São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Modelo vem dos movimentos dos anos 60

DA REPORTAGEM LOCAL

A chegada de escritores e cineastas asiáticos e hispânicos ao topo da indústria cultural é um dos sintomas do aumento da população de imigrantes recentes nos EUA. Cada vez mais, essa população produz e encontra canais para difusão de seus trabalhos e público disposto a consumi-los.
Segundo Nellie Wong, professora de estudos asiático-americanos na Universidade da Califórnia em Berkeley, uma das universidades pioneiras em estudos étnicos, o boom da produção cultural de imigrantes nos EUA começou a se configurar no final dos anos 60. Um fator importante para isso foi a mudança das leis de imigração e a facilitação da entrada de imigrantes nos EUA nos anos 60. Desde então, a população asiático-americana (que inclui principalmente japoneses, chineses, coreanos e filipinos) tem dobrado a cada dez anos.
Segundo Nellie Wong, "a formação de uma identidade entre os asiáticos e entre outras comunidades imigrantes nos EUA teve como modelo os movimentos negros dos anos 60". Para Shelley Wong, professora de literatura asiático-americana na Universidade de Cornell, na costa leste dos EUA, esses movimentos criaram uma polarização da sociedade norte-americana entre negros e brancos e começou a se pensar num modelo de minoria que, para os brancos, não era exatamente o modelo negro. Foi quando se prestou mais atenção aos asiáticos, que formavam um grupo em ascensão social e econômica.
Nellie Wong considera que fenômenos como Amy Tan e Maxine Hong Kinston –outra escritora asiático-americana radicada na Califórnia– dão uma idéia distorcida do que sejam os asiáticos-americanos nos EUA hoje. "Há a tendência de pensá-las como representativas de todo o resto, ou de que são as melhores, o que não é verdade."
Segundo Nellie, há uma imensa produção de asiáticos-americanos marginal à indústria cultural e com fortes características de militância étnica. Wong não poupa críticas à produção literária que chegou ao "mainstream". "Os livros de Amy Tan agradam especialmente aos brancos, interessados na China como algo exótico. Eles reforçam os estereótipos de atraso e irracionalidade associados à cultura oriental."
Shelley Wong acha que o sucesso de Amy Tan, por exemplo, está relacionado a questões de gênero tanto quanto a questões étnicas. "Hoje há um mercado imenso e muito receptivo a histórias sobre mulheres e sobre relações entre mães e filhas. Isso não só entre asiático-americanos, mas em todos os grupos."
Além da militância étnica ou feminista, Shelley destaca um autor de origem chinesa, David Wang Louie, que em 1991 publicou um volume de contos, "Pangs of Love", que ela aponta como sintoma de uma mudança do mercado em direção a questões mais universais. "Muitos dos personagens de suas histórias não são ostensivamente asiático-americanos. O livro foi recebido com um certo alívio, porque finalmente alguém publicou algumas coisa que não tratava da opressão sofrida pelos imigrantes asiático-americanos", diz Shelley. (HG)

LEIA MAIS
sobre o boom de artistas imigrantes nos EUA à pág. 5-3.

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