São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Smilla vê a neve

ZECA CAMARGO

Entre as coisas menos prováveis que poderiam ter acontecido em 93 estava o fato de um livro de um autor dinamarquês ser um dos sucessos do ano nos Estados Unidos. Mas Peter Hoeg é bom mesmo em aprontar surpresas –nas histórias que escreve e nas etapas da sua carreira. Assim, seu segundo livro, "Smilla's Sense of Snow", conseguiu ser apontado como um dos melhores cruzamentos recentes entre best seller, thriller psicológico e um pouco de literatura.
O livro tem dois títulos em inglês –fora o original em dinamarquês "Froken Smillas Fornemmelse for Sne". Na Inglaterra ele saiu como "Miss Smilla's Feeling for Snow". Em português, ficaria "O Sentido para Neve da Senhorita Smilla" –um daqueles nomes felizes que quase já bastam para despertar a curiosidade do leitor.
Por sorte, o interesse não fica só no título. A partir de uma morte aparentemente acidental de um garoto, a heroína Smilla Quaarigaaq Jaspersen se envolve numa complicadíssima história de suspense nos ainda exóticos cenários de gelo da Groenlândia.
Misturados a essa trama sedutora (por vezes tão confusa que quase convida ao abandono da leitura), Hoeg vai dando lições de solidão. Mas no lugar de mostrar Smilla como uma mulher fria (sem trocadilho), ele oferece o melhor retrato de alguém fortalecido pelo isolamento.
Smilla só se relaciona bem com a neve. Ela conhece cada nuance de cor, cada relevo congelado, cada floco que cai do céu. Com essa relação silenciosa o livro poderia ser um exercício de monotonia. Mas "Smilla" (ainda inédito no Brasil) tem a agitação justa para detonar um vulcão.

Texto Anterior: Ciclo reencontra o grande cinema italiano
Próximo Texto: Um elogio à solidão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.