São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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Fisiologistas esquecem a rivalidade e criam grupo

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A rivalidade entre São Paulo, Corinthians e Palmeiras perde força na parte de fisiologia. Os quatro responsáveis pela orientação dos programas de preparação física dos três principais times do Estado são adversários apenas dentro de campo. Turíbio Leite de Barros Neto, 43, do São Paulo, Renato Moreira Fraga Lotufo, 37, do Corinthians, e os palmeirenses Ivan Piçarro da Cruz, 40, e Paulo Sérgio Martino Zogaib, 36, mantêm, extrafutebol, fortes ligações pessoais e profissionais.
Os quatro são professores da Escola Paulista de Medicina (EPM), instituição federal que oferece um dos cursos de medicina mais famosos do país. Lotufo, Zogaib e Leite de Barros também são sócios num serviço de consultoria em fisiologia do exercício em duas das mais modernas academias da cidade de São Paulo, a Physis, criada em 1990, e a Fórmula, inaugurada em 1993. Piçarro e Leite de Barros são cunhados –este é casado com a irmã daquele. Além disso, são todos amigos.
"Os nossos métodos de trabalho são quase iguais, usamos os mesmos programas de computador, mas, é claro, ninguém conta para o outro os resultados do seu trabalho. Aí, é cada um por si", explica Renato Lotufo, o "calouro" do grupo. Lotufo "estreou" no Corinthians em março, dentro do projeto de modernização do departamento de futebol implantado pela diretoria recém-eleita.
Leite de Barros é uma espécie de líder do grupo. Foi o primeiro a se especializar em fisiologia do exercício, a área que estuda a influência dos exercícios sobre a atividade cárdio-respiratória e muscular. Também foi o primeiro a ser contratado por um clube. Foi para o São Paulo em 1986, quando o técnico era Cilinho. Zogaib e Piçarro estrearam em fevereiro no Palmeiras.
Turíbio Leite, Zogaib e Lotufo fazem nas duas academias o mesmo trabalho que realizam no São Paulo, Palmeiras e Corinthians. Entre seus clientes, estão ou estiveram times inteiros de futebol, vôlei e basquete, automobilistas e tenistas de ponta, entre outros.
Ivan Piçarro foi o único que não abandonou a pesquisa acadêmica. Ele é o chefe do laboratório de Fisiologia do Exercício Experimental da EPM. Ele faz com animais, especialmente ratos, testes físicos que podem no futuro servir de base para ampliar o conhecimento em seres humanos, atletas ou não.
O início do trabalho do grupo começou em 1976, com o próprio São Paulo. No ano seguinte, Ivan Piçarro defendeu uma tese de mestrado, orientado por Leite de Barros, com base nesse trabalho com os jogadores são-paulinos.
Na Escola Paulista de Medicina, o grupo fez trabalhos pioneiros no futebol. O Projeto Bolívia, idealizado pelo São Paulo para jogar na Taça Libertadores da América do ano passado, teve como semente um trabalho de adaptação à altitude coordenado pelo próprio Turíbio na EPM. O cliente era uma equipe treinada por Telê Santana, hoje no São Paulo: a seleção brasileira que ia disputar a Copa do Mundo do México, em 1986.
Um dos objetivos desse projeto era ver como cada jogador da seleção se comportaria com a sensação de falta de ar que eles enfrentariam na Cidade do México, a mais de 2.000 m de altitude.
No teste de São Paulo, a solução foi criar uma mistura mais pobre em oxigênio –o nitrogênio, por ser inerte, não é "percebido" pelo aparelho respiratório humano. Um dos "cobaias" do projeto foi Zogaib. "É, na época eu era aluno de pós-graduação", diz brincando.

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