São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Dinossauros à vista

Os dinossauros da esquerda petista aumentaram sua fatia de poder nas eleições internas do partido, no ano passado. E suas pegadas pré-históricas já podem ser vistas no projeto de governo do partido de Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo menos é o que se pode depreender da entrevista, publicada nesta Folha, de César Benjamin, um dos coordenadores da equipe que elabora o programa econômico de um governo Lula.
O virtual candidato petista à Presidência vinha nos últimos meses buscando reduzir as resistências ao seu nome junto ao empresariado. O embrião do programa econômico do partido vai na contramão desse esforço.
César Benjamin, do setor ortodoxo do petismo, critica as privatizações com um argumento falacioso: a venda das estatais estaria criando cartéis. Ora, esse é um problema de outra ordem. Se, com a privatização, aumentou a concentração da propriedade no setor siderúrgico, cabe ao Estado garantir a concorrência e abrir o setor à competição internacional. Intolerável é que a população seja forçada a abrir mão de serviços essenciais para financiar massas falidas ou ineficientes.
Também a proposta de alongar o perfil da dívida pública deve ser vista com cuidado. É preciso não deixar dúvida de que não se cogita de um calote –uma quebra inadmissível de contratos. Declarações como as de Benjamim podem minar a confiança nos papéis do governo, o que agravaria ainda mais as dificuldades de financiamento do Estado.
A volta da puída tese da moratória da dívida externa é outra idéia no mínimo inoportuna. O país vem regularizando suas relações com a comunidade financeira mundial e aumentando a confiança de possíveis investidores. Em termos pragmáticos, voltar a falar em suspensão de pagamentos externos é jogar fora o esforço de corrigir desatinos que duraram quase uma década. E mais: é desprezar capitais indispensáveis.
É muito preocupante que o PT –até agora o preferido nas prévias para a Presidência– adote teses que a evolução da economia mundial tem demonstrado estarem superadas. O próximo presidente assume em 95 –a casa ainda vai estar muito desarrumada. E essa casa é uma loja de louças, frágil demais para suportar passos de dinossauros.

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