Crianças
São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

Urso, elefante, leão, tigre

Os animais que trabalham no circo são cavalo, pônei, elefante, macaco (chimpanzé e orangotango), cachorro, leão, tigre, urso, lhama, dromedário, hipopótamo, pombo e foca. No circo do Nordeste, a reportagem assistiu a shows com bode e ouviu as pessoas contando sobre os números com galinha.
Rivanir, 19, do Circo Arizona (BA), contou, fazendo graça, que "é só botar a galinha dentro de uma panela quente que ela sai dançando."
No Magic Show (SP), a domadora Brenda Lee trouxe à cena suas pombas amestradas. Um carrossel de pombas. Uma ave andou de bicicleta. Brenda também se apresentou com a elefanta Semba, que tem 32 anos e pesa cinco toneladas. Semba tocou gaita e cumprimentou a platéia.
O adestrador Iuri, que também é equilibrista e trapezista, exibiu seus cachorros amestrados. Fazer cachorros parecerem humanos foi a graça da atração. Alguns puddles saltaram em argolas e por cima de obstáculos. Um cão andou nas patas dianteiras. Um outro conduziu um carrinho de boneca e outro cão se fingiu de morto. Vários cachorros dançaram ao som de canção dos Mamonas Assassinas. Uma cadela e um cão dançaram vestidos de noivos.
Os animais sofrem no circo? Alice Viveiros de Castro acha "burrice" o artista circense maltratar seus animais. É como ter um bicho de estimação em casa. "Dona Carola, do circo Garcia, é quem mais ajuda o macaco chimpanzé a se reproduzir no Brasil", diz Alice.
Ela explica que o artista circense espalhou pelo mundo o conhecimento sobre os animais selvagens. "A origem da doma vem do Egito. O livro "O Circo no Brasil" conta que, quando os generais ganhavam uma batalha, treinavam os animais e desfilavam com eles para mostrar até onde seu poder tinha ido".
Alice conta que, além da doma, os circenses ensinaram a lidar com ursos e leões. "O circo sabia que comida oferecer, como colocar o animal na jaula. Os circenses foram os primeiros psicólogos e veterinários de animais de grande porte. Era comum os circos antigos serem chamados de Circo Zoológico".
Mas continua sendo necessária a fiscalização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), para os animais ficarem protegidos e para não haver compra ilegal. Todo circo deve ter, ainda um veterinário responsável.
O domador Edmar Portugal, do Circo Bremer e irmão de Edson Portugal, do Astor, premia o urso do Bremer com balas quando ele acerta os números. "Às vezes, o domador mostra o chicote, para o animal respeitar e, na hora do show, não ficar brincando. Se eu não entrar com a varinha, o urso me derruba."
Beto Pinheiro, diretor do Circo de Napoli (SP), explica que o chimpanzé Nino, 10, é o mais difícil animal para trabalhar. O Macaquinho Inteligente, faz parada de cabeça, anda na corda bamba e tira a roupa. A macaca Mônica, do Bremer, toma cerveja, anda de bicicleta e de patinete.
O urso Winkie, do Bremer, dança, equilibra-se no cilindro, toca pistom e brinca de escorregar. Fofa e Pupi, do Circo de Napoli, são um casal de ursos siberianos que se apresentou de focinheira no Circo de Napoli. A ursa estava de laço de fita, dançava valsa e tomava mamadeira.
No Circo Bremer, um caubói e um cavalo bêbados se apresentam assim também. O cavalo bebe cachaça (de mentirinha) na garrafa do caubói. As exibições com cavalos mostram as façanhas dos cavaleiros, que dão saltos mortais e se equilibram no lombo do animal. O cavalo do Bremer responde sim e não com movimentos da cabeça e se ajoelha.
O macaco Jungle do Bremer faz parada de mão e fuma. O chimpanzé dá saltos olímpicos e dança ao som de "Segura o Tchã", além de dar uma volta de moto pelo picadeiro.
Brenda Lee, a domadora É difícil viver cada mês em um lugar? Não para a pessoa que nasce, é criada e aprende uma profissão dentro do circo. É o caso de Brenda Lee Estevanoviche, 38, que nasceu em Porto Alegre, tem mãe argentina, e o pai descende de iugoslavo, ambos do circo. "Adoro o circo. Vou a Porto Alegre, e logo dá vontade de voltar, é pegar a correspondência e partir." Brenda disse que estudou veterinária. "Mas, no fim-de-semana, eu corria para o circo."
Brenda diz que sempre trabalhou com animais: tigre, urso, leão, chimpanzé, elefante. Ela aprendeu a profissão com o primo, Osvaldo Estevanoviche. Aos 6 anos, Brenda "andava agarrada no meio das calças dele. Eu ia no meio do hipopótamo, do elefante, fui me entrosando de um jeito que descobri o comportamento dos animais. Sei quando eles têm dor de ouvido, têm gripe." (Mônica Rodrigues Costa)

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