São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Chiapas é o Estado mais pobre do país

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A existência de grupos guerrilheiros em Chiapas tem dois motivos: o Estado é o mais pobre do México e serviu de base para a guerrilha da vizinha Guatemala. "A maior razão é a completa marginalização da região", afirmou ontem Gonzalo Ituralde, pároco de San Cristóbal de las Casas –principal foco da rebelião em Chiapas.
O analfabetismo no Estado é três vezes maior que a média do resto do país (30%). O Estado também tem um terço das casas sem energia elétrica no México. De seus 111 municípios, 94 são considerados de "alta marginalização", de acordo com um informe do Conselho Nacional da População.
Até a ofensiva do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) em Chiapas, o governo do México procurava negar a existência de grupos guerrilheiros no país, dados como desaparecidos desde a década de 70, com a captura de seus principais líderes. Dois episódios recentes, no entanto, contrariaram a versão oficial.
Em abril de 1990, o assassinato de dois funcionários do jornal "La Jornada", de Chiapas, revelou a existência de um grupo denominado Partido Revolucionário Trabalhista Clandestino União do Povo. Em maio de 1993, a revista "Proceso" revelou que as Forças Armadas mexicanas empreenderam uma operação em Chiapas para capturar guerrilheiros que haviam atacado tropas regulares do Exército na região.
O padre jesuíta Mardonio Morales, que durante 30 anos trabalhou no Estado, disse à "Proceso" que os grupos maoístas Organização Camponesa Emiliano Zapata e Aliança Nacional Camponesa Independente Emiliano Zapata doutrinaram a população local para integrar a guerrilha.
"A existência de guerrilheiros não é de agora, mas sim de pelo menos oito anos atrás", disse Morales. Associações locais de comerciantes denunciaram a presença dos grupos em Chiapas e chegaram a pedir intervenção do Exército. Não foram atendidos.
O lema do EZLN, "terra e liberdade", é comum a todos os grupos inspirados em Emiliano Zapata, herói da Revolução Mexicana (1910). É também semelhante ao de pelo menos dois grupos guerrilheiros guatemaltecos que instalaram suas bases em Chiapas.
Um deles, a Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca, tido como o mais antigo movimento subversivo da América Latina, envolveu-se em duras batalhas contra o Exército da Guatemala, das quais resultou o êxodo de 100 mil índios guatemaltecos. Estes índios estariam hoje lutando ao lado dos índios mexicanos.

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