São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Outro presidente minoritário?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A pesquisa sobre a sucessão presidencial que a Folha publica hoje sugere uma perspectiva terrível: o presidente eleito emergirá das urnas em minoria em relação ao eleitorado total, tal como ocorreu em 89 com Collor.
Agora, se as urnas de novembro repetirem os resultados da pesquisa do Datafolha, Lula também ficará aquém dos 50%, oscilando perto disso em todas as três situações dedo turno propostas aos pesquisados.
É razoável supor que, se Lula chegar mesmo ao segundo turno, mas for derrotado, seu adversário, qualquer que seja, tampouco obterá a maioria absoluta dos votos. Ou, visto de outra forma: no desenho eleitoral possível de se enxergar hoje, qualquer presidente eleito racha o país mais ou menos ao meio. Metade terá votado nele, mas a outra metade lhe será hostil ou, no mínimo, indiferente.
Pior ainda: é igualmente razoável supor que, na eleição para o Congresso, vai se repetir a atomização hoje existente. Na melhor das hipóteses, a fragmentação será apenas menor do que a existente, mas parece remota a hipótese de que um partido, qualquer que seja, consiga a maioria absoluta.
Por isso, é quase impensável imaginar-se que o partido do presidente eleito consiga, além de elegê-lo, fazer também maioria no Parlamento.
Corre-se, portanto, o risco de, outra vez, não surgir uma proposta hegemônica devidamente abençoada pelas urnas. A menos que, no já curto espaço que resta até a votação, surja uma improvável unanimidade nacional, parece claro que partido algum, liderança alguma, vai conseguir governar sozinha. Pior: não se desenham coligações ou sequer entendimentos capazes de permitir, após a eleição, um governo de alianças maduras o suficiente para conduzir uma proposta majoritária no eleitorado.
PS - O ano de 94 será eletrizante (fim da CPI, revisão constitucional, URV, Copa do Mundo, eleições gerais). Por isso, concedo ao leitor um mês de férias, a partir de amanhã, para preparar o fígado. Que 94 seja melhor do que 93 e pior do que 95.

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