São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guerrilha se prepara há 10 anos, afirma líder

DA "ANSA"

"Estamos nos preparando nas montanhas há dez anos. Não somos um movimento improvisado", disse o "comandante Marcos", líder da revolta dos índios mexicanos em entrevista ao jornal italiano "L'Unità".
Gianni Proiettis, que entrevistou Marcos em San Cristóbal de las Casas (onde começou a rebelião), diz que ele "se expressa com a clareza de um intelectual acostumado a se comunicar com pessoas simples".
Marcos assim definiu seu movimento: "Fazemos parte do Exército Zapatista de Libertação Nacional. Exigimos a renúncia do governo federal e a formação de um novo governo de transição, que convoque eleições livres e democráticas para agosto de 1994. Exigimos, também, soluções para os principais pedidos dos camponeses de Chiapas: pão, saúde, educação, autonomia e paz. Os índios sempre viveram em guerra, porque até hoje as guerras foram contra eles. Agora é a hora de eles lutarem contra os brancos. Em todo caso, terão a oportunidade de morrer lutando e não de diarréia, como morrem normalmente os índios de Chiapas".
Perguntado porque escolheu o dia 1.ª de janeiro para a revolta, Marcos respondeu: "É evidente que a data está relacionada com o Tratado de Livre Comércio (nome em espanhol para o Nafta, Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), que para os índios representa o começo de uma matança internacionalizada".
Sobre uma eventual intervenção norte-americana, Marcos afirmou: "Antes, os EUA usavam a desculpa da URSS, temiam infiltrações soviéticas no nosso país; agora, o que podem pensar de um movimento que reclama apenas justiça social? Já não podem pensar que é o ouro de Moscou que nos financia, visto que Moscou não existe, basta perguntar a Boris Ieltsin (presidente russo)".
"Os americanos têm muito o que fazer diante das condições de miséria dos índios e da sede de justiça. No México, todo o sistema social se baseia na injustiça em relação ao índio. A pior coisa que pode acontecer a um ser humano é ser índio, com toda carga de humilhação, fome e miséria", afirmou Marcos.

Tradução de Lise Aron

Texto Anterior: Rebelião de indígenas no México faz 100 mortos
Próximo Texto: Chiapas é o Estado mais pobre do país
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.