São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Petrobrás, a história em números

JOEL MENDES RENNÓ

Aumentar 550 vezes as reservas de petróleo, que hoje totalizam 8,1 bilhões de barris, 270 vezes a produção interna (total diário de 720 mil barris atualmente) e mais de 180 vezes a capacidade de refino (1,8 milhão de barris por dia), eis alguns dos resultados alcançados pela Petrobrás em 40 anos de existência, período em que proporcionou ao país uma economia de divisas da ordem de US$ 182 bilhões.
Desde a sua criação, em 1953, a Petrobrás investiu cerca de US$ 80 bilhões no Brasil, dos quais US$ 70 bilhões provenientes de suas atividades e de parcela captada no mercado de capitais; US$ 9,4 bilhões de reaplicação pela União de dividendos recebidos e de aplicação de isenções tributárias, de impostos cobrados para fins de investimentos; e somente US$ 600 milhões de investimentos diretos do governo.
Recente estudo desenvolvido pela Universidade de Campinas (Unicamp) mostra que os investimentos de todas as empresas estrangeiras no país, em todos os tempos, registrados no Banco Central, incluindo os reinvestimentos, atingem US$ 72,5 bilhões, inferiores, portanto, ao que investiu a Petrobrás.
Em 40 anos de trabalho, a companhia descobriu cerca de 11,5 bilhões de barris de petróleo. Tendo produzido cerca de 3,4 bilhões, dispõe atualmente de reservas da ordem de 8,1 bilhões de barris de óleo, além de 137 bilhões de m3 de gás natural. Estas reservas representam um patrimônio superior a US$ 20 bilhões, enquanto o acervo industrial da empresa (refinarias, plataformas, equipamentos, terminais, campos de petróleo e gás, plantas petroquímicas e de fertilizantes, etc.) vale mais de US$ 50 bilhões.
A venda de produtos a preços abaixo dos níveis internacionais, nos últimos sete anos, significou repassar à sociedade cerca de US$ 20 bilhões.
Até 1938, capitais privados nacionais e internacionais podiam ser aplicados em quaisquer atividades petrolíferas no Brasil. As companhias estrangeiras, entretanto, investiram somente na distribuição de derivados, segmento dos mais lucrativos; traziam os produtos de petróleo de refinarias no exterior, maximizando, assim, seu lucro, no refinar o óleo além-mar. De 1938 a 1953, a legislação estabeleceu que somente empresas brasileiras poderiam refinar petróleo no país, não se permitindo esta atividade a companhias internacionais.
Em 1953, o consumo nacional era de 150 mil barris/dia de derivados e só se contava com uma refinaria, do grupo Ipiranga, com capacidade para processar 6.000 barris por dia, e outra, na Bahia, operada pelo Conselho Nacional de Petróleo (CNP), com capacidade aproximada de 4.000 barris por dia.
Naquela época, três grupos privados, antecipando-se à instituição do monopólio, buscaram concessões para construir três novas refinarias: a de Capuava, em São Paulo (20.000 mil barris/dia, inaugurada em 1954), a de Manguinhos, no Rio de Janeiro (10.000 mil barris/dia, inaugurada em 1954) e a de Manaus, no Amazonas (5.000 barris/dia, inaugurada em 1957). Estas refinarias teriam então o mercado nacional garantido. Possivelmente, esta terá sido uma das razões para a sua implantação.
O lucro da atividade no país estava na distribuição de derivados, praticamente sob a administração de multinacionais, não havendo, portanto, a geração interna de recursos para importantes investimentos em outros segmentos da indústria do petróleo. O melhor resultado na atividade em todo o mundo estava na transformação, em refinarias dos países desenvolvidos, do óleo barato do Oriente Médio e na venda aos países importadores de derivados, que pagavam os preços que fossem determinados.
Este comércio notável estava, na sua quase totalidade, cartelizado pelas denominadas "Sede Irmãs", grandes corporações de petróleo que dominavam todas as fases desta indústria. Esta realidade só se modificou com a nacionalização da indústria do petróleo em todos os países expressivos exportadores desta importante matéria-prima e com a criação de estatais de petróleo, na maior parte dos países importadores de derivados. Este ciclo se completou na década de 70.
