São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Frio no verão é considerado 'normal' por especialistas

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

As temperaturas registradas neste mês de janeiro podem assustar as pessoas que fizeram planos para dias de sol e calor. Mas, para os meteorologistas, este é um janeiro normal.
Ontem, a temperatura mínima registrada em São Paulo foi de 15,5 graus Celsius, um frio razoável para uma cidade situada na zona subtropical, embora não tão gelado quanto a menor mínima para um mês de janeiro nos últimos 32 anos, como foram os 11,9 graus registrados em 1.º de janeiro de 1962. A mínima em janeiro do ano passado foi registrada dia 20, quando a temperatura chegou a 16,5 graus.
"Não é anormal. O pessoal é que associa calor com verão e frio com inverno", diz Ernesto Alvin, do 7.º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia. Segundo os especialistas, a "sensação de frio" que as pessoas estão sentindo ocorre porque o mês de novembro e o início do mês de dezembro do ano passado foram mais quentes que o habitual, e elas esperavam mais calor ainda com o início do verão.
"O que acontece agora não é nada de excepcional. A memória das pessoas é curta", diz Carlos Nobre, chefe do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O verão, porém, ainda promete surpresas climáticas, já que previsões a longo prazo não são confiáveis. Ironicamente, as previsões do tempo só tenderão a ser mais precisas depois do verão, quando o Inpe receber seu supercomputador em abril próximo.
"É um fenômeno comum ter essas chuvas extensas e prolongadas no mês de janeiro", diz Pedro Leite da Silva Dias, professor da USP que está hoje fazendo estágio no Centro Meteorológico Nacional dos EUA, em Washington, para aprender processos operacionais ligados ao uso de supercomputador em previsões climáticas. Segundo Dias, o fenômeno El Nino –que esquenta as águas do oceano Pacífico e aumenta a chuva no sul do Brasil– foi mais forte em 92 do que agora.
A culpa pelas chuvas e pelas baixas temo do crime vem do suspeito de sempre: as "frentes frias", massas de ar mais frio que se originam ao sul (nem sempre tão ao sul que mereçam ser chamadas de "polares") e trazem mudanças bruscas de temperatura. O termo "frente" se refere justamente à essa ruptura. Quando chega uma massa de ar frio, não costuma ocorrer uma mistura gradual com o ar mais quente, e sim um conflito. Nessa fronteira frio/quente as chuvas se concentram. "É comum o tempo mudar dez graus em algumas horas, mesmo no verão", diz Nobre.
O supercomputador do Inpe deverá ser instalado em abril e permitirá uma previsão mais precisa do tempo até cinco, no máximo sete dias adiante. Quanto mais distante no futuro, menos confiável a previsão.

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