São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994 |
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Estúdios e editoras descobrem poder cultural das minorias étnicas nos EUA
HÉLIO GUIMARÃES
Rotulados como afro-americanos, chicanos, latinos, asiático-americanos, americanos-nativos etc., os grupos étnicos vêm tomando de assalto os grandes estúdios e editoras para provar que o dinheiro pode vir das cores mais insuspeitas. A exemplo dos negros, os hispânicos e os asiático-americanos (chineses, filipinos, japoneses etc) cada vez mais tiram sua produção cultural dos guetos para responderem por produtos, digamos, da primeira linha da indústria cultural. A escritora de origem chinesa Amy Tan, filha de imigrantes chineses, é o mais claro indício de que a cor, cada vez mais, importa. Com dois livros publicados, ambos frequentadores da lista de mais vendidos do "New York Times" e anunciados como produto de uma "Asian-American" (asiático-americana), Tan acaba de estrear em Hollywood com o filme "The Joy Luck Club" (baseado no livro lançado no Brasil como "O Clube da Felicidade e da Sorte", editado pela Rocco). História da relação conflituosa entre uma mãe imigrante e uma filha já nascida nos EUA, o filme foi produzido em Hollywood e dirigido por um outro chinês que produz nos EUA, Wayne Wang. Imigrantes em Hollywood não são novidade. Novidade é a origem dos imigrantes –ou filhos, ou netos de imigrantes– que têm chegado ao "mainstream" da indústria cultural. A origem do fluxo de imigração, nos anos 30 e 40 localizado na Europa, de onde diretores e técnicos fugiam do nazismo e da guerra, nos últimos anos têm se deslocado para o Oriente e para as Américas. Ano passado, o mexicano Robert Rodriguez conseguiu que a Columbia Pictures distribuísse o filme de produção mais barata da história do estúdio. "El Mariachi", que segundo seu diretor custou US$ 7 mil, chegou aos quatro cantos do mundo. Mas nada até agora se compara ao fenômeno "Como Agua para Chocolate". O filme, dirigido pelo mexicano Alfonso Arau, acaba de bater o recorde de bilheteria de um filme estrangeiro nos EUA, com arrecadação de US$ 21 milhões só nos EUA. O filme baseia-se no livro de Laura Esquivel, primeiro fenômeno de circulação massiva de uma obra editada em espanhol nos EUA. Pode-se argumentar que os consumidores de livros sejam os milhões de imigrantes hispânicos radicados nos EUA. Não é bem assim. A edição americana, em inglês, ficou 30 semanas na lista dos mais vendidos do "New York Times". E o fenômeno ultrapassa as fronteiras norte-americanas. "Como Agua Para Chocolate" está há mais de quatro meses em cartaz em São Paulo e são raros os que saem do cinema sem dizer: "É lindo!". Próximo Texto: Modelo vem dos movimentos dos anos 60 Índice |
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