São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Depoimentos pouco acrescentam à CPI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI do Orçamento fez ontem uma maratona de depoimentos, sem conseguir informações significativas. A comissão voltou a sentir falta de investigações sobre o patrimônio e o sigilo bancário dos parlamentares suspeitos.
O depoimento mais importante foi o do deputado federal José Carlos Aleluia (PFL-BA), o que mais aparece nos papéis apreendidos na casa do diretor da empreiteira Odebrecht Ailton Reis. Nestes papéis, Reis relata conversas que teria tido com Aleluia, na qual o deputado teria se comprometido a negociar no Congresso aprovação de verbas para obras da empreiteira.
Aleluia disse que seu "relacionamento com a contrutora é antigo, profissional e transparente", porque já dirigiu órgãos do governo que têm contratos com a empreiteira. Ele disse desconhecer os documentos de Reis e negou ter trabalhado para aprovar emendas beneficiando a Odebrecht. Sem informações sobre o sigilo bancário e patrimonial de Aleluia, a CPI não teve elementos para questioná-lo.
Saldanha Derzi
A falta de informações atrapalhou também o depoimento do senador Saldanha Derzi (PRN-MS), que falou para um grupo de parlamentares designado pela CPI. Segundo a Subcomissão de Patrimônio, o senador não declarou em seu Imposto de Renda duas fazendas e um condomínio com 16 apartamentos. O senador afirmou que uma fazenda é arrendada e os outros imóveis foram vendidos. Prometeu enviar as provas para a CPI.
Derzi tem uma das maiores movimentações bancárias contatadas pela CPI nos últimos quatro anos: US$ 26,4 milhões. Apesar disto, a Subcomissão de Bancos da CPI considerou que os créditos do senador são compatíveis com sua renda de empresário.
Valdomiro Lima
O deputado Valdomiro Lima (PDT-RS) chorou, após ficar pouco mais de uma hora e meia no plenário da CPI do Orçamento. Ele foi inquirido por apenas três parlamentares e deu sempre a mesma resposta: não conhecia Ailton Reis nem qualquer outro diretor da Odebrecht nem fez emendas favorecendo a empreiteira. Sem patrimônio a considerar, Lima foi absolvido, ao final, pelo presidente da CPI, senador Jarbas Passarinho (PPR-PA).
Raquel Cândido
A deputada Raquel Cândido (PTB-RO) também chorou em seu depoimento à Subcomissão de Subvenções Sociais da CPI, mas não convenceu os parlamentares. Raquel declarou-se vítima de perseguições políticas, mas não conseguiu esclarecer as várias denúncias de irregularidades que envolvem a gestão da fundação que leva o nome de sua mãe, o Instituto Eva Cândido.
Paulo Portugal
O deputado Paulo Portugal (PDT-RJ) também prestou depoimento na Subcomissão de Subvenções Sociais. Ele é um dos fundadores da Sociedade de Proteção à Infância e Maternidade de Bom Jesus de Itabapoana (RJ). Esta entidade recebeu verbas sociais do Orçamento da União para construção de creches e de um hospital. O TCU (Tribunal de Contas da União) encontrou várias irregularidades na aplicação das verbas.
Jorge Mudalen
O deputado Jorge Tadeu Mudalen (PMDB-SP) foi o último parlamentar a depor. Seu depoimento começou às 19h20, com a presença de apenas oito dos 44 integrantes da CPI. A inquirição do parlamenmtar, que foi citado por José Carlos dos Santos e apareceu nos documentos da Odebrecht apreendidos pela CPI, não provocou muito interesse. Mudalen disse que não conhece ninguém da Norberto Odebrecht e que não apresentou nenhuma emenda que beneficiasse esta empresa ou qualquer outra empreiteira. Anunciou que está interpelando a construtora na Justiça pelo envolvimento do seu nome.
A CPI vai investigar a Jet Projetos e Construções, empresa da qual Mudalen já foi dono e que hoje pertence a parentes do deputado. Segundo o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), nos últimos três anos –período em que Mudalen se tornou deputado federal–, a empresa teve uma expressiva evolução patrimonial, construindo em Guarulhos um prédio de 30 apartamentos, avaliados em US$ 66 mil cada um, e adquirindo outros imóveis.

Texto Anterior: Embaixador defende país de críticas
Próximo Texto: Leia a parte final da senteça
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.