São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Atropelo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Estão acabando com a CPI. A televisão demorou um pouco, mas acabou por retratar o óbvio. Ontem, as emissoras todas, menos a Globo, já falavam em "atropelo", na expressão usada por Bandeirantes e Cultura. Falavam em trabalho "inútil", na expressão da Record. Em "maratona de depoimentos" e "fim de campeonato", na visão do SBT.
Durante esta semana e, muito provavelmente, até o fim da semana que vem, tudo o que a comissão vai fazer mesmo é "passar atestado de idoneidade", segundo o correspondente do Opinião Nacional. Foi o que fez, ontem, outra vez, com gente como José Carlos Aleluia, que era citado nos documentos da Odebrecht como um lobista em pele de deputado.
Foi como descreveu o Jornal Bandeirantes, que deu trechos do depoimento do deputado. Quase todos os noticiários mostraram imagens de Aleluia. Nelas, invariavelmente, ele apareceu superior, inatingível, desafiador. Gritando "imbecil" vezes seguidas para tentar atingir, indiretamente, um ou outro interrogador. No fim, para alguns, acabou inocentado.
Foi inocentado, por exemplo, pelo Jornal Nacional. Segundo a correspondente, os parlamentares da CPI "não descobriram nada contra o deputado". Mas ele é do PFL, é da Bahia, e não dava para esperar mais.
Não foi esta, de qualquer maneira, a opinião da âncora Roseli Tardeli, na Cultura. Para ela, "José Carlos Aleluia se saiu bem porque a CPI não estava preparada". Para o Jornal da Record, em manchete, a mesma coisa: "A falta de documentos para o interrogatório desarmou a CPI do Orçamento." Ou seja, é o "atropelo" fazendo estrago, de novo.
Faltando uma semana para encerrar os trabalhos, devido ao cronograma armado por quem só pensa na revisão, a CPI do Orçamento está para perder o pouco de respeitabilidade que alcançou. O plenário vazio, nos depoimentos de ontem, é um sinal. Como disse o correspondente Fábio Pannunzio, da Bandeirantes, "não há favorecimento intencional, mas, que parece, parece."
Boa vontade
O Opinião Nacional lembrou que a coisa anda tão fácil que "alguns parlamentares tentam antecipar seus depoimentos". Citou Saldanha Derzi. Poderia ter citado Ricardo Fiuza, que pediu para dar novo depoimento. Do jeito que a coisa vai, até João Alves acaba escapando.

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