de samba mirins têm de um a três carros alegóricos. Eles passam devagar, mas precisam atravessar a avenida durante o tempo regulamentar: meia hora.

Mestre-sala e porta-bandeira
Antes da bateria, vem o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que exibe a bandeira da escola ao público. Antigamente a missão do mestre-sala era defender a bandeira para ela não ser roubada por adversários de outras escolas. A exibição do casal precisa ser perfeita. Qualquer tropeção ou movimento errado (como a bandeira bater no mestre-sala) prejudica a escola.

"Eu era pequenininho quando entrei no projeto da escola. Primeiro tem que aprender a defender a porta-bandeira. Depois tem que aprender a dançar."
Henrique Vera Leonel, 11, é mestre-sala da Herdeiros da Vila.

Alas
Entre os carros alegóricos, vêm as alas, formadas pelos integrantes da escola. Antigamente todos os participantes vestiam a mesma fantasia. Na década de 50, quando foi criado o samba-enredo, a escola foi dividida em grupos para contar o enredo com fantasias diferentes. As escolas mirins não têm limite de alas. Nelas só desfilam as crianças da comunidade da escola.

Fantasias
As fantasias explicam a história que a escola está contando. Os materiais, as cores, as formas e os efeitos das fantasias são escolhidos de acordo com o enredo. Uma escola que fala do Descobrimento do Brasil, por exemplo, não pode ter fantasias de personagens da Disney. Nas escolas de samba mirins, todas as fantasias são doadas.

Adereços
São os enfeites que os integrantes carregam nas mãos.

Alegorias
São os carros que mostram as várias partes do enredo da escola. Quanto mais efeitos especiais, mais sucesso eles fazem na avenida (exemplo: dragão que solta fumaça pelo nariz). Os carros alegóricos são um segredo que as escolas guardam para apresentar só no dia do desfile. São empurrados por pessoas. Nenhuma alegoria pode ser movida por animais ou carros motorizados.

Destaques
São os personagens do enredo da escola que desfilam sobre os carros alegóricos.

Ala das baianas
É a ala mais antiga da história das escolas e é obrigatória nos desfiles. As escolas de samba mirins são obrigadas a desfilar com no mínimo 30 baianas. Durante sua apresentação, as participantes rodopiam para rodar bem as saias e causar efeito na avenida.

Evolução
Aqui o que conta é a empolgação de todos os integrantes da escola. O que vale é mostrar alegria, vibração e garra. Todo mundo precisa cantar no ritmo do samba e dançar do começo ao fim da avenida. As pessoas também precisam evitar os buracos (espaços) entre uma ala e outra.

Harmonia
Com apitos e megafones, os mestres da harmonia são os sambistas que percorrem as alas durante o desfile para não deixar a escola atravessar o samba: quando uma parcela da escola canta uma parte da letra e outra parcela canta outra parte.

Bateria
É o coração da escola. É ela que segura o ritmo do canto e da dança. As baterias das escolas de samba mirins têm até 230 integrantes. As melhores baterias inventam paradinhas, breques, batidas e coreografias durante a execução da batucada. A bateria é formada por surdos, caixas, chocalhos, repiques, tamborins, cuícas e agogôs. São proibidos instrumentos de sopro.

"Todo ano a bateria faz uma coisa diferente. Quando vem o refrão, a gente faz uma paradinha em cima."
Jorge Henrique Gonçalves da Silva, 16, diretor-mirim da bateria da Estrelinha da Mocidade, destaque da escola em 2003.

Rainha e princesas da bateria
Na frente da bateria, vão a rainha e as princesas da bateria. Elas são as melhores passistas da escola, dançarinas que mostram que têm o samba nos pés.

Carro de som
Vem sempre atrás da bateria. Traz o puxador de samba oficial da escola, acompanhado de três a quatro auxiliares para ajudar no coro. São eles que vêm cantando o samba-enredo na avenida.

Ala de passistas
Geralmente vem atrás do carro de som, bem próximo da bateria. É formada por meninos e meninas que atravessam a avenida sambando.

Preparação do desfile
Leva um ano para a escola de samba organizar seu desfile de Carnaval. Logo depois que termina um já começa a preparação do próximo.
Em março, um grupo de diretores da escola escolhe o enredo do ano seguinte. Depois de fazer uma pesquisa sobre o assunto, a equipe faz um resumo da história que a escola vai apresentar.
Em maio, os artistas da escola, conhecidos como carnavalescos, começam a desenvolver as partes que formam o enredo. Desenhistas, figurinistas e cenógrafos usam toda a criatividade para inventar fantasias e alegorias que combinem com o enredo.
Em junho, o resumo do enredo é passado para os compositores da escola, que compõem vários sambas-enredo e selecionam o melhor até julho.
Também em julho, começa a montagem dos carros alegóricos. Os ferreiros constroem as estruturas metálicas, e os carpinteiros fazem seu revestimento em madeira. Em seguida os escultores elaboram as gigantescas esculturas que vão enfeitar os carros. Aí vem os pintores com suas cores e o pessoal do acabamento, chamados aderecistas, que dão os retoques finais e montam as instalações elétricas de cada carro. Esse trabalho só termina um dia antes do desfile.
Em setembro, as costureiras e os artistas plásticos dão formas e cores às fantasias e aos adereços.
Enquanto isso os integrantes estão na quadra da escola ensaiando o samba.
Em dezembro, dois meses antes do desfile, têm até tem dois ensaios por semana.
No dia do desfile, com tudo pronto na avenida, é hora de torcer para tudo correr bem e esperar o público aplaudir o espetáculo da escola.

Regulamento
O desfile das escolas de samba mirins ocorre logo após a abertura oficial do Carnaval carioca, na sexta-feira, com a presença do Rei Momo e sua comitiva. Elas seguem as mesmas regras das escolas oficiais. Só não têm campeonato. A equipe de julgadores, formada por professores e profissionais do Carnaval, destaca o melhor de cada escola. Assim, todas as escolas ganham.

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