São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Prefeitura põe 'guarda espantalho' na marginal

DENISE ABADE; VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Prefeitura põe 'guarda-espantalho' na marginal
DENISE ABADE
VICTOR AGOSTINHO
A Prefeitura de São Paulo quer instalar em cabines de controle de trânsito das marginais Pinheiros e Tietê um boneco vestido com roupas de "marronzinho". Ontem o boneco estava na cabine sob a ponte dos Remédios (zona oeste). Gilberto Lehfeld, presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), diz que a idéia do boneco, batizado de "Ricardão", é criar um efeito "espantalho" que iniba o motorista que trafega em alta velocidade.
"É melhor que espantalho, é espantalho móvel", diz Lehfeld. Ricardão vai ser deslocado periodicamente pelas 15 cabines de controle, numa iniciativa que se baseia, segundo Lehfeld, em experiências desenvolvidas no Japão e nos Estados Unidos. O "projeto Ricardão" vinha sendo desenvolvido desde março do ano passado.
Lúcio Gregori, ex-secretário dos Transportes, afirma que a idéia funciona no Japão mas não deve funcionar em São Paulo. "Em Tóquio, onde existem 18 mil fiscais de trânsito, as cabines funcionaram durante muito tempo com gente dentro. Os bonecos lá só são instalados depois que os motoristas se acostumam com a fiscalização. Em São Paulo, que tem cerca de 800 funcionários na operação, não é bem assim que está acontecendo."
Para a psicanalista Fani Hisgail, num primeiro momento, a iniciativa deve ter um efeito de "interdição", fazendo com que os motoristas realmente reduzam a velocidade. Mas depois pode representar incentivo à "transgressão", já que existem poucos fiscais atuando e os motoristas vão ficar sabendo da presença do boneco nas marginais. "Parece piada", afirmou.
Na opinião de Roberto Scaringella, diretor do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito, se o motorista tiver a certeza de que há um boneco na cabine, é melhor não ter nem boneco, nem cabine. "Sai mais barato. Essa certeza acaba com o conceito."
"O boneco servirá para criar o que chamamos de 'efeito auréola' no motorista. Pesquisas comprovam que quando o motorista vê a fiscalização ele reduz a velocidade por pelo menos três quilômetros", diz Lehfeld.
O boneco vai ser colocado em locais sem congestionamento. Vai "trabalhar" das 7h às 17h30, inclusive nos finais de semana. A permanência em cada cabine ainda não foi definida.
Ricardão custou à prefeitura CR$ 2.000,00, pagos no início de dezembro a uma loja que vende manequins. "Custou mais barato porque só tem meio corpo e estava com os braços quebrados", afirma Lehfeld.
A experiência da prefeitura com o Ricardão deve demorar seis meses. Se o conceito surtir efeito, a CET pretende sofisticar o boneco, colocando mecanismos que permitam mover os braços.
Dados da CET mostram que acontecem 800 acidentes com média de 173 mortes por mês nas marginais.

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