São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994 |
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Retrospectivas não servem para informar
NELSON ASCHER
Durante todos os momentos em que se permitia às imagens ou à sua combinação falarem por si mesmas, a pequena tela funcionava. Por outro lado, quando o texto assumia a dianteira ou quando se impunha às imagens alguma idéia advinda dele, chegava-se perto de desastre. Que de fato aconteceu logo no primeiro bloco, com a péssima idéia de apresentar os avanços científicos e tecnológicos do ano conjugados com um discurso pseudo-religioso referente aos sete dias da criação. O misticismo kitsch da Globo, acendendo eternamente uma vela para Deus e outra para o diabo, acaba em geral queimando seu próprio filme. Mas houve também excessos entre as imagens. Assim, dedicar toda uma seção aos acidentes aéreos do ano sem maiores comentários ou explicações reduziu uma questão séria à dimensão de "gags" sádicas. Temas Os temas nacionais mereceram, em todos os sentidos, o melhor jornalismo de que a Globo é capaz e, embora continuasse se apegando à sua versão parcial a respeito da descoberta de PC Farias em Londres, a ênfase dada por ela ao seu "furo" –que foi sem nunca ter sido– foi suficientemente modesta para patentear um recuo envergonhado de sua parte. A emissora só consegue abordar ciência e tecnologia segundo o prisma do programa "Fantástico". Mas um assunto cuja cobertura tem piorado é política internacional. O conflito na Somália e a paz no Oriente Médio, o golpe de Ieltsin e a guerra na Bósnia: tudo isso mereceu minguados minutos e quase nenhuma explicação. Ainda assim, cabe observar que a função de uma retrospectiva dessas não é informar, mas lembrar às pessoas devidamente informadas quão esmagadora é a quantidade de notícias que elas consumiram no ano. Texto Anterior: 'Primeiros Musicais' corteja imagem vulgar Índice |
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