São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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São-paulino ameaçou parar

DA REPORTAGEM LOCAL

Telê Santana desfruta da imagem construída para si mesmo, a de técnico que morre abraçado as suas convicções, indiferente às opiniões alheias. A posição crítica, disparando contra todos indistintamente, garantiu-lhe uma série de inimigos –e junto a fama de defensor do futebol bem jogado.
Só no ano passado, Telê discutiu com árbitros, dirigentes, torcedores, outros treinadores, imprensa, e até com membros da própria família –não admitiu ver a nudez da sobrinha Marília Costa Silva, na revista "Playboy".
No rastro das denúncias políticas que marcaram o ano, Telê aproveitou para tentar varrer o que acreditava ser a sujeira do futebol. Indignado com a atuação do árbitro José Aparecido de Oliveira em um jogo contra o Bragantino, comprou a briga. "Cale a boca", ordenou Aparecido. "Não sou sua mulher, nem seu filho, para você me mandar calar a boca", rebateu.
A indisciplina custou-lhe um julgamento na Justiça Desportiva. Telê não se emendou: prometeu abandonar o futebol se fosse condenado. Ao ser criticado pelo presidente do São Paulo, Mesquita Pimenta, de que falava demais, não se apertou. "Reclamo para defender os direitos do clube a que pertenço", respondeu ele, condenado a pagar uma multa.
Sustentar sua convicção custou-lhe outra polêmica, em março, com Carlos Alberto Parreira. Os dois travaram um ácido diálogo no programa "Cartão Verde", na TV Cultura. "Sou contra a violência, mas às vezes temos que jogar duro, sem nos acovardar", disse Parreira, justificando a truculência da seleção contra a Argentina. "Ele diz que vai mandar bater. Eu não diria isso", reagiu Telê. Foi o bastante para enterrar a troca de elogios, que marcava o programa até então. Antes de confrontar Wanderley Luxemburgo, o técnico são-paulino bateu de frente também com Mário Sérgio, que ascendia no Corinthians.
Um mal-entendido detonou a briga: revoltado com uma suposta crítica de Telê à sua iniciação, Mário Sérgio pôs em dúvida as qualidades técnicas do rival. Apesar de evitar uma polêmica e encerrar a discussão com um aperto de mão, Telê foi taxativo: "Sei que ele não é meu amigo, mas não me importo".
A soma de críticas distribuídas, Telê se municiava com títulos. O suficiente para terminar o ano com uma série de exigências atendidas: férias prolongadas, mesmo com o início do Campeonato Paulista. "Só vou me preocupar com torneios interessantes", disse, alfinetando a competição. Nem durante a Copa do Mundo, Telê vai se calar –acertou um contrato com o SBT para ser comentarista.

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