São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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O PT e o Criador

ODON PEREIRA

Um dos conceitos mais perniciosos da esquerda paleolítica, da qual o vereador Francisco Whitaker é líder, consiste em atribuir suas derrotas ao que chama "baixo nível" ou "despolitização" do povo.
O vereador do PT exibe com cristalina clareza esse conceito no artigo publicado nesta coluna no último dia 27: os adversários de seu partido só conseguem ser vitoriosos em razão do "baixo nível" ou "despolitização" do povo.
Assim, pensando atingir o prefeito, o vereador julga as pessoas que votaram em Paulo Maluf como incapacitadas à cidadania. Nesta noção está o principal perigo do PT. Para vencer eleições, o partido quer eleitores com "alto nível" e uma "alta politização".
Este tipo de raciocínio é a matriz, o eixo teórico do totalitarismo que submeteu durante tantas décadas os países do Leste Europeu.
No regime democrático, o cidadão vota segundo avaliação pessoal. Por isso, elege ora um, ora outro partido político, estabelecendo naturalmente o saudável princípio da rotatividade no poder.
A incompatibilidade do PT com esse princípio é cada vez mais presente em sua prática. Afirma pretender o poder através do voto mas exige dos eleitores um "alto nível" e uma "alta politização". O problema todo é que só o PT se julga apto a medir esse nível.
O caso de São Paulo é exemplar. Ao eleger Luiza Erundina em 1988, o "bom povo" deu prova de "alta politização e alto nível". Mas veio uma nova eleição e o PT perdeu. Foi o suficiente para os petistas descobrirem que o eleitor continua com "baixo nível" e "despolitizado".
Vem daí a vocação totalitária do PT. Se eventualmente chegasse à Presidência da República numa eleição democrática, seria fatalmente tentado a se perpetuar no poder, utilizando-se de alguma forma antidemocrática. Isso aconteceria por razões lógicas: "proteger o bom povo" e impedir que "cometa erros", como o de não eleger Suplicy em 92.
É assim também que os militantes dessa extração se desumanizam. Consideram o cidadão comum um energúmeno, cujo cérebro é um recipiente vazio a ser preenchido pela "boa ideologia".
O vereador Whitaker não percebe que "modelar cérebros" é uma missão que transcende a política. E já foi cumprida, como nos informa uma formidável reportagem, a maior de todos os tempos. Seu título é Velho Testamento. A missão a que se propõem o vereador Whitaker e o PT durou seis dias, ao fim dos quais Ele descansou.

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