São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Família de Zezé se desespera e foge

Sobrado está fechado com cadeado
LUIZ CARLOS DUARTE

LUIZ CARLOS DUARTE; RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eles estavam desesperados, trocaram de roupa, despediram-se de mim e desapareceram", disse a vizinha mais próxima da família de José Benedito de Souza, 33, o Zezé. Sem se identificar, ela contou que o sumiço aconteceu logo depois do assassinato do sindicalista Osvaldo Cruz Júnior, anteontem à tarde.
Foram embora a mulher de Zezé, Maria Santa, a Santinha, os quatro filhos do casal (Laura, 12, Léa, 10, José, 8, e Romero, 4,) e um irmão de José Benedito de Souza.
A família morava havia sete meses em um sobrado branco, com três quartos e garagem, na rua Sigma, n.º 10, Vila Luzita, na periferia de Santo André. Ontem à tarde, o sobrado estava vazio e um cadeado trancava o portão.
Segundo a vizinha, que mora nos fundos, Zezé era uma pessoa divertida, que gostava de dançar e ouvir música. Nos fins-de-semana, era comum ouvir música sertaneja –Amado Batista, Leandro e Leonardo, por exemplo.
Ela e outro vizinho, o vendedor José Gonçalves, 50, negaram que Zezé vivesse embriagado. "Ele não deixava faltar nada em casa. Tinha carne todo dia", disse a vizinha. "Era pacato, praticamente não atuava na vida da comunidade. Vez ou outra ia ao bar, mas nada de exagero", afirma Gonçalves.
"É coisa de nascença, de quem é lá do Nordeste e se vê ofendido." Assim Cícero Bezerra da Silva, 44, o secretário-geral do Sindicato dos Condutores definiu o ato de Zezé.
Tido como uma dos principais amigos de Zezé e confundido até como parente, Silva negou que Maria Santa fosse sua sobrinha. "Só temos amigos e parentes comuns no Nordeste." Zezé é de Bodocó (PE). Silva é de Nova Olinda (CE).
Para Silva, "não há nada do mundo que justique a morte de alguém, mas Zezé tinha motivos para ter raiva de Cruz". Segundo ele, Cruz constantemente xingava Zezé, fazendo referências à sua origem nordestina.
Ainda segundo Silva, Zezé foi ameaçado durante assembléia realizada em 1.º de novembro passado. Naquele dia, partidários de Cruz teriam agredido o militante José Wagner Alves. Depois da confusão, teria surgido então o seguinte diálogo: "Zezé, você será o próximo", disse Cruz. "Não bate, porque não gosto de apanhar não", respondeu Zezé.
Foi Silva que levou Zezé para militar no sindicato, através dos seminários de formação indical, há três anos. Antes disso, ele trabalhou como servente na construção civil.
"Ele ainda é totalmente virgem no sindicalismo. Não sabe distinguir tendências, nem o que é CUT e PT", disse Silva.

Colaborou RODRIGO VERGARA, da Folha ABCD.

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