Para reverter este quadro de mero importador, seria necessário que o Brasil dispusesse de um parque de refino próprio, com escala para gerar os recursos necessários, tendo em vista permitir investimentos na descoberta e produção de petróleo.
Com o estabelecimento do monopólio estatal do petróleo, que pertence à União, a Petrobrás, empresa executora deste instituto, decidiu investir na construção de grandes refinarias, a fim de que fossem gerados os recursos indispensáveis às diversas atividades do setor no país.
As refinarias da companhia (nove por ela instaladas e outras duas adquiridas de particulares) permitiram o abastecimento do mercado nacional aos menores custos para a sociedade, em face da economia de escala, bem como possibilitaram a venda dos produtos a preços inferiores aos importados. Não fôra esta ação, teria sido pago o preço imposto pelos cartéis internacionais de refino e distribuição, cujos valores eram superiores aos praticados pela estatal.
O trabalho da Petrobrás não se limitou, porém, ao refino. Por muitos anos, como até hoje, dedicou-se à exploração da extensa bacia sedimentar brasileira e onde encontrou petróleo passou a produzí-lo. A partir dos anos 70, buscou explorar e produzir na plataforma marítima continental, onde vem colhendo os maiores êxitos de sua história.
Os trabalhos realizados em lâminas d'água cada vez mais profundas, por força da condição geológica ter-se mostrado favorável nesta circunstância, levaram a companhia a obter recordes sucessivos na produção de petróleo e de gás natural no mar. Detendo inovadora tecnologia neste campo, a Petrobrás é considerada internacionalmente a empresa n.º 1 na atividade de produção em águas profundas, tendo sido distinguida com o reconhecimento máximo do setor petróleo, no ano passado, quando lhe foi concedido o prêmio da "Offshore Technology Conference (OTC)".
A produção nacional de petróleo aumentou à razão de 7% ao ano na última década, contra um crescimento de 2,5% ao ano da demanda de derivados. Com os projetos em andamento, a produção crescerá 9,3% ao ano, entre 1994 e 1997, contra um aumento previsto para a demanda entre 2% e 4% ao ano.
O intercâmbio com os nossos vizinhos da América Latina e outros países, que têm no petróleo uma excelente contrapartida para as exportações brasileiras, segue complementando o atendimento das nossas necessidades energéticas, prática que se considera adequada aos interesses comerciais do país.
Outra mensagem de otimismo realista, neste momento tão importante da vida do país, resulta da orientação superior das autoridades do setor e da administração da Petrobrás, no sentido de ampliar cada vez mais a busca de parcerias em projetos de significativo interesse nacional.
A Petrobrás administra uma carteira de 270 empreendimentos, na sua grande maioria em execução, como a ampliação da refinaria de Mataripe; o oleoduto São Paulo-Campinas; os gasodutos Rio-Belo Horizonte, Macaé-Campos e Macaé-Cantagalo, no Rio de Janeiro; oleodutos em Santa Catarina e Bahia; plantas de coque e tratamento de diesel em várias refinarias; produção de petróleo em Marlim, Albacora, Barracuda, Marimba, Bijupira-Salema, Caravela, Coral, Tubarão e muitos outros.
Dentre estes 270 empreendimentos, há alguns, ainda na fase de estudos de viabilidade, adequados à formação de parcerias. Exemplos são: complexo gás-eletricidade de Urucu, na Amazônia; odeoduto Goiânia-Cuiabá; plantas industriais em refinarias; além do empreendimento Brasil-Bolívia, na área de gás natural, que já está em estágio bem adiantado de negociações com parceiros nacionais e internacionais.
Estes são os números e um breve resumo da história do petróleo no Brasil.

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