São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Personagens que podem melhorar o astral

ALOYSIO BIONDI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Neste ano que começa, os empresários poderiam deixar de lado o esporte favorito das elites –o pessimismo– e dizer a verdade sobre a economia e, assim, elevar o astral nacional. Eles já não têm como mentir sobre 93, pois as estatísticas mostram que a economia bateu recordes, ao contrário do que eles diziam (ver coluna do último domingo).
Agora, é torcer para que a mesma mudança de comportamento seja adotada por outros formadores de opinião que sempre estão na TV, nas rádios ou nos jornais espalhando o pessimismo.
O desfile de "arrependidos" do catastrofismo começaria assim:
Economistas - vão parar de dizer que o crescimento da economia foi uma "surpresa sem explicação". Eles precisam recuperar a honestidade intelectual e dizer à opinião pública que a recuperação econômica foi consequência da política ordenada pelo presidente Itamar Franco.
Não há "milagres" ou "surpresa" em economia. A recessão do governo Collor era uma escolha deliberada, a opção que o Planalto havia feito para tentar derrubar a inflação. Como se fabrica uma recessão? Reduzindo o consumo.
Foi o que o ministro Marcílio fez, cortando o poder de ocmpra da população, através dos reajustes salariais só a cada dois meses e congelamento do salário mínimo e das aposentadorias por quatro meses. De quebra, houve corte violento nos gastos públicos e arrocho do funcionalismo.
O governo Itamar mudou isto –com a oposição de alguns ministros da Fazenda. Foi matemático: a economia voltou a crescer.
Jornalistas - aqueles que negam o tempo todo qualquer avanço e arranjam explicações pessimistas para tentar inverter a realidade. Chegam a publicar maluquices engraçadas, como "as vendas batem recordes, apesar da recessão". Inventaram recessão com recorde de vendas? Está bom.
Desmemoriados - líderes políticos, empresariais, comunicadores, analistas-burocratas. Estão sempre inventando uma desgraça nova. Nunca confessam que a desgraça que anunciaram lá atrás não aconteceu.
Lá por abril/maio, criaram enorme confusão anunciando um déficit monstro de US$ 8 bilhões ainda para 93 (naquela época, eles ainda estavam inventando qual seria o déficit monstro de 94). A confusão foi tanta, que a ex-ministra Yeda caiu fora. Mailsons, Serras e outros sacerdotes do "Estado falido" passaram o ano martelando a tecla do déficit gigante.
Na semana passada, o governo foi obrigado a divulgar que, até novembro, o Tesouro acumulou não um déficit, mas um superávit. Nenhum desmemoriado teve a iniciativa de dizer à sociedade que o rombo de US$ 8 bilhões não existiu. Mentiram o ano inteiro...
Lincha-funcionários - há os vivaldinos e os ingênuos. Os vivaldinos sabem que há uma enxurrada de mentiras sobre o funcionalismo brasileiro. Aqui, o número de funcionários (por habitante) é quatro vezes menor que na França e dez vezes menor que na Inglaterra.
Os saldos foram achatados, ou quase zerados: técnicos da Secretaria do Orçamento ganham hoje três salários mínimos, ou CR$ 54.000, contra 30 salários mínimos, ou CR$ 540.000, que ganhavam há dez anos.
Os vivaldinos escondem estes dados. Querem desmoralizar o Estado, o governo, o funcionalismo –pois é a destruição da máquina governamental que abriu caminho para a sonegação gigantesca e os grandes negócios para grandes grupos. Os ingênuos não percebem que sua indignação está sendo manipulada. A sociedade tem é que brigar pela reestruturação do governo. Bom 1994.

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